Mostrar mensagens com a etiqueta Zé Carioca. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Zé Carioca. Mostrar todas as mensagens

12/02/2013

Zé Carioca – 70 anos – volume 1












Vários autores
Editora Abril (Brasil, Outubro de 2012)
133 x 190 mm, 304 p., cor, brochada
R$ 16,00



Se há personagem que combine bem com este dia de Carnaval que passa hoje - e há que o aproveitar enquanto existe nesta mascarada a que alguns ainda teimam em chamar país - ele é sem dúvida o Zé  Carioca.
No Brasil, os seus 70 anos foram assinalados por uma antologia em dois volumes, publicada pela Editora Abril, o primeiro dos quais trago aqui hoje. Este tomo, o primeiro, traça o percurso do papagaio brasileiro da Disney, desde a sua criação para o filme “Saludos amigos!”, na sequência de uma viagem do próprio Walt Disney ao Brasil, até à década de 1960, dando especial relevo à sua existência em papel.
O principal destaque vai para as tiras de jornal em que Zé Carioca nasceu nos quadradinhos, em Outubro de 1942, que são   publicadas pela primeira vez de forma integral (embora remontadas para se adequarem ao tamanho das páginas).
Para além disso, este tomo contém igualmente histórias seleccionadas da fase americana, do período em que se procedeu à substituição dos protagonistas de histórias das duplas Mickey/Minnie ou Donald/Margarida pelo papagaio e Rosinha (levada a cabo no Brasil, quando o material original não chegava para as encomendas...) ou do início da fase brasileira, que documentam a evolução (significativa) deste preguiçoso nato, em termos visuais, criativos e de carácter, bem complementada por textos que introduzem e contextualizam cada tema ou período temporal.
O segundo tomo, também já editado, acompanha o seu percurso desde os anos 1960 até aos nossos dias (ou quase) e inclui duas bandas desenhadas inéditas, produzidas no Brasil.
Como principais senãos da edição - para lá da já referida reformatação das tiras originais – ficam o formato reduzido (o habitual “formatinho” - compreensível (?) pelo equilíbrio necessário na relação qualidade/preço...), os problemas de encadernação que não permite abrir completamente o livro e dificulta a leitura das vinhetas junto à zona central do livro e a qualidade do papel.
O que é pena, pois a data, o conteúdo e o cuidado editorial justificavam uma edição maior, com melhor encadernação e papel.

(As imagens que ilustram este texto foram cedidas pelo Planeta Gibi Blog.)


24/08/2012

Zé Carioca: 70 anos de preguiça





  
 

Há 70 anos, a antestreia no Rio de Janeiro de “Saludos Amigos”, permitia descobrir um novo herói do universo Disney: um papagaio antropomórfico chamado Zé Carioca.

No filme, que estrearia no ano seguinte nos Estados Unidos, o Pato Donald, de visita por alguns países latinos, integrado no esforço dos Estados Unidos para granjear aliados para a sua participação na II Guerra Mundial, teve como cicerones Panchito, no México, Gauchinho Voador, na Argentina e José Carioca, no Brasil, que o apresentou ao samba e… à cachaça!
Segundo se sabe, foi o próprio Walt Disney que o esboçou no Copacabana Palace Hotel, durante uma visita que fez ao Rio de Janeiro, de que gostou tanto que quis deixar uma lembrança para os seus anfitriões.
Criou-o como um estereótipo dos brasileiros: alérgico ao trabalho e amante de samba e futebol (que pratica com mais presunção que arte). Mais tarde, revelar-se-ia também preguiçoso, caloteiro e capaz de desenvolver os mais estranhos esquemas para fugir a qualquer responsabilidade. Geralmente as suas histórias decorrem na Vila Xurupita, no Morro do Papagaio, onde mora, facilmente identificável como uma favela do Rio de janeiro, embora paredes meias com o bairro rico onde mora a sua namorada Rosinha.
Desenvolvido em tira diária de jornal por Paul Murry ainda em 1942, antes portanto da estreia do filme nos EUA, o Zé Carioca conheceu aí a sua namorada Rosinha e o pai dela Rocha Vaz, o seu amigo Nestor e o rival Luís Carlos, que posteriormente seria substituído por Zé Galo, em histórias centradas no Rio de Janeiro mas que o levariam também até à Amazónia.
O papagaio mais malandro da banda desenhada regressaria dois anos depois em novo filme, “The Three Caballeros”, uma vez mais destinado à América Latina, no qual o segmento brasileiro mostrava a Baía, numa combinação de animação com actores reais, entre eles Aurora Miranda, irmã da célebre Carmen Miranda.
Com participação limitada nas bandas desenhadas produzidas nos Estados Unidos, o Zé Carioca, de forma compreensível, conheceu um grande sucesso nos Brasil, onde se estreou na revista “O Globo Juvenil”, em meados da década de 1940.
Co-protagonizaria a capa do primeiro número brasileiro do Pato Donald, em 1950 – o mesmo ano em que as revistas Disney do Brasil começaram a chegar a Portugal - e passaria a ter uma revista com o seu nome em 1961. Seria nos quadradinhos brasileiros que a sua personalidade seria aprofundada e desenvolvida, sendo introduzido o gosto por pratos tipicamente locais, como a feijoada e a jaca, a praia, o samba e o futebol.
Como a certa altura não existiam histórias suficientes para alimentar a revista do Zé Carioca, um dos esquemas utilizados foi o decalque de histórias originalmente protagonizadas pelo Pato Donald ou Mickey, o que o levou muitas vezes a Patópolis, provocou mudanças constantes na sua personalidade, o fez interagir com personagens de outros universos e à criação dos seus sobrinhos Zico e Zeca (em substituição de Huguinho, Zezinho e Luisinho).
A partir de 1972, a editora Abril criaria um estúdio próprio para produção de histórias, entre as quais as do Zé Carioca, que passou a ter novos amigos, entre os quais Pedrão e Afonsinho, destacando-se Renato Canini entre os vários autores que o fizeram viver histórias tipicamente brasileiras e o dotaram de um elevado número de primos – também brasileiros - de nome e características definidas em função da zona do Brasil de onde provinham: Zé Paulista, Zé Pampeiro, Zé Queijinho, Zé Baiano, etc.
Graficamente, o Zé Carioca foi evoluindo ao longo dos anos, passando da versão original com casaco, chapéu de palha e charuto (vício que seria abolido mais tarde) para uma indumentária mais tropical e moderna com camisa estampada e boné. Os seus confrontos com a ANACOZECA (Associação Nacional dos Cobradores do Zé Carioca) e as suas aparições como Morcego Verde, um super-herói trapalhão, foram outras das temáticas exploradas nas suas aventuras.
A queda das vendas das publicações Disney, nos finais da década de 1990, levaria também ao encerramento das revistas que o papagaio protagonizava, apesar de ainda existirem histórias inéditas da personagem nos arquivos da editora. A última história original brasileira foi publicada em Dezembro de 2001 intitulada "Só com Magia", do roteirista Rafles Ramos.

(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 24 de Agosto de 2012)

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...