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29/05/2012

Corpo de Delito










Iramir Araújo e Bruno Azevedo (argumento)
Beto Nicácio, Marcos Caldas, Ronilson Freire, Carlos Sales, Salomão Júnior e Luiz Saidenberg (desenho)
Edição de autor (Brasil, 2006)
210 x 280 mm, 68 p., pb, capa fina




1.       Se há algo que surpreende (e causa inveja) no panorama actual dos qua(dra)dinhos brasileiros é a diversidade de propostas.
2.      E não me refiro sequer há multiplicidade de traduções – onde a par dos habituais comics norte-americanos e mangas asiáticos, há um leque cada vez mais variado de bandas desenhadas ditas independentes e franco-belgas - …
3.      … mas sim à forma como se têm multiplicado as obras de autores locais, esparsas pelos mais variados, géneros, estilos e propostas temáticas.

4.      Embora já com alguns anos, este “Corpo de Delito” é mais um exemplo dessa variedade.
5.      E um exemplo de determinação e perseverança, pois é o resultado de uma longa génese, uma vez que o seu protagonista, o detective Augusto “Caolho” dos Anjos, surgiu pela primeira vez em 1992, teve uma (também) breve segunda vida em 1997, seguida de uma nova hibernação até 2005 para ter direito a (esta) publicação própria.
6.      Que surpreende desde logo pelo seu aspecto, a fazer lembrar as “velhas” revistas – “gibis”!, de que guardo alguns exemplares herdados dos meus tios - dos anos 1940 e 1950, com capa colorida e interior a preto e branco, papel (fraco) de jornal (cuja baixa gramagem e consequente transparência potencia o seu maior defeito, a impressão).
7.      Policial duro e violento, ambientado na cidade de São Luís, no Maranhão, Brasil – e este é um dos seus trunfos, a localização da acção em cenário real, facilmente identificável o que credibiliza a narração e prende o leitor local – é protagonizado por “Caolho” dos Anjos, um detective que não olha a meios para atingir os seus fins, amigo e frequentador de prostitutas e capaz de acordos com gente à margem da lei, mas caído em desgraça e mesmo despedido por se ter atrevido a incomodar um político poderoso.
8.     No total são sete histórias curtas, desenhadas em diferentes épocas por vários artistas - de comum a todos a urgência do traço, o soltar das histórias a contar - o que provoca alguns desequilíbrios, insuficientes para prejudicar a leitura, dada a planificação, variada e ágil, assente numa sucessão de planos que garantem o ritmo elevado imposto pelos argumentos…
9.      … onde ressaltam os diálogos, contidos e realistas como o tema obrigava.
10.  Sete histórias curtas, dizia eu, de tom agreste e realismo incómodo (pela proximidade de casos que recorrentemente ouvimos nas notícias ou lemos nos jornais), ao longo das quais vamos conhecendo o protagonista – sem que isso implique simpatizar com ele… - bem como aqueles que com ele convivem, entre os quais a sua namorada Ana, que terá papel preponderante nestas histórias de muita adrenalina, cujo final, está longe se poder ser considerado feliz, em mais uma – incómoda – tangência à realidade.


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