Nelson Martins
Miguel Rocha
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01/11/2011
Tintin por... (II)
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Tintin por...
02/07/2010
Entrevista com Nelson Martins
Chama-se Nelson Martins, tem 37 anos, é formado em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e foi co-fundador e sócio da empresa de webdesign Nitrodesign, entre 1998 e 2004. Actualmente ocupa o seu tempo como webdesigner, ilustrador e cartoonista freelancer. E acaba de publicar em França o seu primeiro álbum, Tout sur les célibataires, nas Joker Éditions.
- Como chegaste à banda desenhada?
Nelson Martins - Em miúdo, ler era para mim uma das actividades mais interessantes, em especial ler BD.
Muitos dos meus amigos da altura partilhavam esse gosto. Como tinha também o gosto pelo desenho, isso acabou naturalmente por levar à BD como forma divertida de criar e contar histórias.
- Porquê a opção por um traço humorístico, algo que é raro em Portugal?
Nelson Martins - Isso terá sido influência do tipo de BD que sempre preferi ler. Comecei a ler os “clássicos” Patinhas, Astérix, Spirou e apesar de depois ter conhecido estilos mais afastados do humorístico, como Corto Maltese, Moebius (para dar alguns dos exemplos mais conhecidos) e diversos outros mais recentes, o estilo humorístico diverte-me mais e é esse que desenho com mais frequência. Mesmo que essa possa não ser a corrente predominante em Portugal. O género aventura também me agrada, assim como um mix de aventura com humor.
- Tinhas algo publicado anteriormente?
Nelson Martins - Publiquei durante alguns anos em jornais regionais e suplementos de jornais nacionais, como o DN Jovem e o Correio da Manhã. Na forma de tiras ou de histórias de uma prancha.
Mais recentemente, participei em três séries de tiras de BD semanal para a internet (em co-produção com o Pedro Couto e Santos):
- “Os Especialistas”, para a revista online Digito.pt
- “País dos Sapos”, para o Sapo.pt
- “Os Especialistas”, para o Sapo.pt (canal de tecnologia)
A minha participação em fanzines resume-se a um caso pontual e em termos de álbuns, esta é mesmo a estreia.
- Como surgiu esta oportunidade de editar um álbum em França?
Nelson Martins - Esta oportunidade, na verdade, resultou da decisão de fazer um álbum de BD, quaisquer que fossem as probabilidades de o publicar.
Os testemunhos de alguns autores e de outras pessoas ligadas à BD em Portugal levavam a crer que publicar em Portugal não era tarefa muito fácil.
De qualquer forma, por volta de 2004 comecei a discutir com um amigo meu dos tempos de faculdade (e também sócio co-fundador da Nitrodesign), o Pedro Couto e Santos, a ideia para um álbum intitulado “Lig e Mandu – os Crápulas da Montanha”, uma história de aventuras com humor à mistura.
Divertia-nos a ideia de fazer um álbum e parecia-nos que, pela diferença de estilo, teria hipóteses de ser publicado. Uma ideia a ir desenvolvendo à medida que a nossa actividade profissional permitisse.
Entre 2006 e 2008 o argumento começou a ser desenvolvido, depois esbocei cerca de 60 páginas e finalizámos algumas. Foi esse projecto que levei ao Festival Internacional de BD de Angouléme, um mercado com mais oportunidades do que o nacional.
No festival contactei uma grande quantidade de editoras e houve algumas respostas mais entusiastas, uma em especial por parte das Éditions Joker. Numa primeira abordagem as editoras avaliam quase exclusivamente o aspecto gráfico do trabalho e foi esse o feedback que recebi, ficando a história dos crápulas da montanha à espera de outro desenvolvimento.
De volta a Portugal recebi desta editora Joker o convite para a produção de 3 pranchas a partir de um argumento existente, a título de teste. A experiência correu bem e o projecto foi-me entregue.
O argumento é da autoria de Valéry Der-Sarkissian, um argumentista francês que se estreia também assim neste álbum.
- Em que moldes trabalhaste com o argumentista?
Nelson Martins - O Valéry enviou-me o argumento em texto, com algumas indicações em relação ao layout.
O livro é uma sequência de gags humorísticos de uma prancha. Para cada prancha, o argumentista indica a quantidade de vinhetas e para cada vinheta a descrição da cena e os diálogos correspondentes entre os personagens. São indicações e funcionam apenas como tal, porque é necessário por vezes alterar essa planificação para melhor ilustrar o gag.
