22/04/2020

Diabolik: L'Uomo che non sapeva ridere

Insólito




Por razões que até seria interessante considerar mas que não é agora o momento para o fazer, a Itália tem sido capaz de manter uma indústria de banda desenhada verdadeiramente popular - na tripla vertente temática, comercial e financeira.
Se as séries da Sergio Bonelli Editore, recorrentemente trazidas aqui, são - para nós? - a sua face mais conhecida, Diabolik, da Astorina, é outro exemplo relevante - sendo que há autores comuns.
Comecemos por um pouco de História: Diabolik é uma criação das irmãs Angela Giussani (1922-1987) e Luciana Giussani (1928-2001) e, curiosamente, é um ladrão, conhecido pelos audaciosos e intrincados golpes que leva a cabo, com a cumplicidade da sua parceira de sempre, Eva Kant. As histórias têm como sede a cidade imaginária de Clerville e o protagonista evoluiu de um ser cruel e sanguinário para alguém que se rege por valores como a honra, a amizade e a gratidão, tendo como principal adversário o inspector Ginko.
Tenho ideia - sem certezas - de ter lido algumas histórias de Diabolik na adolescência - que obviamente não deixaram memórias - e (re)encontrei-o no ano passado, através do volume inicial da colecção lançada no Brasil pela Editora 85, que mimetiza o (muito) pequeno formato original - 120 x 170 mm - e compila quatro histórias - correspondentes a quatro edições originais - num grosso volume de quase meio milhar de páginas, servidas por uma traço realista competente e uma planificação que na grande maioria das páginas se resume a duas tiras de vinheta única - mais seria difícil perante o reduzido formato.
...e devo dizer que senti alguma desilusão: a trama repete-se, história após história, sem grandes originalidades. Surge algo apetecível para Diabolik, ele prepara o golpe, faz o roubo, regressa a casa e… já está. Essa ideia ganhou mais raízes ao ler neste período de confinamento algumas das edições que a Astorina disponibilizou gratuitamente no seu site.
Mas, entre elas, estava esta insólita proposta L'Uomo che non sapeva ridere - originalmente editada como tomo de oferta com um volume da colecção (mensal) regular - cuja capa me chamou desde logo a atenção, pelo estilo caricatural que Diabolik e Eva apresentam. Confirmado o traço - fino, aparentemente simples, mas muito dinâmico e legível - da desenhadora (Disney) Silvia Ziche, e a garantia de qualidade do argumentista Tito Faraci, mergulhei numa bela paródia do original, com a mesma base narrativa e momentos de um humor absurdo francamente bem conseguidos, entre os quais se destaca o planeamento da segurança da mansão que acabará por ser o alvo de Diabolik e Eva - aqui em separado - e de um outro bando de assaltantes, numa das variantes que o argumento ostenta.
Construída num crescendo e terminando com uma perseguição múltipla ao jeito das comédias populares de início/meados do século passado, L'Uomo che non sapeva ridere ao apresentar-se como uma sátira de si próprio, aponta, possivelmente, uma das razões que justifica a longevidade da série e a perpetuidade da tal BD popular italiana.

Diabolik: L'Uomo che non sapeva ridere
Tito Faraci (argumento)
Silvia Ziche (desenho)
Astorina
Itália, Agosto de 2019
120 x 170 mm, 132 p., pb, capa mole

(imagens disponibilizadas pela Astorina; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

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