
Jornalista e editor de uma estatura excepcional, Jean-Paul Mougin foi, no final dos anos 70, o mítico fundador da revista (ÀSuivre), lançado pelas Edições Casterman, periódico de que assumiu a direcção continuamente durante 20 anos, escrevendo assim algumas das mais belas páginas da história da banda desenhada europeia. Retirado do mundo da edição há uma dúzia de anos, manteve, no entanto, um olhar atento sobre a criação em banda desenhada.

Formado na televisão, no tempo da ORTF, e expulso do serviço público na sequência do movimento de 68, muito sensível à imagem sob todas as suas formas, Jean-Paul Mougin começou nos quadradinhos na redacção do semanário Pif Gadget, onde aprendeu a reconhecer e a apreciar as grandes assinaturas da época: Jean-Claude Forest, Paul Gillon, Nikita Mandryka, Gotlib...
Teve um papel decisivo no lançamento da carreira francesa daquele que viria a tornar-se seu amigo para sempre, Hugo Pratt. Alguns anos mais tarde, o autor de Corto, cujos álbuns tinham começado a ser publicados pela Casterman, apresentou por sua vez Jean-Paul Mougin ao seu editor. O projecto (À Suivre) iria nascer desse encontro.



Para mim – como para muitos da minha geração – a (À Suivre) foi um marco.
Uma revista – no tempo em que elas existiam e eram fundamentais – cujo trajecto apanhei já a sua vida ia longa, mas ainda a tempo de (re)descobrir uma nova forma de ser e fazer banda desenhada, adulta, apelativa, desafiante, estimulante, nas assinaturas de Tardi, Schuiten e Peeters, Pratt e Manara, Comés, Muñoz e Sampayo, Geluck, Boucq, Bourgeon, Cabanes… Sim a lista é longa… e impressionante!
Possivelmente, a (À Suivre) foi o veículo que me permitiu continuar a ler BD, dar o salto da juventude para a idade adulta com os quadradinhos, transitar da BD de aventuras para o romance desenhado.
Por isso, o meu obrigado a Jean-Paul Mougin porque sem ele, quem sabe, talvez não estivesse hoje aqui a escrever, talvez não tivesse feito da BD o centro da minha vida profissional, talvez não tivesse mantida acesa a chama da paixão que nutro por uma forma única de expressão.
(À Suivre) foi uma revista que nos marcou a todos, aos que ainda eram jovens em 1978 e nos anos 80, e aos já menos jovens; foi um ponto de viragem, a charneira entre duas etapas evolutivas na maneira de fazer (e ler) BD, um «laboratório» de experiências e de infinitas possibilidades para muitos criadores que, de outra forma, tardariam a encontrar o seu caminho e a plenitude do seu discurso pessoal.
ResponderEliminarE foi também o produto de um curioso acaso, de um encontro (fortuito) e de uma amizade entre duas figuras unidas pela mesma paixão dos quadradinhos como forma (lúdica) de arte e de literatura: Mougin e Pratt. Se um descobriu o outro, lançando-o no mundo da BD francófona e expandindo à escala universal o seu nome como criador de Corto Maltese, Pratt descobriu Mougin e a sua vocação para fundir universos paralelos, continuando em (À Suivre), com o cadinho da literatura, a moldar histórias que não poderiam ter nascido de outra maneira, autênticas BD «fleuve» que desaguavam nos oceanos do vanguardismo, da criatividade e da imaginação, para nossa surpresa e encantamento. (Já tinha havido outras, nas décadas anteriores, mas dirigidas a um público que ainda não convivia com as formas literárias).
É pena que Mougin tenha partido tão cedo, mas a sua herança (e a de Pratt) não será esquecida... mesmo quando olhamos, com tristeza, para o panorama da BD actual e lamentamos o desaparecimento de tantas revistas que, como a (À Suivre), foram o único «palco» onde se forjaram novos laços entre os autores e o público (a capa de Tardi, no nº 239, simboliza bem essa relação).
Jorge Magalhães
Caro Jorge magalhães,
ResponderEliminarObrigado pela sua participação, mais avalizada ainda por ser alguém com uma ligação tão forte às revistas de BD que hoje já não temos.
Boas leituras!