Para além disso enviou-me uma série de informações adicionais sobre a arquitectura do edifício do Tribunal Administrativo que serve de inspiração para o cenário onde decorrem a maioria dos gags, para definirmos mais solidamente o espaço da história.
- Como foram definidas as personagens?
Nelson Martins - Em conjunto com o argumento, recebi uma descrição breve dos 6 personagens principais, três homens
(Henri, Philippe e M. Merriot) e 3 mulheres (Océane, Marion e Rani), todos personagens solteiros.
A descrição incluía uma sugestão dos traços físicos e de personalidade de cada um. (Ex: Henri - perdidamente apaixonado pela Marion, trabalha no balcão central de atendimento do Tribunal Administrativo. Lamenta não viver no século XIX.) A interpretação gráfica dos personagens ficou a meu cargo.
À medida que as pranchas vão surgindo, as personalidades de cada personagem vão-se definindo mais um pouco, de forma que desenhar um gag com um ou com outro personagem é diferente.
- Qual a maior dificuldade que tiveste?
Nelson Martins - O projecto correu sempre bastante bem, incluindo a colaboração com o argumentista com quem estive sempre em contacto e foi sempre o primeiro a receber cada nova prancha.
A maior dificuldade foi mesmo conciliar os projectos de webdesign, que já tinha em curso, com a produção do álbum. Mas, com um trabalho redobrado, sobretudo nos 3 meses anteriores à entrega do álbum, pude acabar no prazo previsto.
- Houve pranchas recusadas ou que tiveste de modificar?
Nelson Martins - Praticamente todas as pranchas foram aceites sem reservas, havendo apenas uma ou duas com o final ligeiramente alterado para reforçar a “punch-line”. Da capa é que tive de fazer algumas versões diferentes.
- Quanto tempo demorou a desenhar e colorir o álbum?
Nelson Martins - O álbum teve início em Junho de 2009 e foi terminado em Abril deste ano. No entanto, pelas razões profissionais que referi, só nos últimos 3 meses pude trabalhar a tempo inteiro no álbum.
- Que resumo fazes desta experiência?
Nelson Martins - A minha intenção inicial era recomeçar a fazer BD e progredir como desenhador e autor. Posso dizer que isso aconteceu; aprendi muito com a experiência sobre a criação de um álbum de BD e notei a evolução ao longo dessa experiência. E mesmo quando o trabalho redobrou na fase final do projecto, iniciar uma nova prancha foi sempre aliciante.
Também pude ver que é possível fazer da banda-desenhada uma actividade mais profissional do que inicialmente pensava, desde que haja o apoio de uma editora.
- Há alguma previsão do álbum vir a ser publicado em Portugal? Gostavas que isso acontecesse?
Nelson Martins - Não há ainda previsão, mas com o primeiro exemplar em mãos, conto ir apresentar o álbum a algumas editoras portuguesas.
Gostava que o livro fosse publicado em português, a minha língua de origem. Para além disso seria também uma contribuição para o nosso mercado de BD, que precisa de mais actividade para cativar o interesse do público para este género de leitura.
- E agora, o que se segue?
Nelson Martins - A intenção inicial da Joker é fazer deste livro o primeiro de uma série. No entanto, teremos de esperar para ver a reacção do mercado franco-belga.
- Que ambições tens dentro da BD? Que projectos gostavas de concretizar?
Nelson Martins - Como já antes pensava e agora pude confirmar, é a prática envolvida nestes projectos maiores de BD que trazem experiência ao autor. Por isso gostaria de continuar a ter projectos do género, que apoiados por uma editora me permitam continuar a fazer BD de forma profissional e não apenas como hobbie.
Na BD e noutras formas de expressão artística, acho que o autor quer sempre evoluir e fazer coisas estimulantes. Gostaria de continuar a fazer BD que me divirta e inspire, assim como a quem a lê. Neste momento, enquanto aguardo a continuação da Joker, penso em formas de retomar a ideia original de “Lig e Mandu, os Crápulas da Montanha”.
(Texto integral da entrevista que serviu de base ao artigo publicado no Jornal de Notícias de 19 de Junho de 2010)
- Como chegaste à banda desenhada?
Nelson Martins - Em miúdo, ler era para mim uma das actividades mais interessantes, em especial ler BD.
Muitos dos meus amigos da altura partilhavam esse gosto. Como tinha também o gosto pelo desenho, isso acabou naturalmente por levar à BD como forma divertida de criar e contar histórias.
