07/04/2021

Duke #5: Pistoleiro é o que serás

Ocaso...



Cito, com uma ligeira nuance, a abertura de ontem: 'Num ano em que a edição em Portugal parece rendida ao western - Undertaker, Tex, O último homem..., Lucky Luke... - Duke: Pistoleiro é o que serás é mais uma edição para engrossar aquela (bela) lista'.
E é mais uma obra de Hermann, um dos grandes Autores que a banda desenhada me fez descobrir, admirar, respeitar, seguir, mesmo quando está claramente a entrar no seu ocaso.

Devo muito a Hermann. Muitas horas de boas leituras. Primeiro, Comanche, uma das séries da minha vida; depois, o seu traço fabuloso e umas cores - muitas vezes directas - para as quais todos os adjectivos são curtos; finalmente, pelo tom de desencanto e desilusão que perpassa pelas suas obras - pelos seus heróis, ou anti-heróis, ou simples personagens...

Se Comanche é há muito um capítulo encerrado - felizmente - e se os seus protagonistas continuam fiéis ao seu autor, é na parte gráfica que o Hermann dos nosso dias está muito distante daquele que todos (um dia) admirámos.

Olhemos para este Pistoleiro tu serás - um belo título! A capa é péssima, a personagem de pé parece ter uma tábua dos ombros aos pés, a face da que está sentada é pavorosa; o vazio que as rodeia é pobre e desinteressante - pese embora o belo logótipo da série... No interior - vejam como as páginas de guarda são bem conseguidas - o mau tratamento da figura humana, em especial ao nível dos rostos prossegue e muitas delas não suportam um olhar minimamente atento.

Em termos de cor, felizmente, Hermann continua um Senhor. Atentem no trabalho a sépia das cenas do passado, sintam as sombras da noite, admirem os contrastes entre os tons ocres e amarelos das areias do deserto, com o azul do céu límpido; sacudam a poeira e descontraiam no verdejante pomar que serve de breve oásis quase no final do livro... Quantos autores na plena possa das suas capacidades são capazes de atingir o mesmo brilhantismo?

Finalmente, o relato. Esta é uma daquelas histórias nas quais nada parece acontecer, embora muito se passe, e no final da qual tudo parece estar na mesma: Duke e Swift prosseguem o seu caminho, com 100 mil dólares para pagar o resgate da sua amiga Peg, tal como na vinheta inicial.

No entanto, esta será, mesmo assim, uma conclusão errónea. Entre a primeira e a última vinheta, existe uma perseguição encarniçada, diversos confrontos, muitos mortos e uma misteriosa presença tutelar, que compõem de forma chamativa mais um capítulo deste western crepuscular. E, acima de tudo, Duke faz - e com ele os seus leitores - um regresso a um passado atribulado, que nos permite perceber o que ele é hoje e, mais ainda, o que o move afinal.


Não sei quantos capítulos - leiam álbuns - faltam para Hermann concluir esta saga. Sei que já está a trabalhar no próximo. Possivelmente, pelo seu passado, pelo muito que Hermann me deu, deveria desejar-lhe uma reforma sossegada, mas, fechado este Pistoleiro é o que serás, é mais forte a minha vontade de conhecer o destino de Duke. Por isso, espero - desejo! - que esta sua ânsia em narrar, esta necessidade imparável de não parar - sim eu sei, foi consciente - nos leve até ao ocaso... deste pistoleiro.


Duke #5: Pistoleiro é o que serás
Yves H. (argumento)
Hermann (desenho e cor)
Arte de Autor
Portugal, Março de 2021
230 x 30o mm, 56 p., cor, capa dura
16,50

(imagens disponibilizadas pela Arte de Autor; clicar nelas para as apreciar em toda a sua extensão)

6 comentários:

  1. Hermann é para mim, um dos melhores ilustradores de banda desenhada de todos os tempos (e ainda vivo) e alguns álbuns de Comanche, são a prova disso! É certo que os argumentos de Greg ajudaram muito! Noto no entanto, que a idade já avançada do autor, quer no que concerne à parte física/mental, mas também pelo facto de querer produzir muito, sabendo que já não terá muito tempo para isso (perdoem-me a dureza das palavras), não lhe dão a qualidade gráfica de outros tempos. Termino, desejando longa vida para Hermann Huppen!

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  2. Estão a esquecer-se de referenciar os 38 álbuns da série JEREMIAH apenas 13 publicados entre nós mais os 11 BOIS-MAURY apenas 6 publicados em Portugal mais 12 excelentes one-shot

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  3. E também os 15 inesquecíveis álbuns de Bernard Prince (14 deles igualmente com argumento de Greg)!...

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  4. Sim Diogo, tens razão, como me fui esquecer do inesquecível Bernard Prince ? Aliás na minha coleção contabilizo 91 álbuns desenhados pelo Hermann sendo que em 58 é também argumentista

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  5. Também tenho todos! E alguns repetidos (cor/preto e branco), (Espanhol/Francês)! Hermann (e Greg) era uma das razões porque eu, ainda puto, aguardava impacientemente, pela saída de mais uma revista do Tintim!...

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  6. Boa, então és como eu, os buracos que Portugal deixa são tapados pelos espanhóis e franceses

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