31/08/2020

O Expresso do Amanhã II

Variação





Segundo volume da colecção Novela Gráfica 2020, ao contrário do que muitos pensam - ou intuem - não é uma continuação do volume inaugural, mas sim uma variação sobre o mesmo conceito: um imenso comboio com '1001 carruagens' que circula sem parar na superfície do planeta Terra completamente congelada, com os últimos sobreviventes da raça humana a viverem no seu interior.
Façamos um breve interregno histórico: Le Transperceneige (O Expresso do Amanhã I) tinha sido publicado na revista (A Suivre) em 1982/83; depois disso, o seu argumentista, Jacques Lob falecera (1990). A acabar o século, Jean-Marc Rochette, o desenhador original, propõe a Benjamim Legrand retomar o tema. O resultado é o díptico O Explorador/A Travessia (1999/2000), agora compilados no presente tomo.
Em França, estes dois relatos são publicados na forma de 'integral' juntamente com o volume original mas, a verdade é que, para além do desenhador e do conceito base, nada mais liga as duas obras. Ou quase - porque há um pequeno pormenor que funciona como ponto de contacto entre elas - que até é muito interessante, de um certo ponto de vista de universalização, mas que, paradoxalmente, também é absolutamente dispensável para a compreensão da narrativa.
Graficamente, o desenho de Rochette surge mais simples, depurado - quase me apetece escrever 'displicente' quando comparado com o do primeiro volume - mas mais adequado, pelo dinamismo que revela e pela leitura mais rápida que proporciona, ao tom escolhido mais leve e descontraído adoptado para esta sequela.
Na verdade, onde no primeiro volume havia uma forte carga de crítica social e algum aprofundamento psicológico dos principais intervenientes, nesta segunda entrega predomina a acção. Há uma maior exploração do funcionamento das esferas de poder - político, religioso - que controlam o comboio, mas há também um herói - literalmente, há que o escrever assim - Puig Vallès, o tal explorador que dá (sub-)título ao livro, que pertence a um grupo de pessoas treinadas para efectuarem surtidas - para pilhagem ao longo do caminho, como forma de 'saltar etapas' no deslocamento dentro do próprio comboio - no exterior da composição.
Este aspecto, relativiza em parte a sensação de claustrofobia e torna o espaço confinado (original) menos opressivo, dadas as sucessivas saídas que se realizam e a 'acção' que tem lugar no exterior, mas apesar disso, a sensação que a leitura deixa continua a ser de desencanto em relação à raça humana.
E o seu desfecho, muito mais radical do que o do volume anterior, transforma - de novo! - esta obra num volume fechado e completo em si mesmo.

O Expresso do Amanhã II
Benjamim Legrand (argumento)
Jean-Marc Rochette (desenho)
Levoir/Público
Portugal, 29 de Agosto de 2020
190 x 260 mm, 176 p., pb, capa dura
10,90 €

(imagens disponibilizadas pela Levoir; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

3 comentários:

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  3. ola Pedro em primeiro lugar parabéns pelo excelente trabalho de divulgação de BD que tens vindo a desenvolver à anos como se de uma locomotiva sem parar se tratasse. Adorei esta reedição de este clássico francês .... divinal ! Concordo com o texto supra acrescento "modestamente" que os 4 post-scriptum são de leitura obrigatória ...... parabéns Levoir !!!

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