Enki Bilal (capa)
Sophia Aram, Russell Banks, Daryl Cagle, CharlÉlie, Jerome Charyn, Roger Cohen, Jacques Ferrier, Jean-Luc Hees, Barbara Hendricks, Miles Hyman, Jul, Lorenzo Mattotti, José Muñoz, Plantu, Joe Sacco, Carlos Sampayo, Fabienne Sintes e Art Spiegelman
Casterman + Radio France (França, 17 de Agosto de 2011)
187 x 260, 208 p., pb e cor, brochado com badanas
22,50 €
Resumo
Obra colectiva que reúne autores de um e outro lado do Atlântico que reflectem sobre as mudanças que os atentados de 11 de Setembro de 2001 provocaram nos Estados Unidos, no sonho e nos ideais norte-americanos.
DesenvolvimentoEste é um livro diferente, pensado pelos jornalistas franceses Pascal Dellanoy e Jean-Christophe Ogier, que junta em parcerias ou diálogos autores francófonos ou norte-americanos, oriundos das mais diversas áreas: jornalistas, cartoonistas, escritores, arquitectos, ilustradores, músicos, autores de BD, fotógrafos…
A base, para (quase) todos, é a mesma: reflectir sobre o que mudou com os atentados de há uma década. E a respostas, em forma de ficção ou reflexivas, críticas dos atentados e das acções (retaliatórias) que se lhe seguiram, são maioritariamente marcadas pelo pessimismo, a desilusão, a dúvida. Naturalmente. Mas sem esconder (algum) fascínio, e, no fundo, a crença que continuam a depositar numa América capaz de os surpreender.

Em termos práticos, é evidente que o que melhor funciona são os cartoons, no saboroso e (apesar de tudo) divertido diálogo entre Cagle e Plantu.
É, no entanto, nalguns dos textos escritos que o tema é melhor esmiuçado e é neles que se cumpre melhor o propósito do livro: fornecer ao leitor pistas, pontos de partida, indicações para elaborar a sua própria reflexão sobre o tema.
Para quem tem maior interesse pela BD – a maioria dos leitores deste blog, suponho – para além da bela capa de Bilal, o destaque vai para a criação de Joe Sacco, desta vez despido da sua farda de BD-jornalista, enveredando por um relato com (invulgar) tom de ficção-científica, numa viagem a um aterrador futuro dos EUA. Muñoz e Sampayo, com o tom negro e desiludido que os caracteriza mostram como os emigrantes estão (sempre) por detrás dos (sonhos) norte-americanos, desta vez com uma viagem à cozinha do império. Miles Hyman, nova-iorquino que reside em Paris traça um retrato sombrio de uns EUA transformados em vítimas de uma hiper-segurança obsessiva.
De uma obra com estas características, aberta para permitir ao leitor, claramente apontada para lá do mercado tradicional de banda desenhada, ressalta o facto de as participações aos quadradinhos ombrearem perfeitamente com as outras formas de expressão, por alguns ditas “mais nobres”, ganhando em expressividade sem perder profundidade ou capacidade de afirmar posições.A reter
- A qualidade dos nomes reunidos nesta obra.
- O tom da obra, que privilegia a reflexão sobre o futuro em detrimento da homenagem ou da evocação, partilhando pistas e sinais com o leitor.
- As participações dos cartoonistas Cagle, Jul e Plantu.
Menos conseguido- O facto de a participação de Art Spigelman, um nome com muito peso e com diversos trabalhos sobre o tema, se limitar a respostas a uma entrevista (ilustradas por Mattotti), embora com muito para reflectir.
- A inexistência de uma edição portuguesa, que pode de alguma forma ser compensada pela edição brasileira da Record/Galera, já disponível.



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