24/04/2023

Curtas (II)



Regresso às obras com histórias curtas que de forma continuada me servem para aproveitar espaços de tempo igualmente curtos, desfrutar de pequenos interlúdios entre tarefas, aligeirar alguma pressão ou aproveitar tempos mortos.
Depois de uma abordagem recente aqui, em As Leituras do Pedro, trago hoje um novo quarteto de edições em tudo díspares das anteriores.


Abro em português, com Filipa Beleza e Entalados (Iguana, Portugal, Abril de 2023) uma colectânea de cartoons que se alimentam principalmente da oposição entre a necessidade de salvar o planeta e o desejo de mantermos o nosso estilo de vida.

São gags servidos com um traço agradável, com aplicações pontuais de cor (amarela) que destacam o mais significativo, mas que mereciam uma legendagem menos pesada. Através deles, Filipa Beleza revisita alguns dos temas recorrentes dos nossos dias, como o degelo das calotas polares, a sustentabilidade, a excessiva utilização de plásticos ou a reciclagem, num registo que oscila entre o radicalismo, o surpreendente, o sarcástico e o panfletário, num conjunto divertido mas que obriga a reflectir, pelo que se sugere uma leitura estendida no tempo - aqui como nas obras seguintes - para que a voracidade não esconda a importância da sua mensagem.


Quanto a Cavaleiro da Lua: Preto, Branco & Sangue (G. Floy, Portugal, Abril de 2023), mostra como neste registo, o conhecimento prévio do protagonista, do seu universo e das situações-tipo que enfrenta, é importante para criar interacção e uma completa fruição destas propostas, uma vez que o modelo curto não permite grandes explicações nem contextualização, ao contrário do que acontece em narrativas longas. Desta forma, por culpa minha - das poucas, quase nenhumas, leituras que até hoje fiz do Cavaleiro da Lua - este foi o volume da colecção Preto, Branco & Sangue cuja fruição foi menor. Em contraste, por exemplo, com o que tinha acontecido com todos os anteriores, entre os quais destaco Elektra: Preto, Branco & Sangue (G. Floy, Portugal, Setembro de 2022), para mim o mais conseguido desta série - já com cinco volumes editados em português - que assenta em histórias curtas de super-heróis da Marvel, num registo violento, em que o sangue que vai jorrando com generosidade, pintalga a vermelho vivo as pranchas dominadas por um preto e branco contrastante.

Voltando a Cavaleiro da Lua, confesso que, independentemente do já escrito, em termos de desenho houve narrativas que não me seduziram, embora me tenham ficado na retina as prestações gráficas de Dante Bastianoni e Paul Azaceta e, em termos narrativos, a forma - não tão evidente nas primeiras páginas - como está planificada (evidentemente…) Fim, que é assinada por Marc Guggenheim e Jorge Fornés, e o humor de Passo em falso, de Erica Schultz e David Lopez.


Se comecei com cartoons de imagem única, termino com conjuntos de três vinhetas - aquele formato indefinido, algures entre o cartoon e a banda desenhada… - nas quais podemos descobrir a verdadeira origem (e os inconvenientes...) das estátuas da Ilha da Páscoa, como perder (literalmente) um paciente durante uma operação cirúrgica, as vantagens da macrocefalia, o que realmente impedia Pinóquio de ser um menino de verdade, tudo aquilo que nunca imaginámos (que se podia) saber sobre o que sofrem os infelizes que os mafiosos lançam aos rios com um bloco de cimento nos pés, os animais, a religião, os exércitos ou os náufragos numa ilha deserta. Isto, na visão satírica, muito negra e o mais politicamente incorrecta que se possa imaginar de L’Abbé, que já tinha passado aqui pelo blog, em Trois cases pour une chute, vol. 2, (Fluide Glacial, França, Maio de 2023), que é como quem diz, ‘três vinhetas e um desfecho’, no regresso a um modelo que, segundo o autor "é mais rápido de desenhar do que se fossem quatro vinhetas" (sic).

(capas disponibilizadas pelas editoras; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar no texto a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)

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