- Porquê a opção por um traço humorístico, algo que é raro em Portugal?
Nelson Martins - Isso terá sido influência do tipo de BD que sempre preferi ler. Comecei a ler os “clássicos” Patinhas, Astérix, Spirou e apesar de depois ter conhecido estilos mais afastados do humorístico, como Corto Maltese, Moebius (para dar alguns dos exemplos mais conhecidos) e diversos outros mais recentes, o estilo humorístico diverte-me mais e é esse que desenho com mais frequência. Mesmo que essa possa não ser a corrente predominante em Portugal. O género aventura também me agrada, assim como um mix de aventura com humor.
- Tinhas algo publicado anteriormente?
Nelson Martins - Publiquei durante alguns anos em jornais regionais e suplementos de jornais nacionais, como o DN Jovem e o Correio da Manhã. Na forma de tiras ou de histórias de uma prancha.
Mais recentemente, participei em três séries de tiras de BD semanal para a internet (em co-produção com o Pedro Couto e Santos):
- “Os Especialistas”, para a revista online Digito.pt
- “País dos Sapos”, para o Sapo.pt
- “Os Especialistas”, para o Sapo.pt (canal de tecnologia)
A minha participação em fanzines resume-se a um caso pontual e em termos de álbuns, esta é mesmo a estreia.
- Como surgiu esta oportunidade de editar um álbum em França?
Nelson Martins - Esta oportunidade, na verdade, resultou da decisão de fazer um álbum de BD, quaisquer que fossem as probabilidades de o publicar.
Os testemunhos de alguns autores e de outras pessoas ligadas à BD em Portugal levavam a crer que publicar em Portugal não era tarefa muito fácil.
De qualquer forma, por volta de 2004 comecei a discutir com um amigo meu dos tempos de faculdade (e também sócio co-fundador da Nitrodesign), o Pedro Couto e Santos, a ideia para um álbum intitulado “Lig e Mandu – os Crápulas da Montanha”, uma história de aventuras com humor à mistura.
Divertia-nos a ideia de fazer um álbum e parecia-nos que, pela diferença de estilo, teria hipóteses de ser publicado. Uma ideia a ir desenvolvendo à medida que a nossa actividade profissional permitisse.
Entre 2006 e 2008 o argumento começou a ser desenvolvido, depois esbocei cerca de 60 páginas e finalizámos algumas. Foi esse projecto que levei ao Festival Internacional de BD de Angouléme, um mercado com mais oportunidades do que o nacional.
No festival contactei uma grande quantidade de editoras e houve algumas respostas mais entusiastas, uma em especial por parte das Éditions Joker. Numa primeira abordagem as editoras avaliam quase exclusivamente o aspecto gráfico do trabalho e foi esse o feedback que recebi, ficando a história dos crápulas da montanha à espera de outro desenvolvimento.
De volta a Portugal recebi desta editora Joker o convite para a produção de 3 pranchas a partir de um argumento existente, a título de teste. A experiência correu bem e o projecto foi-me entregue.
O argumento é da autoria de Valéry Der-Sarkissian, um argumentista francês que se estreia também assim neste álbum.
- Em que moldes trabalhaste com o argumentista?
Nelson Martins - O Valéry enviou-me o argumento em texto, com algumas indicações em relação ao layout.
O livro é uma sequência de gags humorísticos de uma prancha. Para cada prancha, o argumentista indica a quantidade de vinhetas e para cada vinheta a descrição da cena e os diálogos correspondentes entre os personagens. São indicações e funcionam apenas como tal, porque é necessário por vezes alterar essa planificação para melhor ilustrar o gag.
Para além disso enviou-me uma série de informações adicionais sobre a arquitectura do edifício do Tribunal Administrativo que serve de inspiração para o cenário onde decorrem a maioria dos gags, para definirmos mais solidamente o espaço da história.
- Como foram definidas as personagens?
Nelson Martins - Em conjunto com o argumento, recebi uma descrição breve dos 6 personagens principais, três homens
(Henri, Philippe e M. Merriot) e 3 mulheres (Océane, Marion e Rani), todos personagens solteiros.
A descrição incluía uma sugestão dos traços físicos e de personalidade de cada um. (Ex: Henri - perdidamente apaixonado pela Marion, trabalha no balcão central de atendimento do Tribunal Administrativo. Lamenta não viver no século XIX.) A interpretação gráfica dos personagens ficou a meu cargo.
