Mas a originalidade da série não se ficava pela profissão do herói - assumida logo à 10ª tira, para encontrar os raptores da sua noiva e assassinos do seu futuro sogro - vinha também da sua fonte de inspiração, as notícias dos jornais que reflectiam a criminalidade crescente num país que tentava a todo o custo deixar para trás os efeitos da Grande Depressão, ocorrida dois anos antes.

Chester Gould, sem qualquer formação artística, dotou Dick Tracy com uma rica galeria de personagens secundárias (Tess Trueheart, com quem casaria em 1949, Bonny Braids, a filha de ambos, o Chefe da polícia Brandon, Pat Patton, o seu fiel assistente, Júnior, o seu filho adoptivo, ou a longa lista de marcantes vilões entre os quais Big Boy, Pruneface ou Mumbles. Nos anos 60, a tira entrou na “era espacial”, tendo o herói pilotado naves, encontrado extraterrestres e ido até à Lua.
O criador do detective à paisana, adepto das técnicas forenses e utilizador de um famoso rádio-relógio-transmissor de pulso, manter-se-ia ao leme da sua criação até 1977, tendo assinado a série pela última vez no Dia de Natal. Rick Fletcher, seu assistente desde 1961, assumiria o desenho, e Max Allan Colins o argumento. Actualmente o detective continua a viver aventuras – de traço menos agreste e bem menos violentas do que na sua melhor fase - diariamente nos jornais, sendo os seus responsáveis Joe Staton e Mike Curtis que ontem começaram a recontar o primeiro caso do detective, como pode ser acompanhado aqui.
A partir de 1942, Dick Tracy seria alvo de uma bem conseguida e divertida paródia, na pele do também detective Fearless Fosdick, personagem de uma outra série famosa, "Li'l Abner", criada por Al Capp em 1934.


(Versão revista e actualizada do texto publicado no Jornal de Notícias 4 de Outubro de 2006)