Penso
que não erro ao escrever que, há meia dúzia de anos - ponham-lhe
mais um ou dois anos, para atrás ou para a frente que o resultado
será o mesmo - não seria possível editar estes livros em Portugal.
Entretanto,
com o aumento e a expansão da oferta, edições como
Get Jiro!,
que fogem às habituais lógicas comerciais - tanto quanto é
possível aplicar o termo ‘lógica’ à edição de BD - acabam
por encontrar o seu lugar e, acredito, o seu nicho de leitores.
Que,
no caso presente, sairá certamente do curto (?)
‘núcleo duro’ dos leitores tradicionais de BD, atravessando
transversalmente vários segmentos, por força do nome de Anthony
Bourdain como (co-)criador e (co-)autor do projecto.
Mas…
- tantas vezes surge este ‘mas’ - avancemos por partes.
No
primeiro volume, Todos
querem apanhar o Jiro!,
somos introduzidos numa Los Angeles à frente do nosso tempo, na qual
o culto pela comida ultrapassa os limites do imaginável e do
racional. A procura pelos restaurantes mais afamados, o desejo de
comer os pratos dos melhores chefs,
leva a excessos e desencadeou uma verdadeira guerra culinária, que
envolve restaurantes famosos, os seus proprietários e gangues, e no
centro da qual se encontra o protagonista, o renomado
chef
de sushi
Jiro.
Partindo
de um mundo que conhece bem - o da culinária - Anthony Bourdain, com
Joel Rose, extravasa sem limites a paixão pela comida e as
consequentes rivalidades, para nos presentear com uma obra em que o
humor negro, a acção, a surpresa e muito sangue se encontram ao
virar de cada página, tornando divertido, estimulante e até
viciante uma leitura da qual muitos - eu incluído - se aproximarão
com muitas dúvidas.
Langdon
Foss, com um traço caricatural - com excessos, que aqui e ali
evocaram em mim o traço
de François Boucq, que teria sido uma outra
boa escolha
para este tipo de obra - consegue potenciar o efeito
chocante de algumas cenas, as reacções coléricas de
outras
e dar uma adequada vitalidade ao todo.
Mas…
- de novo - por vezes o sucesso ou, pelo menos, o bom desempenho
(comercial) de um projecto auto-conclusivo e auto-suficiente por si
só, levam a que - autores? editores? …? - procurem repetir a
receita - belo termo, no presente contexto! - em novos volumes. Dizem
as regras de extensão de séries que um dos caminhos mais fáceis e
certeiros é contar o passado dos protagonistas, explicando como ele
contribuiu para fazer
deles o que conhecemos
no presente.
Foi
este caminho - com tanto de facilidade quanto de complicação
-
que os autores seguiram e, dessa forma, Sangue
e Sushi
leva-nos ao Japão natal do protagonista, ao tempo em que ainda era -
em segredo - aprendiz de cozinheiro e - publicamente - filho e
herdeiro de um dos chefes yakuzas
locais. Dividido entra a paixão (culinária) e a pressão familiar,
sentindo na pele os ciúmes do (violento) irmão e apanhado entre uma
(outra) guerra de gangues, Jiro terá de aprender a lidar com tudo
isso e encontrar o seu lugar.
Todos
sabemos que existe um limite para o que conseguimos comer e que mesmo
o prato mais saboroso se torna enjoativo se consumido em excesso
e - mais uma vez - a metáfora alimentícia (!) revela-se adequada
para aplicar
a esta
BD pois, pelo argumento previsível e a arte - de Alé Garza - de
fundos vazios, poses forçadas e seres desproporcionados, que não
ultrapassa o sofrível, chegados ao fim do segundo volume, somos
levados a pensar que devíamos ter ficado apenas pela degustação do
primeiro…
Fica
o aviso, para quem ainda for a tempo...
Todos
queram apanhar o Jiro!
Anthony
Bourdain e Joel Rose (argumento)
Langdon
Foss (desenho)
Sangue
e Sushi
Anthony
Bourdain e Joel Rose (argumento)
Alé
Garza (desenho)
Levoir/Público
Portugal,
8 e 15 de Junho de 2019
170
x 257 mm, 168 p., cor, capa dura
13,90
€
Paralelismos com Tony Chu?
ResponderEliminarOk. Fico-me pelo primeiro e aproveito o dinheiro para outra coisa.
ResponderEliminarObrigado pela dica :-)