Paul Gravett (coordenação)Terry Gilliam (prefácio)
Universe/Cassell (EUA/Inglaterra, Outubro de 2011)
$36.95/£20.00
Lançado nos Estados Unidos no início de Outubro, 1001 Comics You Must Read Before You Die (algo como 1001 bandas desenhadas que deve ler antes de morrer) é uma lista de obras aos quadradinhos fundamentais, compilada pelo especialista britânico Paul Gravett, e que inclui uma criação portuguesa: “O diário de K”, de Filipe Abranches.
Obra a preto e branco, lançada pela Polvo em 2001, “O diário de K.” é uma adaptação livre de “A morte do palhaço”, de Raul Brandão, desenvolvida por Filipe Abranches ao abrigo de uma Bolsa de Criação Literária, na categoria de BD, atribuída pelo Instituto Português do Livro e das Bibliotecas e do Ministério da Cultura.
Se esta é a única obra portuguesa presente no volume com quase 1000 páginas, a participação lusa contou com a consultoria de dois especialistas, Domingos Isabelinho e Pedro Moura, responsáveis por alguns dos textos que apresentam cada uma das obras seleccionadas.
Este último referiu ao JN ter “participado “no processo de propostas numa fase tardia, pelo que as escolhas estavam já quase fechadas”.
Dos 10 títulos nacionais que entendeu “como "indispensáveis" num contexto de conhecimento mundial, tendo em conta a ausência da sua tradução, a periferia a que pertencemos, a política de géneros mais generalizada, e o estado da arte contemporânea” apenas restou “O Diário de K.” que na sua óptica “é um título inteligente, adulto, contemporâneo e que ficará bem em estantes internacionais” assim possa haver uma tradução.
Pedro Moura considera ainda que 1001 títulos são “já em si uma boa escolha, que não pretende ser nem fechada nem absoluta”. E mesmo admitindo que possam faltar “outros 1001”, considera não haver nenhum “capítulo inteiro ausente de forma gritante”.
Descrito por Gravett como uma “tentativa de fazer uma abordagem histórica aos melhores ou mais significativos títulos do género”, 1001 Comic You Must Read Before You Die, que tem introdução de Terry Gilliam, não pretende de forma alguma criar uma listagem definitiva ou absoluta num meio “tão internacionalizado e em constante fluxo”.
As 1001 bandas desenhadas escolhidas – que, de forma estranha, inclui obras únicas, como Maus, Persépolis ou Palestina, títulos individuais de algumas histórias de Astérix, Batman, Corto Maltese ou Tintin, e séries no seu todo, como acontece com Alix, The Spirit ou o Superman de Siegel e Schuster – cobrem um período de 174 anos, começando com o precursor “Les aventures de Monsieur Vieuxbois”, do suíço Rodolphe Töpffer, de 1837 e concluindo com cinco títulos editados já este ano. Embora haja uma maior presença de títulos mais recentes – 214 são da primeira década deste século, 191 da década de 1990 e 152 da década imediatamente anterior – clássicos como Popeye, Krazy Kat, Dick Tracy ou Príncipe Valente não foram esquecidos estando incluídos nesta selecção que abrange as mais díspares temáticas, do biográfico ao western, do humor ao erótico, da BD infantil ao romance, do underground aos super-heróis.
E se Portugal está representado por apenas um título, tal como o Quénia e a Malásia (!), dada a origem do projecto não surpreenderá ninguém que os Estados Unidos sejam o país com maior representação (385 títulos), seguidos de Japão (149), França (123), Inglaterra (80) e Bélgica (63), sendo no total 41 os países contemplados. No entanto, os portugueses encontrarão outros títulos bem familiares, como a Turma da Mônica e Tex distribuídos mensalmente nos nossos quiosques, Cuto, que fez as delícias da geração que leu o Mosquito, ou séries nipónicas mais actuais como Dragon Ball ou Naruto, preferidas das novas gerações.
A reter
- Este livro representa apenas uma selecção. Que, como todas as selecções, vale o que vale. Pode valer mais – vale com certeza - pela reconhecida competência de quem a encabeçou e pela grande quantidade de títulos seleccionados. O que me leva ao ponto seguinte:
- 1001 bandas desenhadas são muitas bandas desenhadas!
- Uma análise breve aos títulos seleccionados, confirmou algo que já sabia: ainda tenho muita BD para ler! Mesmo que tenha lido (nalguns casos só parcialmente) cerca de quatro centenas dos títulos/séries seleccionadas. O próprio Paul Gravett confessa não as ter lido todas – O diário de K é, possivelmente, uma das suas falhas – embora justifique o facto pelo medo de morrer após concluir a leitura das 1001 BD!
