Há exactamente 50 anos, Astérix estreou-se em Portugal que foi o primeiro país não francófono a ler as aventuras da maior criação de Goscinny e Uderzo. Aconteceu no número inicial da revista “O Foguetão” e o seu sucesso entre nós foi crescente, tendo o seu mais recente álbum, “O Aniversário de Astérix e Obélix” (2009), tido uma invejável (a qualquer nível) tiragem de 75 mil exemplares.
“Um jornal crescido para os novos” e “um jornal novo para a gente crescida”, o “Foguetão”, em papel de jornal, tinha 16 páginas de grande formato (35 x 50 cm), e custava 2$50, sendo caro para a época. Oseu director era Adolfo Simões Müller, que depois de Tintin e Lucky Luke apresentava em Portugal Astérix, mais um grande herói da banda desenhada franco-belga, apenas ano e meio após a sua estreia na revista Pilote.
A título de curiosidade, refira-se que o “Foguetão”, o “semanário do ano 2000 que se lê em 1961”, incluía contos, concursos e secções de futebol (por José Águas), cinema, filatelia, actualidade ou passatempos. Em temos de banda desenhada, a par de Dan Dare (rebaptizado Capitão Marte), Sexton Blake, Jean Valhardi, Tanguy e Laverdure, Blake e Mortimer, Gaston Lagaffe (dito Zacarias) e Michel Vaillant (aliás Miguel Gusmão), era “introduzida uma novidade”, a publicação de “Tintin au Tibet”, exactamente assim, na versão original francesa para “agradar aos leitores que estudam francês”, dando-lhes “a conhecer a graça original do texto” e ajudando-os “a compreenderem um dos mais belos idiomas do mundo”!Para os que não liam francês, “no fim de cada página da série” apareciam “as legendas traduzidas e numeradas para melhor identificação”. A presença do original francês, não impediu, claro está, que na versão lusa o repórter fosse Tim-Tim, o seu cão Rom-Rom, e Haddock e Tournesol, respectivamente Rosa e Pintadinho…Apesar do elenco de luxo, “O Foguetão” durou apenas 13 números, tendo publicado as primeiras 14 pranchas (por vezes remontadas) de “Astérix o guerreiro gaulês”, sempre a preto e branco ou apenas com uma cor (verde, vermelho, lilás, castanho…), tendo o herói tido chamadas de capa nos números 9 e 13.
Com o final da revista (disponível integralmente na Hemeroteca Digital), a 27 de Julho do mesmo ano, “apesar das quase três dezenas de milhares de leitores entusiastas que desde a primeira hora nos acompanharam, as melhores histórias e secções passaram para as páginas do “Cavaleiro Andante”, segunda casa portuguesa de Astérix a partir do número 510, de 7 de Outubro de 1961.
Astérix viveria igualmente no “Zorro” (1963), “Flecha 2000” (1979 e 1985), “Jornal da BD” (1982) ou “BDN” (1990). A revista “Tintin”, a partir de 1969, juntá-lo-ia de novo ao herói que lhe dava nome (e também a Lucky Luke), tendo nas suas páginas, onde foram publicadas duas dezenas de histórias, tido pela primeira vez uma impressão à altura da sua qualidade, o que contribuiu sobremaneira para cimentar a sua popularidade no nosso país.
Antes disso, no entanto, o herói estreara-se em álbum, em 1966, quando a Editorial Íbis editou “Astérix o gaulês”. A primeira história de Astérix, ao longo dos anos, viria a conhecer mais três versões da responsabilidade da Livraria Bertrand, Meribérica-Líber e Edições ASA. Esta última faria igualmente uma edição dele em mirandês - “L Goules” -, acontecendo o memo com “O Grande Fosso” - “L Galaton”. A Difusão Verbo, o Círculo de Leitores e a Salvat foram também editores nacionais de Astérix, sendo que todas as edições juntas ultrapassam já a centena. A estas, há que juntar ainda mais de uma dúzia de livros derivados, dedicados a adaptações de filmes, jogos ou gastronomia…
Desde “A Rosa e o Gláudio” (1991), as aventuras de Astérix e dos restantes companheiros têm sido editadas em Portugal em simultâneo com as edições originais francesas, sendo que o secretismo, os prazos curtos e as questões de confidencialidade inerentes ao facto davam para criar uma grande aventura… aos quadradinhos!
