Maurice Rosy e Kornblum (argumento)
Derib (desenho)
Dupuis (Bélgica, Outubro de 2010)
218 x 230 mm, 240 p., cor, cartonado
Resumo
Attila é um cão que, por ter sido objecto de experiências científicas adquiriu a capacidade de falar e de andar erecto. Transformado em agente dos serviços secretos suíços, haveria de viver cinco aventuras longas e duas curtas.
Os quatro primeiros álbuns – “Un métier de chien”, “Attila au chateau”, “Le mystère Z14” e “La merveilleuse surprise d’Odée” – publicados entre 1967 e 1973, e as duas histórias curtas, datadas de 1969 e 1970, estão incluídas no presente volume. Ou seja, todas as desenhadas por Derib. De fora ficou apenas “Bak et Flak étonnent Attila”, desenhado por Didgé, muito mais tarde, em 1987.
Desenvolvimento
Série menor – pode dizer-se, pela duração e pela importância - dos anos de ouro da revista Spirou, “Attila” tem mesmo assim motivos de sobra que justifiquem a sua leitura, ainda para mais numa bela edição como esta.
Correspondendo à imagem gráfica que geralmente se associa à revista – o traço semi-realista de Derib só surgiria anos depois – com personagens simpáticas, agradáveis e de narizes grandes, privilegia o relato misto de aventura e humor (maioritariamente baseado nas situações causadas pela dupla condição de Attila: cão/quase humano e pelas trapalhadas de Bourrilon), com bastante acção e sem momentos mortos. O seu tom inicial, aconselha-o maioritariamente para um público infanto-juvenil (de quem fez as delícias na altura da sua publicação), pela forma como consegue apelar ao seu imaginário rico e diversificado, mas a consistência das histórias e o bom ritmo narrativo possibilitam um bom par de horas de leitura leve e descontraída a qualquer apreciador de BD.
Na história inicial, de apresentação do herói e de alguns dos seus companheiros e adversários habituais, Attila surge na peugada de espiões que pretendem roubar documentos secretos da Suíça. No entanto, rapidamente a sua indisciplina e a sua capacidade de iniciativa levam-no para outro tipo de confusões e para aventuras mais quotidianas, em especial protegendo o pequeno Odée, que conhece por acidente, herdeiro de um castelo que desperta muitos interesses.
Ao lado de Attila, actua normalmente o trapalhão Bourrilon, que teoricamente lhe deve servir de cobertura, tendo o protagonista várias vezes à ajuda e cobertura de um coronel do exército suíço; mais tarde – anunciando o declínio da série e a derrapagem para o tom de ficção-científica – aparecerá Z14, outro cão falante e o responsável por esse facto, o inventor e cientista Professor Comant. Todos juntos terão que fazer frente a Grismouron, o interesseiro tutor de Odée, e a Labouf e Lerazé, os seus pouco dotados cúmplices.
Curioso é notar como os quatro álbuns (e, mais tarde, também o quinto), publicados com meses ou anos de intervalo, funcionam como um todo, com cada nova aventura a começar exactamente no mesmo momento e no local onde a anterior terminara, o que permite lê-las como se de um todo se tratasse, o que é reforçado pelo (re)aparecimento constante daqueles que pareciam protagonistas menores.
A reter
- Mais uma vez a qualidade desta edição integral: o papel, o preço, o dossier inicial que conta a história e o percurso do herói e dos seus autores.
- O humor e a simplicidade do relato – apesar disso bem escrito e desenvolvido – reflexo de um outro tempo e de outra maneira de fazer BD.
Menos conseguido
- A forma como o tom dos relatos vai mudando ao longo do volume, afastando-se progressivamente das “histórias de fadas” que Odée tanto aprecia e transformando-se (quase) em pura ficção-científica, com laboratórios secretos, engenhos voadores e improváveis viagens à Lua, desenquadrados do traço utilizado por Derib. Não admira que este tenha decidido abandonar a série após o quarto álbum.
- Sei que editorialmente estes volumes – talvez por razões funcionais ou práticas – costumam ser limitados a 240 (suculentas) páginas, mas foi pena que o 5º tomo das aventuras de Attila não tenha sido incluído na edição, mesmo tendo sido desenhado 14 anos depois por outro autor e sem conhecimento dos argumentistas (!), uma vez que a história existia desde o final do tomo 4 e surge na sequência das anteriores.
Curiosidades
- Este é um trabalho dos primórdios da carreira do grande Derib – saído do estúdio de Peyo onde trabalhava nos Schtroumpfs (!) – bem longe ainda do estilo e da temática western que o faria notado com “Buddy Longway”, “Celui qui est né deux fois” ou “Red Road”.
- A primeira história de Attila foi publicada em Portugal, no suplemento Quadradinhos, do jornal A Capital, na sua segunda série, entre 1972 e 1974. Foi em bicromia e sob o título “Ofício de cão”, como mostra a prancha aqui reproduzida.
- “Attila no castelo”, foi um dos títulos que integrou a revista Spirou (2ª série), em 1979.