Por razões que até seria interessante considerar mas que não é agora o momento para o fazer, a Itália tem sido capaz de manter uma indústria de banda desenhada verdadeiramente popular - na tripla vertente temática, comercial e financeira.
Se
as séries da Sergio Bonelli Editore, recorrentemente trazidas aqui,
são - para nós? - a sua face mais conhecida, Diabolik,
da Astorina, é outro exemplo relevante - sendo que há autores comuns.
Comecemos
por um pouco de História: Diabolik é uma criação das irmãs
Angela Giussani (1922-1987) e Luciana Giussani (1928-2001) e,
curiosamente, é um
ladrão, conhecido pelos audaciosos e intrincados golpes que leva a
cabo, com a cumplicidade da sua parceira de
sempre, Eva Kant. As histórias têm como sede a cidade imaginária
de Clerville e o protagonista evoluiu de um ser cruel e sanguinário
para alguém que se rege por valores como a honra, a amizade e a
gratidão, tendo como principal adversário o inspector Ginko.
Tenho
ideia - sem certezas - de ter lido algumas
histórias de Diabolik na adolescência - que obviamente não
deixaram memórias - e (re)encontrei-o no ano passado, através do
volume inicial da colecção lançada no Brasil pela Editora 85, que
mimetiza o (muito) pequeno formato original - 120 x 170 mm - e
compila quatro histórias - correspondentes a quatro edições
originais - num grosso volume de quase meio milhar de páginas,
servidas
por uma traço realista competente e uma planificação que na grande
maioria das páginas se resume a duas tiras de vinheta única - mais
seria difícil perante o reduzido formato.
...e
devo dizer que senti alguma desilusão: a trama repete-se, história
após história, sem grandes originalidades. Surge
algo apetecível para Diabolik, ele prepara o golpe, faz o roubo,
regressa a casa e… já está. Essa ideia ganhou mais raízes ao ler
neste período de confinamento algumas das edições que a Astorina
disponibilizou gratuitamente no seu site.
Mas, entre elas, estava esta insólita proposta
L'Uomo
che non sapeva ridere - originalmente
editada como tomo de oferta com um volume da colecção (mensal)
regular - cuja
capa me chamou desde logo a atenção, pelo estilo caricatural que
Diabolik e Eva apresentam. Confirmado o traço - fino,
aparentemente simples, mas muito dinâmico e legível - da
desenhadora (Disney) Silvia Ziche, e a garantia de qualidade do
argumentista Tito Faraci, mergulhei numa bela paródia do original,
com a mesma base narrativa e momentos de um humor absurdo francamente
bem conseguidos, entre os quais se destaca o planeamento da segurança
da mansão que acabará por ser o alvo de Diabolik e Eva - aqui em
separado - e de um outro bando de assaltantes, numa das variantes que
o argumento ostenta.
Construída
num crescendo e terminando com uma perseguição múltipla ao jeito
das comédias populares de início/meados do século passado,
L'Uomo
che non sapeva ridere ao
apresentar-se
como uma sátira de
si próprio, aponta, possivelmente, uma das razões que justifica a
longevidade da
série e a perpetuidade da tal BD popular italiana.
Diabolik:
L'Uomo che non sapeva ridere
Tito
Faraci (argumento)
Silvia
Ziche (desenho)
Astorina
Itália,
Agosto
de 2019
120
x 170
mm, 132
p., pb,
capa mole
(imagens
disponibilizadas pela Astorina;
clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
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