A
propósito do lançamento de Astérix na Lusitânia
e como complemento da entrevista feita aos autores, Fabcaro e Didier Conrad, As Leituras do Pedro
falaram também com Vítor Silva Mota, editor de Astérix na
Leya/ASA.
A
versão integral dessa entrevista, feita por e-mail para o texto publicado no Jornal de Notícias de 23 de Outubro de 2025, pode ser
lida já a seguir.
As Leituras do Pedro - Houve alguma influência da ASA na escolha da Lusitânia como destino?
Vítor Silva Mota - Sim. Eu tornei-me editor do Astérix em 2013, ano em que foi publicado Astérix entre os Pictos, e logo nesse ano, aproveitando a vinda cá a Portugal da então recém-estreada dupla de autores Jean-Yves Ferri/Didier Conrad, dei a conhecer, a esses autores e à equipa editorial das Éditions Albert René que os acompanhou, o desejo da ASA de vir a poder um dia publicar uma aventura de Astérix passada no nosso país. De então para cá, isto é, ao longo dos últimos doze anos, nunca deixei de abordar o assunto sempre que tal se afigurou oportuno, insistindo sempre no facto de a Lusitânia ter estado sob o jugo romano à época das Aventuras de Astérix (que decorrem em 50 a.C., como é sabido) e ser, portanto, um destino perfeitamente plausível para um dos futuros álbuns de viagem.
As Leituras do Pedro - Se sim, porquê só agora?
Vítor Silva Mota - A decisão sobre a escolha dos argumentos dos vários álbuns é, como se compreenderá, da exclusiva competência do Editor francês. À ASA competiu, portanto, manter o destino “Lusitânia” em cima da mesa até este ser finalmente escolhido, sem no entanto poder ter, nem ter tido efetivamente, qualquer tipo de responsabilidade sobre o timing dessa escolha.
As Leituras do Pedro - Quais foram os argumentos para convencer a editora francesa e os autores?
Vítor Silva Mota - Os argumentos que a ASA utilizou foram vários, a começar pelo facto, já cima referido, de a Lusitânia ser um destino perfeitamente plausível, tanto do ponto de vista geográfico, como histórico, como ainda cronológico.
Outro argumento de peso, foi a circunstância de a Lusitânia não ter sido apenas mais um território anexado ao Império Romano, mas sim uma região de extrema importância naquele contexto, tendo sido considerada, por exemplo, uma das principais fontes de fornecimento de ouro a Roma. Face a tal relevância (a que no álbum não deixa de se aludir, mencionando a Lusitânia como “o grande entreposto do comércio internacional” - pág. 9, vinheta 1), era imperioso - argumentámos sempre nós - que os irredutíveis gauleses viessem um dia a este extremo ocidental do Império Romano.
Um terceiro argumento em que sempre insistimos, foi o facto de haver um paralelismo evidente entre o chefe gaulês Vercingétorix, tantas vezes mencionado nas aventuras de Astérix, e o líder lusitano Viriato, que ficou para a História por ter encabeçado uma revolta local que infligiu pesadas derrotas aos exércitos romanos durante vários anos e que só foi vencido pela traição dos seus pares, a soldo de Roma.
Por outro lado, também nunca deixámos de referir que a vinda dos irredutíveis gauleses a terras lusas constituía um sonho antigo acalentado pelos milhares de fãs portugueses de Astérix e pela comunidade bedéfila em geral, sobretudo depois de o próprio Albert Uderzo não ter rejeitado essa possibilidade aquando da sua vinda ao nosso país em 1991 para o lançamento de A Rosa e o Gládio. Com o passar dos anos, esse sonho sempre adiado transformou-se num verdadeiro anseio nacional, que - assim o transmitimos sempre às Éditions Albert René - era imperioso cumprir, mais cedo ou mais tarde.
Por fim, numa outra linha de argumentação, menos rigorosa e mais informal, sempre fizemos questão de salientar a abundância de elementos históricos, culturais, gastronómicos, etc., na sociedade portuguesa passíveis de serem parodiados num eventual álbum sobre a Lusitânia.
As Leituras do Pedro - A ASA forneceu algum tipo de documentação/informação? Se sim, o quê?
Vítor Silva Mota - Em 2015, eu próprio elaborei um documento de várias páginas, no qual fiz um levantamento tão exaustivo quanto me foi possível dos vários elementos históricos, culturais, sociais, gastronómicos, etc., do nosso país que pudessem vir a ser utilizados numa futura aventura de Astérix na Lusitânia. Esse documento foi depois enviado à Direção Editorial das Éditions Albert René, que, sem naturalmente assumir qualquer tipo de compromisso, não deixou de me agradecer pela iniciativa e felicitar pelo trabalho levado a cabo.
Hoje, estando o álbum já publicado, é com muita satisfação - e uma pontinha de orgulho, confesso! - que constato que grande parte dos elementos que identifiquei nesse levantamento foram considerados e estão presentes na história.
Para além disso, quando a decisão de avançar com o Astérix na Lusitânia já estava tomada mas ainda era estritamente sigilosa, tive ocasião de receber cá em Portugal, em Março de 2024, o argumentista, Fabcaro, e o Diretor Editorial francês, Céleste Surugue, e de os acompanhar nessa sua “missão exploratória”, que teve o objetivo de ambos se familiarizarem in loco com a realidade portuguesa, a sua cultura e as suas tradições. Percebi na altura que os traços gerais da história já estavam alinhavados e, embora não tenha tido acesso a grandes pormenores concretos, trocámos naturalmente ideias sobre várias situações passíveis de serem retratadas no futuro álbum.
Mais tarde, já em janeiro de 2025, tive finalmente acesso ao texto final e, nessa altura, fiz chegar ao Diretor Editorial francês os meus comentários.
As Leituras do Pedro - O que significa para a ASA - e para Portugal - o facto de Astérix e Obélix nos virem visitar?
Vítor Silva Mota - A publicação de Astérix na Lusitânia é, antes de mais, um motivo de enorme orgulho para a ASA, editora do Astérix em Portugal há quase duas décadas. Foi, como acima se explanou, um projeto pelo qual nos batemos ao longo dos últimos doze anos e é, portanto, com um pleno sentimento de missão cumprida que o vemos agora concretizar-se.
Acresce que a publicação deste álbum assume, sem qualquer sombra de dúvida, uma importância a vários títulos extraordinária para o nosso país: por um lado, dá finalmente resposta a um verdadeiro anseio nacional de toda a comunidade bedéfila; e por outro, com uma tiragem mundial de 5 milhões de exemplares, não só trará os nossos irredutíveis gauleses a terras lusas como levará Portugal, através da BD, aos quatro cantos do mundo.
(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)





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