24/04/2020

Mattéo: Terceira época

Choques


Resumo
Ultrapassado o degredo a que foi condenado no final da Segunda Época, Mattéo está de volta à pequena vila de Collioure. Está de férias - pagas, novidade de então! - com Paulin, a quem a participação na Primeira Grande Guerra deixou cego, a bela enfermeira Amélie e Augustin, companheiro desta última.
Com a Guerra Civil espanhola a redobrar de intensidade, é altura para reencontros diversos - com Juliette à cabeça - para algumas surpresas e adiar mais uma vez decisões.

Desenvolvimento
Gibrat continua a dar lugar à pequena História - como a designei aquando da análise das Primeira e Segunda épocas (os dois primeiros álbuns da série).
Fá-lo ao correr dos dias, criando cumplicidades, espicaçando inimizades e desavenças, extremando as posições políticas de quem prefere a esquerda e de quem defende a direita, numa época em que Franco, Hitler, Mussolini (ainda só) assombravam o mundo, provocando/evocando paixões - condenadas à partida porque a razão e o coração raramente estão de acordo.
Como até aqui - alguns dirão, sem que nada aconteça, quando tanto estava a acontecer - revela-se um mestre titereiro, puxando aqui um fio, soltando outro acolá, provocando coincidências antecipadamente destinadas, saboreando os choques, as provocações, os encontros e desencontros, o extravasar de paixões a que obriga as suas personagens.
Menos centrado na História, mas talvez mais rico porque o leque de personagens se alarga um pouco e o hiato temporal que abarca é curto, esta Terceira Época continua a fazer passar perante os nossos olhos pequenos momentos da grande História europeia, ricos em humanidade, e faz-nos criar laços mais fortes com os seus participantes.

A reter
- A desenvoltura narrativa de Gibrat;
- A forma - ideal? - de contar/contextualizar a História.
- E o belo traço do autor e as suas belas mulheres…

Menos conseguido
- ...mesmo que o tempo - mais de 20 anos (reais) entre a acção do álbum anterior e a deste - não tenha deixado marcas, nem em Juliette nem em Émilie; privilégios das mulheres de papel que os leitores (afinal) agradecem…

Editar ou não editar
A Ala dos Livros decidiu retomar uma série interrompida pela Vitamina BD há uma década. É uma decisão que só a ela cabe, cujas explicações foram dadas aqui, mas que não deixa de ser arriscada.
Quem tem os dois primeiros tomos agradece encarecidamente; quem não tem, de uma forma geral crítica e questiona. Todas as posições são igualmente válidas, cada um gere como quer ou pode a sua carteira - editor e leitores - e a sua biblioteca.
A pergunta fundamental é: consegue-se ler - e entender - este álbum sem conhecer os outros dois? Confesso que não consigo dar uma resposta absoluta - afinal, eu tinha lido, muito recentemente, os dois outros livros e por isso não consegui o distanciamento necessário. Acredito que dará para perceber a maior parte da história, embora possa haver algumas ligações e referências - algumas relevantes - que vão passar ao lado do novo leitor. Teria andado melhor a Ala dos Livros se tivesse incluído neste álbum um resumo que o ajudasse a contextualizar.
E, digo eu, numa edição com a alta qualidade gráfica a que a editora já nos habituou, teria sido bom se tivesse mantido o sentido do texto na lombada, tendo em atenção que este álbum, em muitos casos, irá fazer companhia aos outros dois anteriores na prateleira...

Mattéo
Terceira Época (Agosto de 1936)
Jean-Pierre Gibrat
Ala dos Livros
Portugal, 2020
235 x 310 mm, 80 p., cor, capa dura
21,00 €

(imagens disponibilizadas pela editora Ala dos Livros; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

1 comentário:

  1. Até que enfim a terceira época daquela que para mim é uma das melhores BD editadas em Portugal nos últimos anos. Espero que toda a serie seja editada a qual me parece já ir na 5ª época. Obrigado. Cumprimentos. Antonio Vasques

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