O Presságio
Claudio Nizzi (argumento)
Fabio Civitelli (argumento e desenho)
Mythos (Brasil, Outubro de 2010)
135x175 mm, 336 p., pb, brochado, 10 €
1. A cronologia não o revela mas a verdade é que uma vez concluída a leitura de O Oeste Segundo Civitelli, a vontade de ler algo desenhado por aquele autor foi irresistível.
2. Na pilha de leituras por fazer estava este tomo inicial da colecção Tex Especial Civitelli, que correspondia aquele pressuposto.
3. Para além disso, tinha dois outros atractivos: permitia ler a versão integral integral de uma das bandas desenhadas exploradas naquele livro teórico…
4. … e tinha também Civitelli como co-autor do argumento.
5. Algo raro na casa Bonelli, o que fazia deste Tex um dos exemplos mais próximos de “BD de autor” na cronologia do ranger, talvez só comparável aos volumes que integram a colecção Tex Gigante - que, no entanto, o desenhador nunca escreve….
6. E, se Civitelli é há muitos anos o grande desenhador de Tex, mostra neste O Presságio que poderia ser também um bom argumentista das histórias do ranger, não fosse aquela actividade demasiado absorvente.
7. A história, é sólida, sem pontas soltas, credível e ritmada e segue a estrutura normal deste western e alguns dos seus clichés – a vingança de um índio invejoso do prestígio de Águia da Noite, ataques a ranchos, militares corruptos ávidos de sangue, glória e dinheiro, a prisão de Tex sob falsa acusação, a amizade insuperável entre os protagonistas, diversos confrontos directos ou tiroteios, perseguições a cavalo, um longo e disputado duelo à faca…
8. … embora revele também algumas nuances que marcam a diferença.
9. Desde logo, o toque fantástico dado pela visão inicial (o presságio que o título refere) embora a sua concretização se revele demasiado cedo.
10. Depois, pelo (quase) envolvimento romântico de Tex com a bela viúva Alison (que completa o luto muito rapidamente, convenhamos…), o que levou muitos “texianos empedernidos” a suspirar por uma segunda senhora Willer.
11. Também, porque a sua extensão permitiu aprofundar o carácter das personagens secundárias, prolongar as cenas mais importantes, deixar respirar a narrativa quando era necessário, dando maior consistência ao todo e um outro fôlego à obra.
12. Escrito isto, volto à minha “guerra antiga” com a Mythos: este seria outros dos volumes a merecer uma edição em formato maior…
13. Sei que o mercado brasileiro recusou – por exemplo – a reedição em formato italiano do Almanaque Tex – mas os mercados também se educam…
14. Para além disso, as características de uma e outra edição são bem diferentes e a presença de Civitelli em São Paulo, quando esta foi lançada, poder-lhe-ia ter dado o impulso necessário…
15. Porque, graficamente – e a comparação das suas pranchas com as publicadas em O Oeste Segundo Civitelli prova-o – o traço do italiano merecia outro formato, maior, para poder ser melhor apreciado
16. Por algumas (poucas) liberdades em termos de planificação, pelo jogo de luz e sombra, pelo pontilhado que define os volumes, pelo traço fino e delicado, pela excelente gestão de grandes planos e de perspectivas mais ousadas, pela expressividade dos rostos, pela dinâmica das cenas, pelo realismo dos cenários, urbanos ou selvagens, pela bela Alison…
(Texto publicado originalmente em 18 de Maio de 2011, no Tex Willer Blog)
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