Segundo volume da colecção Novela Gráfica 2020, ao contrário do que muitos pensam - ou intuem - não é uma continuação do volume inaugural, mas sim uma variação sobre o mesmo conceito: um imenso comboio com '1001 carruagens' que circula sem parar na superfície do planeta Terra completamente congelada, com os últimos sobreviventes da raça humana a viverem no seu interior.
Em
França, estes dois relatos são publicados na forma de 'integral'
juntamente com o volume original mas, a verdade é que, para além do
desenhador e do conceito base, nada mais liga as duas obras. Ou quase
- porque há um pequeno pormenor que funciona como ponto de contacto
entre elas - que até é muito interessante, de um certo ponto
de vista de universalização, mas que, paradoxalmente, também é
absolutamente dispensável para a compreensão da narrativa.
Graficamente,
o desenho de Rochette surge mais simples, depurado - quase me apetece
escrever 'displicente' quando comparado com o do primeiro volume -
mas mais adequado, pelo dinamismo que revela e pela leitura mais
rápida que proporciona, ao tom escolhido mais leve e descontraído
adoptado para esta sequela.
Na
verdade, onde no primeiro volume havia uma forte carga de crítica
social e algum aprofundamento psicológico dos principais
intervenientes, nesta segunda entrega predomina a acção. Há uma
maior exploração do funcionamento das esferas de poder - político,
religioso - que controlam o comboio, mas há também um herói -
literalmente, há que o escrever assim - Puig Vallès, o tal
explorador que dá (sub-)título ao livro, que pertence a um grupo de
pessoas treinadas para efectuarem surtidas - para pilhagem ao longo
do caminho,
como forma de 'saltar etapas' no deslocamento dentro do próprio
comboio - no exterior da composição.
Este
aspecto, relativiza em parte a sensação de claustrofobia e torna o
espaço confinado (original) menos opressivo, dadas as sucessivas
saídas que se realizam
e a 'acção' que tem lugar no exterior,
mas apesar disso, a sensação que a leitura deixa continua a ser de
desencanto em relação à raça humana.
E
o seu desfecho, muito mais radical do que o do volume anterior,
transforma - de novo! - esta obra num volume fechado e completo em si
mesmo.
O
Expresso do Amanhã II
Benjamim
Legrand (argumento)
Jean-Marc
Rochette (desenho)
Levoir/Público
Portugal, 29 de Agosto de 2020
190
x 260
mm, 176
p., pb, capa dura
10,90 €
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarola Pedro em primeiro lugar parabéns pelo excelente trabalho de divulgação de BD que tens vindo a desenvolver à anos como se de uma locomotiva sem parar se tratasse. Adorei esta reedição de este clássico francês .... divinal ! Concordo com o texto supra acrescento "modestamente" que os 4 post-scriptum são de leitura obrigatória ...... parabéns Levoir !!!
ResponderEliminar