Les nouvelles aventures d’Iznogoud
d’après Goscinny et Tabary
Nicolas Canteloup e Laurent Vassilian (argumento)
Nicolas Tabary (desenho)
IMAV Éditions (França, 21 de Fevereiro de 2012)
220 x 295 mm, 48 p., cor, cartonado
11,00 €
Resumo
Este álbum marca o regresso de Iznogoud, “o grão-vizir que
quer ser califa no lugar do califa”, agora com uma nova equipa criativa: os
argumentistas Nicolas Canteloup (humorista e imitador) e Laurent Vassilian (autor
dos textos para Canteloup) e o desenhador Nicolas Tabary (filho de Jean Tabary,
co-criador de Iznogoud juntamente com René Goscinny).
A filha deste último, Anne Goscinny, é a responsável pela publicação
do livro, pelas IMAV Éditions.
Como é habitual na série, criada há 50 anos, Izonogoud pretende
tornar-se califa no lugar do califa Haroun El Poussah, embora desta vez o
caminho passe por… umas eleições presidenciais!
Desenvolvimento
Por isso, não pensem os leitores mais apressados após a
leitura do título da obra que o grão-vizir virou costas à ditosa Bagdad e é um
dos concorrentes às presidenciais francesas – para as quais, no entanto,
possuía a estatura adequada…! – ou tem em vista a presidência lusa, pois as
suas ambições não se coadunam com a reforma de miséria que esta paga!
Iznogoud, mais um dos muitos casos de retoma de heróis
clássicos, em que a BD francófona é cada vez mais fértil – crise de
criatividade ou procura do sucesso fácil? - mantém neste regresso as
características que lhe são bem conhecidas: o desejo de poder a todo o custo, a
invenção dos mais surpreendentes estratagemas para conseguir os seus fins, a
fidelidade (não recompensada) do seu criado Dilat Larath, a pachorra e bonomia
da califa…
A isto tudo, acrescenta uma grande dose de actualidade,
sucedendo-se os gags em torno da (baixa) estatura de Sarkosy e da presença ao
seu lado de uma grande mulher, os anacronismos como as referências ao Fez-bouc,
ao Kentuky Freud Chicken, às greves (dos carrascos), à guerra do golf(o), à
crise do petróleo, à crescente invasão chinesa do ocidente ou à psicanálise, a
participação de Mario Bross e Barak Obama (aliás Yessoui Khan), escândalos sexuais
(ou quase) e truques - baixos eleitorais – não, não é piada! - que alimentam os
muitos trocadilhos e jogos de palavras que se em muitos casos fazem jus à (pesada)
herança recebida de Goscinny, aqui e ali se revelam algo excessivos e mesmo
desadequados do espírito da série.
A isto, pode-se acrescentar uma história equilibrada e construída
de forma estruturada, apesar da progressiva perda de ritmo pela inclusão de
demasiados pormenores e alguns excessos de texto, apesar do bom achado consubstanciado
na personagem do Grande Lâkan (baseado em Jacques Lacan, psicanalista francês,
1901-1981), um psicanalista antes do seu tempo, cuja verve leva (quase) todos
os seus pacientes a mudarem a sua vida e de objectivos e que surge como figura
tutelar ao longo de toda a trama e com um papel bem determinante no seu
desfecho devido ao seu desejo de… ser grão-vizir no lugar do grão-vizir!
A reter
- O humor presente na maior parte dos trocadilhos e jogos de
palavras.
- A colagem à actualidade francesa, o que poderá ser, sem
dúvida, (mais) um trunfo para o êxito desta obra no país de origem mas um óbice
à sua tradução.
Menos conseguido
- O visual menos conseguido do califa Haroun El Poussah, que
contrasta com o restante trabalho gráfico de Nicolas Tabary, equilibrado embora
algo parco em cenários e pormenores.
- A perda de ritmo ao longo do livro e os excessos de texto
já referidos.