À medida que as pranchas vão surgindo, as personalidades de cada personagem vão-se definindo mais um pouco, de forma que desenhar um gag com um ou com outro personagem é diferente.
- Qual a maior dificuldade que tiveste?
Nelson Martins - O projecto correu sempre bastante bem, incluindo a colaboração com o argumentista com quem estive sempre em contacto e foi sempre o primeiro a receber cada nova prancha.
A maior dificuldade foi mesmo conciliar os projectos de webdesign, que já tinha em curso, com a produção do álbum. Mas, com um trabalho redobrado, sobretudo nos 3 meses anteriores à entrega do álbum, pude acabar no prazo previsto.
- Houve pranchas recusadas ou que tiveste de modificar?
Nelson Martins - Praticamente todas as pranchas foram aceites sem reservas, havendo apenas uma ou duas com o final ligeiramente alterado para reforçar a “punch-line”. Da capa é que tive de fazer algumas versões diferentes.
- Quanto tempo demorou a desenhar e colorir o álbum?
Nelson Martins - O álbum teve início em Junho de 2009 e foi terminado em Abril deste ano. No entanto, pelas razões profissionais que referi, só nos últimos 3 meses pude trabalhar a tempo inteiro no álbum.
- Que resumo fazes desta experiência?
Nelson Martins - A minha intenção inicial era recomeçar a fazer BD e progredir como desenhador e autor. Posso dizer que isso aconteceu; aprendi muito com a experiência sobre a criação de um álbum de BD e notei a evolução ao longo dessa experiência. E mesmo quando o trabalho redobrou na fase final do projecto, iniciar uma nova prancha foi sempre aliciante.
Também pude ver que é possível fazer da banda-desenhada uma actividade mais profissional do que inicialmente pensava, desde que haja o apoio de uma editora.
- Há alguma previsão do álbum vir a ser publicado em Portugal? Gostavas que isso acontecesse?
Nelson Martins - Não há ainda previsão, mas com o primeiro exemplar em mãos, conto ir apresentar o álbum a algumas editoras portuguesas.
Gostava que o livro fosse publicado em português, a minha língua de origem. Para além disso seria também uma contribuição para o nosso mercado de BD, que precisa de mais actividade para cativar o interesse do público para este género de leitura.
- E agora, o que se segue?
Nelson Martins - A intenção inicial da Joker é fazer deste livro o primeiro de uma série. No entanto, teremos de esperar para ver a reacção do mercado franco-belga.
- Que ambições tens dentro da BD? Que projectos gostavas de concretizar?
Nelson Martins - Como já antes pensava e agora pude confirmar, é a prática envolvida nestes projectos maiores de BD que trazem experiência ao autor. Por isso gostaria de continuar a ter projectos do género, que apoiados por uma editora me permitam continuar a fazer BD de forma profissional e não apenas como hobbie.
Na BD e noutras formas de expressão artística, acho que o autor quer sempre evoluir e fazer coisas estimulantes. Gostaria de continuar a fazer BD que me divirta e inspire, assim como a quem a lê. Neste momento, enquanto aguardo a continuação da Joker, penso em formas de retomar a ideia original de “Lig e Mandu, os Crápulas da Montanha”.
(Texto integral da entrevista que serviu de base ao artigo publicado no Jornal de Notícias de 19 de Junho de 2010)
Leituras relacionadas
entrevista,
Joker,
Nelson Martins,
Tout sur les célibataires
30/06/2010
Tout sur les célibataires
Valéry Der-Sarkissian (argumento)
Nelson Martins (desenho)
Joker Éditions (França, Junho de 2010)
225 x 297 mm, 48 p., cor, cartonado
Resumo
Henri, Philippe, M. Merriot, Océane, Marion e Rani são solteiros em busca de um objectivo (leia-se parceiro/a) para as suas vidas. Mesmo que na prática pareça mais que se esforçam por afastar todos os pretendentes do que por atraí-los.
Desenvolvimento
Tout sur les celibataires é um álbum que vem na esteira de uma longa tradição da banda desenhada franco-belga, que assenta numa estrutura de pranchas auto-conclusivas, de tom humorístico, que giram em torno de um mesmo tema. No caso, os solteiros, um género cada vez mais presente (e cada vez até mais tarde) nas sociedades ocidentais.
