Philippe Graton e Denis
Lapière (argumento)
Marc Bourgne e Benjamim Benéteau (desenho)
Graton Éditeur (Bélgica, 16 de Novembro de 2012)
222 x 295 mm, 56 p., cor, cartonado
15,50 €
Resumo
Este é o primeiro tomo de uma “nova temporada” de Michel
Vaillant, agora de regresso às pistas de WTCC após o abandono da Fórmula 1, na
sequência da crise económica de 2008.
A par desta nova experiência automobilística, o campeão
francês vê-se igualmente a braços com a fuga e desaparecimento do seu filho
pós-adolescente.
Introdução
Durante anos (para o bem e para o mal; mais aquele do que
este) uma das principais notas distintivas entre a BD norte-americana (de
super-heróis) e a BD francófona era o forte pendor autoral desta última, uma vez
que as personagens pertenciam aos autores e não aos editores. Spirou era a
excepção mais visível a esta regra.
Nos últimos anos, com a retoma de diversas séries por outros
autores – Blake e Mortimer e Lucky Luke (e em breve Astérix) são os mais
mediáticos mas os exemplos são mais numerosos do que muitos poderão pensar – essa
diferença tem-se esbatido um pouco.
Até porque, em muitos casos, essa retoma – motivada pela
morte ou cansaço dos criadores – tem mais vincado um intuito comercial do que
artístico e as novas histórias limitam-se a repisar ideias que foram boas
quando eram originais ou acabam por descaracterizar os protagonistas.
Michel Vaillant, agora, é o exemplo mais recente de uma
retoma deste género. Embora seja justo destacar que Philippe Graton (filho do
criador do piloto) já assumira os argumentos da série desde 1994.
Desenvolvimento
Como pressupostos – defendidos pelos autores - este regresso
de Michel Vaillant apresenta uma maior ligação à actualidade e à nova relação da
indústria automóvel com a tecnologia e pretende explorar de forma mais profunda
relações e sentimentos dos diversos protagonistas, reforçando a posição basilar
do clã Vaillant nos relatos.
A relação tensa entre os pais do piloto – fruto normal da
idade -, alguns ciúmes de Françoise ou um maior protagonismo da terceira
geração Vaillant são, assim, aspectos presentes e tratados com maior seriedade,
o que contribui para o aumento da credibilidade do relato, competentemente construído, onde os momentos de acção, de introspecção e de diálogo se sucedem a um ritmo bem delineado, sem perder uma certa ingenuidade que faz parte da imagem de marca da série.
A história, como já ficou escrito no resumo, caminha a dois
tempos, entre o mundo das corridas e as relações familiares, com destaque para
o desaparecimento do filho de Michel (que surge no relato como um pai ausente,
algo que há alguns anos seria com certeza impensável).
Graficamente, a nível global, é também dado um passo marcante
na direcção de um maior realismo (embora não tão vincado quanto a capa – de curiosa
textura! - pode dar a entender). Mesmo assim, é notório um maior cuidado com a
figura humana – completamente despojada do traço anguloso de Jean Graton – e uma
grande atenção aos pormenores, sendo fácil encontrar retratados pequenos gestos
quotidianos.
A reter
- O ganho de realismo – a diversos níveis – e de actualidade
que a história apresenta.
- O reforço da componente familiar – e consequentemente
humano – que confere uma credibilidade acrescida ao todo.
Menos conseguido
- Um ou outro desequilíbrio ao nível das expressões faciais
e da anatomia humana.
- As dúvidas sobre as probabilidades reais de êxito de um regresso
às pistas de um piloto com a idade de Michel Vaillant (porque alguns heróis de
BD também envelhecem).
Curiosidades
- Uma parte da história situa-se em Portugal, no circuito de
Portimão - onde um carro “Vaillant” correu (e venceu) realmente este ano - com
uma referência específica ao piloto luso Tiago Monteiro, embora a ficção apresente
um desfecho diferente daquela realidade.
- Um sonoro “yes” nos lábios do piloto francês de quem se
esperaria antes um “oui”!
- A primeira edição inclui, a abrir, uma página em papel
Modigliani de 260 g com os primeiros esquissos do “novo” Michel Vaillant feitos
por Marc Bourgne.
Também reparei de imediato na alteração gráfica deste volume. E apesar de apreciar o realismo na história, este tipo de realismo na arte (neste volume em especial) não gosto. Preferia muito mais os tais traços angulosos de Jean Graton. Quando leio Bd (especialmente Franco-Belga) as particularidades e nuances do traço são tão importantes como no texto. Dão personalidade à obra. Este tipo de arte que se pratica neste volume (e que tem aumentado exponencialmente tanto na Bd Europeia como Americana) traz para mim sempre um grau de superficialidade, constrição e condicionamento.
ResponderEliminarÉ preciso muito trabalho para um desenhador experiente conseguir repetir o tal traço anguloso de Jean Graton, (assim como estou curioso para ver como se vão sair os novos desenhadores de Asterix). Mas é uma batalha digna de se ver travada pelo desenhador e que a mim me dá muito prazer assistir, seja qual fôr o resultado. Este estilo de semi-realismo que se tem espalhado ultimamente, pelo contrário, é mais acessivel do que as tais nuances que faziam parte da personalidade destas obras. Parece-me mais uma tentativa de padronização da arte. O que talvez tenha a ver com a questão referida de um intuito mais comercial do que artistico (pelo menos a nivel do traço)
Olá Luís,
EliminarNunca fui grande fã do Michel Vaillant e suponho que o traço do Graton foi uma das razões para isso, pois sempre me pareceu que não ligava muito bem com o realismo dos relatos.
O registo actual parece-me que serve melhor a história, mas concordo que, de certa forma, é menos pessoal e (cada vez) mais comum.
No caso de grandes desenhadores, é uma mais valia; caso contrário, acaba por não se destacar entre tantos que cultivam o mesmo estilo...
Boas leituras!