20/11/2011

Quarteto Fantástico, 50 anos

Há 50 anos, era editada nos EUA Fantastic Four #1, um comic-book que renovou por completo o género de super-heróis e lançou as bases do universo Marvel que hoje conhecemos.Na realidade, são diversas as opiniões acerca da data exacta de lançamento, por isso conta a data de Novembro impressa na capa da revista, que custava apenas 10 cêntimos de dólar e mostrava quatro super-heróis desconhecidos a combater um monstro que emergia do solo.
A inovação não advinha do conceito – os super-heróis já existiam há mais de duas décadas – nem da sua associação - o primeiro super-grupo, a Justice League of America, na época já fazia sucesso há quase um ano.
Os próprios heróis apresentados eram pouco inovadores: Reed Richards, o senhor Fantástico, lembrava os antecessores Plastic Man (criado por Jack Cole, em 1941) e Elongated Man (John Broome e Carmine Infantino, 1960); Sue Storm, futura senhora Richards e a Mulher Invisível, evocava a Invisible Scarlett O’Neil (Russell Stam, 1940); Johnny Storm homenageava o Tocha Humana original (Carl Burgos, 1939).
O que tornava diferente este quarteto eram as suas relações familiares – Reed e Sue casariam em 1965, Johnny era irmão de Sue – e o modo como funcionavam como uma verdadeira família, partilhando o mesmo tecto e também os problemas do dia-a-dia, comuns aos seus leitores (mortais): contas para pagar, necessidade de emprego, incompatibilidades de temperamentos, problemas de relacionamento ou a obrigação de assumirem as consequências dos seus actos. Para além disso, Reed, um génio inventivo, e a ponderada Sue surgiam como os sustentáculos do grupo, fazendo face às partidas constantes que Johnny, um adolescente tardio mais interessado em carros potentes e bonitas namoradas, pregava ao Coisa, permanentemente deslocado pelo seu aspecto monstruoso.
Ou seja, na prática, havia uma humanização dos super-heróis cuja popularidade estava na época em decréscimo acentuado, substituídos pelas histórias aos quadradinhos de suspense e de terror. Super-heróis que, seguindo estas premissas, voltariam ao topo da popularidade e se multiplicariam nos meses seguintes com a chegada do Homem-Aranha, Hulk, Demolidor ou X-Men.
Os criadores do Quarteto Fantástico foram Stan Lee, então há mais de 20 anos a trabalhar na futura Marvel Comics e na época a pensar mudar de ramo, e Jack Kirby, justamente considerado o “rei dos comics”, que desenhou mais de 2500 páginas das suas aventuras.
O número inaugural do Quarteto Fantástico, narrava a origem dos seus poderes, surgidos após o foguete em que se deslocavam ser bombardeado por raios cósmicos no espaço – uma temática então em voga, dada a corrida espacial que opunha EUA e URSS - com consequências diversas para cada um dos seus componentes, que no entanto decidiram utilizá-los para ajudar a humanidade.
E se alguma vez se perguntou como estica a roupa do sr. Fantástico, por que é que Sue Storm não precisa de se despir antes de se tornar invisível ou porque não arde a roupa de Johnny quando se transforma no Tocha Humana, fique sabendo que não é o primeiro a fazê-lo. Logo após a estreia do Quarteto Fantástico, um leitor escreveu a Stan Lee colocando aquelas questões. Socorrendo-se do génio inventivo de Reed Richards, o escritor introduziu em “Fantastic Four” #6 o conceito de “moléculas instáveis” que formariam um tecido capaz de se adaptar aos super-poderes de quem o usasse.
Dessa forma, Lee respondeu a esse leitor e resolveu um outro problema: a fonte de receitas do Quarteto, que patenteou a invenção passando a fornecer o tecido a quase todos os seus colegas super-heróis da Marvel!
Como complemento, no número de estreia havia o confronto com o Toupeira, a primeira de muitas ameaças que a “super-família” enfrentaria, com destaque para seres monstruosos e extra-terrestres, com o Doutor Destino e Galactus, Skrulls e Krees à cabeça. A partir do terceiro número, o quarteto passou a ter uniformes, um quartel-general e o invulgar “fantasticarro”, recebendo as suas aventuras o subtítulo de “The Greatest Comic Magazine In The World”.
Com o passar do tempo, ao seu lado haveriam de surgir outros super-heróis como o Homem-Aranha, o Surfista Prateado ou Namor. Alguns deles – She-Hulk, Luke Cage, o Homem-Formiga ou, recentemente, o Homem-Aranha - ocuparam mesmo, de forma provisória, um lugar no Quarteto, quer por abandonos temporários, desaparecimentos misteriosos ou falecimentos (a prazo) provocados pela máquina de marketing da Marvel.
O sucesso de papel levou-os à televisão, em desenhos animados, logo em 1967, tendo sido diversos os regressos a este suporte ao longo das décadas, incluindo o direito a uma paródia numa abertura dos SImpsons.
Curiosamente, foi necessário esperar até 1993 para assistir à sua estreia em cinema, interpretados por actores de carne e osso, numa película candidata a pior filme de sempre que a Marvel proibiu. O regresso ao grande ecrã do Quarteto Fantástico – mesmo assim abaixo dos seus pergaminhos em BD - só teria lugar em 2005, num filme homónimo dirigido por Tim Story e protagonizado por Ioan Gruffudd, Jessica Alba, Chris Evans e Michael Chiklis, que regressariam dois anos depois em “Quarteto Fantástico e Surfista Prateado”.
Hoje, meio século depois da sua estreia, se Reed e Sue já foram pais por duas vezes (Franklin nasceu em 1968 e Valeria em 1999, apesar de aparentarem idades próximas!), parece que o tempo não passou por eles e que tudo continua essencialmente na mesma, continuando no topo das preferências dos leitores que, com eles, se continuam a identificar.


(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 15 de Novembro de 2011)

5 comentários:

  1. Pedro, desculpa o off topic, mas perguntei-te num post teu sobre "Hotel" do coreano Boichi, se esse livro estava editado em inglês. Como podes não ter visto a minha pergunta, repito-a novamente!
    :D
    Sabes se está traduzido para inglês?
    :)

    Abraço

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  2. E foi um bom post sobre o Quarteto!
    ;)

    Abraço

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  3. Olá Bongop,
    Não vi realmente a tua pergunta mas também não sei se o Hotel (http://asleiturasdopedro.blogspot.com/2011/11/hotel.html) estará traduzido em inglês...
    E obrigado pelo "bom!
    Boas leituras... em inglês, francês, português ou a língua que tu quiseres!

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  4. Tambem gostei do texto Pedro e Parabens FF.

    OPTIMUS Prime

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  5. Olá Optimus Prime,
    Andavas fugido!
    Ainda bem que gostaste do texto!
    Boas leituras... a teu gosto!

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