Warren Ellis (argumento)
Ben Templesmith (desenho)
GFloy Studio (Portugal, Novembro de 2011)
170 x 260 mm, 144 p., cor, brochado com badanas
15,99 €
Resumo
Detective destacado para Snowtown, por motivos (pouco abonatórios?) que só ele e os seus superiores conhecem, Fell trava aos poucos conhecimento com os estranhos habitantes de uma cidade que prima pelo clima opressivo, o medo latente e os factos inexplicáveis.
Desenvolvimento
Fell é um policial duro, negro, sombrio e violento.
Duro como Fell, o detective que lhe dá nome, que a co-protagoniza, que, na melhor tradição do policial negro, se revela um indivíduo determinado, (falsamente) confiante, capaz de se interessar pelos casos apenas pelos dramas que lhes estão inerentes, avesso à autoridade - será por isso que está exilado em Snowtown? – habituado a fazer valer a sua opinião, mesmo que para isso tenha que usar métodos menos ortodoxos, que considera válidos desde que lhe permitam atingir o fim desejado. Em resumo, um duro na melhor acepção do termo, mas que mais do que uma vez revela um coração (surpreendentemente) sensível.
Negro, sombrio e violento como Snowtown, a cidade onde a acção decorre e que tem no relato uma papel (pelo menos) tão importante como o de Fell, porque é nela que vivem vítimas e executores, é nas suas entranhas – é difícil chamar ruas aos espaços de Snowtown – que a acção decorre, é o seu (mau) ambiente que ajuda a criar o clima incómodo que percorre todas e cada uma das histórias aqui narradas.
Snowtown – nome enganador… - é uma cidade negra, sempre obscurecida por um denso manto, misto de nevoeiro e fumo, que a envolve permanentemente. Snowtown é uma cidade repleta de segredos, negra também pela amoralidade dos seus habitantes, que podem ser divididos em duas categorias principais: os que tentam sobreviver a qualquer custo – não vendo, não ouvindo, não falando… - dissolvendo-se nas sombras para passarem despercebidos, gente inadaptada a tentar adaptar-se ao inadaptável, (sobre)vivendo e sonhando passar a ponte para um mundo melhor (?), e aqueles que se deixam dominar pela atmosfera opressiva, encontrando nela a justificação para praticarem os crimes mais abjectos e violentos.
Se para alguns, Snowtown - que dista apenas o comprimento de uma ponte da cidade soalheira e aprazível que ocupa a outra margem do rio, ponte essa que o protagonista está impedido de atravessar, tão grave ou notório foi o erro (os erros?) que o levaram para ali - serve de trampolim (enganador?) para subir na carreira, para Fell é local de exílio - e de auto-punição? Por isso, vai tentando adaptar-se à estranha cidade, travando conhecimentos - algo que o seu carácter de solitário, obstinado e reservado, não facilita - e descobrindo (alguns d)os seus segredos e (d)os seus muitos podres.
Relato tradicional embora com laivos de originalidade, composto por vários episódios curtos – duros, negros, sombrios e violentos… - que nos vão dando a conhecer Fell e vão definindo e aprofundando o seu carácter e o daqueles com quem se vai cruzando, Fell tem tudo para agradar aos fãs de policiais, sim, mas também a todos os que gostam de uma história bem contada.
Pois é isso que faz Ellis, com um guião consistente – duro, negro, sombrio e violento – potenciado pelo traço de Templesmith, mais impressionista ao mostrar Snowtown, pintada com tons escuros que acentuam o ambiente sombrio e a violência das acções, mais caricatural no retrato dos seres humanos que a habitam e que nela parecem deslocados.
A reter
- A boa surpresa que esta edição constitui.
- - O tom sombrio, opressivo e incómodo da narrativa de Ellis…
- … que Templesmith soube captar e transmitir através do seu traço bem original.