Menos conseguido
- A confusão entre episódios e séries integrais, que me parece difícil de justificar, nomeadamente no que diz respeito à banda desenhada europeia.
Desafio
Como disse atrás, li total ou parcialmente cerca de 400 das obras incluídas neste livro. E os leitores deste texto, quantas conhecem? Confiram na lista que está já a seguir e deixem a resposta em forma de comentário.
1001 Comics You Must Read Before You Die
- As obras
- Os autores
- Por países
- Por ano
- Por temáticas
(versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 25 de Outubro de 2011)
Descontando os erros de scroll, li entre 300 a 320...
ResponderEliminar:D
Agora quando a nossa melhor obra de sempre em BD é o Diário de K. ... não há muito dizer!
Eu comprei-a no Amadora BD porque não gosto de falar de cor, e confirmei os meus maiores receios... LOL
Abraço
Bongop, não estejas admirado com as escolhas desta colectânea que é de bradar os céus. Escolha de especialistas. Que especialistas? Tenho assistido a uma parvalheira de elogios a várias obras foram lançadas no Amadora BD... (não consigo compreender como foi possível editá-las quanto mais elogiá-las)
ResponderEliminarSimão
Olá Bongop,
ResponderEliminarAcho que não se pode olhar para este livro como "os 1001 melhores comics" mas sim "1001 comics a ler".
Como todas as selecções, reflecte o ponto de vista de quem a fez. Discutível, sim, sempre. Tu, eu, qualquer pessoa que lê BD, poderia com facilidade acrescentar mais 10, 20 ou 30 títulos sem grande esforço.
E tu, como eu, nem sequer conheces grande parte das obras incluídas. Portanto, ainda tens muito para ler!
Simão:
Complementando o que disse ao Bongop, esta é a escolha pessoal do Paul Gravett, com assessoria de uns quantos especialistas. O seu conhecimento é reconhecido, os seus gostos também...
Pelos vistos o Simão - como eu ou o Bongop - faria outras opções. O que só diz bem da diversidade, da versatilidade e da variedade da BD. E da possibilidade de todos explorarmos os nossos gostos...
Quanto aos títulos a que se refere, editados na Amadora, sem os nomear não podermos discuti-los... com a certeza de que, felizmente, haverá lugar para esses e outros...
Boas 1001 (ou mais) leituras para os dois!
Sim, e as escolhas desses especialistas (como nós também o somos, acho) recaem sobre os títulos que conhecem, isto é, que já leram de facto (espero!). Não conheço muitas obras portuguesas traduzidas para outras línguas, mas, se concluirmos que esta foi escolhida por um especialista português, embora respeitando o seu gosto pessoal, dúvido bastante dos seus critérios de avaliação, considerando 100 anos de BD em Portugal.
ResponderEliminarEsta obras são sempre muito pouco sérias, pois não se apoiam em critérios bem defenidos (ou mesmo, em critérios nenhuns!); o gosto pessoal de cada um pode muitas vezes ir de encontro aos dos outros. Dizer que o comic tal é muito bom "porque sim", "porque eu gosto", "porque eu trabalho nisto há muitos anos e sou infalível" (neste caso, ainda consigo dar uma margem), será infantil.
Portanto, os "especialistas" e muitos outros que se dedicam à elaboração deste tipo de obras (que eu não desgosto! é verdade...) bem podem meter num sítio que eu cá sei alguns dos comics, BD, manga, etc, que afirmam como memoráveis se não explicarem muito bem o porquê das escolhas, com as devidas ressalvas.
Olá de novo!
ResponderEliminarComo já disse atrás, isto não passa de uma escolha de alguém - reconhecido, é verdade - com assessoria de uma série de pessoas também com conhecimentos, mas baseada em critérios que passam pelo gosto pessoal - e como tu dizes pelo que conhece - pelo que nunca deixará de ser subjectivo. E por muito que ele te quisesse explicar ou justificar, em muitos casos estarias sempre em discordância.
Apesar de ter trocado alguns mails com o Pedro Vieira de Moura, que participou na pré-selecção de obras, não sei ao certo como o processo se desenrolou nem qual o critério que levou o Paul Gravett a aceitar O Diário de K. e não outras obras que o PVM sugeriu...
Mas mesmo com todas estas condicionantes - e outras que se poderiam acrescentar - conto aprender e descobrir bastante com a leitura desta obra...
Boas leituras... dos teus 1001 comics favoritos!