Encontrar num mesmo livro dois dos autores que fazem parte das minhas leituras recorrentes, é uma daquelas felicidades que por vezes a banda desenhada nos oferece.
Por
um lado, Zidrou, o argumentista multifacetado, incapaz de uma
história menor ou mal escrita. Por
outro, Berthet, o meu ‘vício’ linha clara, cujo traço não
deixa de me surpreender e seduzir.
Por
isso, se à partida Le
crime qui est le tien já
era uma aposta ganha, a leitura só o veio confirmar.
Relato
dramático de contornos policiais, Le
crime qui est le tien arranca
com um acontecimento traumático e uma confissão que o é mais: às
portas da morte, um homem confessa o assassinato da sua cunhada,
crime pelo qual o seu irmão foi acusado mais de meio quarto século
antes, o que fez dele um fugitivo. Ou, melhor, um eremita, pastor de
ovelhas, no cimo de uma montanha perdida.
A
chegada da notícia da confissão, leva Greg Hopper a regressar à
sua cidade natal e a descobrir reacções díspares: os que ‘sempre
o souberam inocente’ e aqueles que ainda o ‘acham culpado’. E
é
também o momento de (re)encontrar a cunhada e a sobrinha - que
nunca conheceu - que a cobardia de
uns e a vingança tardia de outros tornam
agora
vítimas
dos acontecimentos de (tantos) anos atrás.
E,
principalmente, é tempo de alimentar o fantasma que há tantos anos
o assombra, de
voltar continuar? - a sentir o peso avassalador dos
incontáveis amantes e casos de uma só noite (ou manhã, ou tarde)
que a sua esposa (lhe) contou - que na sua imaginação ainda
continua a contar. Um a um. Repetidamente.
De forma real aos nossos olhos de leitores.
Numa
história que parece linear - mas que o desfecho revelará afinal bem
diferente do que o leitor foi imaginando - ou aceitando - Zidrou
explora o ‘síndroma’ de cidade pequena, em que todos se
conhecem, remexendo feridas, sangrando recordações, numa drama
psicológico em que ninguém realmente vence, mas em que muitos são
perdedores.
Do
traço de Berthet, já falei muitas vezes: límpido, de tons lisos e
(quase sempre) luminosos, sensual no retrato das belas mulheres - com
Lee Hopper à frente de todas - animalista quanto baste, paisagista
quando é preciso, delicioso na reconstrução - mais uma vez! - dos
anos 1960 em que a acção decorre, dos seus edifícios, das suas
roupas, antes de tudo dos seus carros!
Zidrou
(argumento)
Berthet
(desenho)
Dargaud
França,
2015
241
x 318 mm, 64
p.,
cor, capa dura
ISBN:
9782505063438
15,00
€
(imagens
disponibilizadas pela Dargaud;
clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
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