A partir de seis protagonistas, colegas de trabalho e amigos/inimigos de estimação, conforme os casos e as situações, explora muitas das temáticas e das formas de vida que lhe estão associadas: o (difícil) estabelecimento de relações, a sedução, a conquista (ou não), as orientações sexuais, os impeditivos para o sucesso amoroso, o (ainda) viver em casa da mamã, a excessiva idealização dos pretendentes, os jantares solitários, as conversas de amigos, os grupos de encontros, speed-dating, etc.
E o argumentista fá-lo com humor, conseguindo diversificar e inovar apesar de aparentemente ter uma galeria de protagonistas limitada e pouca liberdade temática, o que na prática não se verifica, pois a forma como as vai explorando e as diferentes abordagens conduzem a gags diversos, que com frequência obrigam o leitor a (pelo menos) sorrir. Ao mesmo tempo que permitem reflectir e analisar a forma como a sociedade e o estabelecimento de relações tem mudado com os tempos…
Para nós, portugueses, este álbum tem um atractivo extra: marca a estreia profissional de Nelson Martins como desenhador (profissional) de BD, e o mínimo que se pode dizer é que o resultado é prometedor, pois revela um bom domínio da planificação e da cor, um traço vivo, ágil, expressivo e dinâmico, bem adaptado ao conceito e ao estilo em que assenta o álbum, e mesmo com alguns toques de originalidade, como é o caso dos bigodes de alguns dos intervenientes, graficamente bem definidos e distintos, contribuindo de forma concreta para a leitura agradável do álbum.
A reter
- A forma mordaz como é (re)visitado o celibato (forçado…), tão em voga nos nossos dias…
- O traço humorístico de Nelson Martins, estilo raramente cultivado em Portugal.
- O sucesso de mais um autor nacional que fez o seu trabalho de casa e foi à procura de editor, num país onde eles existem…
Nelson Martins (desenho)
Joker Éditions (França, Junho de 2010)
225 x 297 mm, 48 p., cor, cartonado
Resumo
Henri, Philippe, M. Merriot, Océane, Marion e Rani são solteiros em busca de um objectivo (leia-se parceiro/a) para as suas vidas. Mesmo que na prática pareça mais que se esforçam por afastar todos os pretendentes do que por atraí-los.
Desenvolvimento
Tout sur les celibataires é um álbum que vem na esteira de uma longa tradição da banda desenhada franco-belga, que assenta numa estrutura de pranchas auto-conclusivas, de tom humorístico, que giram em torno de um mesmo tema. No caso, os solteiros, um género cada vez mais presente (e cada vez até mais tarde) nas sociedades ocidentais.
A partir de seis protagonistas, colegas de trabalho e amigos/inimigos de estimação, conforme os casos e as situações, explora muitas das temáticas e das formas de vida que lhe estão associadas: o (difícil) estabelecimento de relações, a sedução, a conquista (ou não), as orientações sexuais, os impeditivos para o sucesso amoroso, o (ainda) viver em casa da mamã, a excessiva idealização dos pretendentes, os jantares solitários, as conversas de amigos, os grupos de encontros, speed-dating, etc.
E o argumentista fá-lo com humor, conseguindo diversificar e inovar apesar de aparentemente ter uma galeria de protagonistas limitada e pouca liberdade temática, o que na prática não se verifica, pois a forma como as vai explorando e as diferentes abordagens conduzem a gags diversos, que com frequência obrigam o leitor a (pelo menos) sorrir. Ao mesmo tempo que permitem reflectir e analisar a forma como a sociedade e o estabelecimento de relações tem mudado com os tempos…
Para nós, portugueses, este álbum tem um atractivo extra: marca a estreia profissional de Nelson Martins como desenhador (profissional) de BD, e o mínimo que se pode dizer é que o resultado é prometedor, pois revela um bom domínio da planificação e da cor, um traço vivo, ágil, expressivo e dinâmico, bem adaptado ao conceito e ao estilo em que assenta o álbum, e mesmo com alguns toques de originalidade, como é o caso dos bigodes de alguns dos intervenientes, graficamente bem definidos e distintos, contribuindo de forma concreta para a leitura agradável do álbum.
A reter
- A forma mordaz como é (re)visitado o celibato (forçado…), tão em voga nos nossos dias…
- O traço humorístico de Nelson Martins, estilo raramente cultivado em Portugal.
- O sucesso de mais um autor nacional que fez o seu trabalho de casa e foi à procura de editor, num país onde eles existem…
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