Actualmente, a grande criação de Goscinny e Uderzo pertence ao catálogo da ASA, que desde 2005 tem no mercado uma nova tradução em que os nomes das personagens foram “aportuguesadas”, adaptando ao nosso idioma os trocadilhos que muitos deles contêm.
A par da actividade editorial, Astérix apareceu também sob mil e uma formas: vestuário, cromos, decalcomanias, figuras plásticas oferecidas com vitaminas, gelados (Olá) ou doces (Panrico, Phoskitos, Kinder), etc…
Entretanto, a propósito do meio século da presença de Astérix no nosso país, Maria José Pereira, directora do Departamento de BD da ASA, revelou que “as comemorações dos 50 anos de edição do Astérix em Portugal prolongam-se até ao próximo ano”, tendo sido iniciadas com “o lançamento da novidade “Vamos Procurar o Astérix” e a reedição de vários álbuns que se encontram quase esgotados”.
As grandes notícias são a disponibilização da versão portuguesa do site oficial de Astérix “no final de Maio”, quando “serão lançados três livros dedicados a personagens Astérix”, mais concretamente Obélix, Atrevidix Cleópatra, estando previstos mais seis volumes “até ao final do ano”. Esta colecção, “lançada em França pelas Éditions France Loisirs”, ficará completa com a edição “dos restantes nove títulos durante 2012”.
A propósito dos 50 anos de Astérix em Portugal leia também:
- Tónius, o Astérix português
- Maria José Pereira: “Astérix está associado ao nascimento do meu filho”
(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 4 de Maio de 2011)
Lembro-me muito bem do "Foguetão", jornal que constituiu uma absoluta novidade na época em que foi lançado, mas cujos leitores ultrapassavam largamente a faixa etária dos de outras publicações de BD, como o "Mundo de Aventuras" ou o "Cavaleiro Andante". E digo isto porque conheci vários desses leitores, alguns meus colegas de trabalho, todos já na casa dos 20 anos, mas que não perdiam nenhum número do dito semanário. Um dos nossos passatempos preferidos era concorrer aos problemas policiais, sob pseudónimo, claro, como era norma entre os "policiaristas" de então, e chegámos a classificar-nos nos lugares mais honrosos.
ResponderEliminarConfesso que, na altura, eu apreciava mais o Dan Dare (Capitão Marte), o Tanguy e Laverdure, o Blake e Mortimer (e até o Tintin) do que aquela que era talvez a maior novidade da revista: Astérix. Tenho a certeza de que o mesmo acontecia com a maioria dos leitores. Entre as séries humorísticas, poucas eram as que chegavam a alcançar um sucesso imediato e invejável, com excepção de Tintin (de facto, um caso à parte) e, em menor medida, Lucky Luke. Sem desprimor para os seus méritos, Astérix tardou a impor-se entre nós, ainda que tivesse transitado para o "Cavaleiro Andante", recheado de séries bem mais populares, mesmo nessa recta final (acabaria daí a alguns meses, no nº 556), e posteriormente para o "Zorro", onde surgiu a sua 2ª aventura: "A Foice de Oiro".
Não obstante, guardo do "Foguetão" uma boa lembrança, associada a um dos tempos mais felizes da minha vida, pois era pai há menos de seis meses.
Jorge Magalhães
Bem vindo caro Jorge Magalhães e obrigado por partilhar mais uma vez com os leitores de As Leituras do Pedro as suas memórias sobre a BD portuguesa.
ResponderEliminarTenho a certeza que dariam um livro muito interessante e fundamental para conhecer os quadradinhos nacionais e muitas das suas aventuras editioriais!
Abraço!