Stan Lee (argumento)
Moebius e John Buscema (desenho)
Levoir/Público (Portugal, 8 de Novembro de 2012)
170 x 260 mm, 224 p., cor, cartonado
8,90 €
Se há
colaborações (improváveis) entre autores de banda desenhada que se tornaram
quase míticas, este Surfista Prateado: Parábola, de Stan Lee e Moebius, é, sem
dúvida, uma delas.
Desde logo
porque o casual encontro para almoço entre os dois, concluído com uma vaga
promessa de colaboração, acabou por dar frutos.
Depois,
essencialmente, porque a colaboração entre duas super-estrelas das respectivas
constelações aos quadradinhos, conseguiu combinar o melhor dos dois, sem ao
mesmo tempo afastar qualquer deles do seu registo próprio.
Possivelmente,
o Surfista Prateado, com o seu “ar de graça, elegância, altivez e coração puro”
(para citar Moebius) seria, se não a única escolha possível, pelo menos a que
mais se coadunava com a busca mística que o autor europeu levou a cabo na sua própria
vida e cujos reflexos foram bem patentes nas suas obras mais pessoais (aquela
que assinou a solo, como Moebius).
Para reforçar
esta simbiose, Lee optou por um registo centrado na procura interior e na religião,
tanto no que ela tem de melhor, quanto no que nela há de mais execrável, da
aceitação pura da mensagem aos excessos em nome da fé, do desejo inato do ser
humano sentir o conforto de algo maior (e a quem possa culpar pelas suas falhas…)
à facilidade das conversões, da entrega total ao desembaraço com que se
derrubam hoje as (falsas) promessas de fidelidade juradas ontem… E fá-lo sob a
forma de um comic tradicional de super-heróis, sem excessos de acção nem
moralismos desmedidos.
Quanto a
Moebius, dá a este conto a ambiência ideal, despojando o desenho, feito de
linhas finas, de todo e qualquer pormenor desnecessário – e conseguindo obter o
efeito máximo desse depuramento nas diversas pranchas de vinheta única –
integrando-o na sua forma pessoal de narrar sem qualquer sinal de concessão ou
esforço.
O resultado
– bela combinação de talentos oriundos de dois universos gráficos díspares –
proporciona uma leitura agradável e estimulante, capaz de satisfazer fãs de super-heróis,
apreciadores de ficção-científica, amantes de BD franco-belga e mesmo simples
leitores, tendo os elementos necessários para proporcionar uma reflexão sobre a
religião nas suas diversas facetas, a instabilidade do ser humano e a sua
necessidade inata de alguém a quem se submeter.
Esta
edição, a primeira que dita esta obra em português, é complementada com um
texto em que Lee e Moebius narram a génese de Parábola e a forma como trabalharam
para a criar, desenhos preparatórios e ainda uma galeria com as ilustrações de
super-heróis Marvel (Homem de Ferro, Homem-Aranha, Elektra…) da autoria de
Moebius.
Fica como nota
final a indicação de que, uma vez que (re)li esta banda desenhada na edição
incluída na colecção Graphic Novel da Editora Abril (tal como aconteceu com
Batman – O Filho do Demónio), tenho que deixar de fora desta apreciação as
histórias de Lee e Buscema que completam este volume da colecção Heróis Marvel –
série II.
Olá Pedro, foi pena que não tivesses usado a edição da colecção Heróis Marvel para fazeres esta apreciação, porque na verdade, ela não se esgota nesta história. Parábola ocupa apenas umas 50pgs, enquanto que a entrevista e os esboços terão umas 15, pelo que o livro contém outras quase 150 pgs de histórias, que pertencem 1) algumas à melhor fase de Lee, quando ele escrevia a revista regular ilustrada por Buscema nos anos 60, uma fase muito introspectiva e filsófica, de grandes histórias, e 2) uma graphic novel em que os dois colaboraram nos anos 90, que na minha opinião será ainda melhor do que o Parábola, em parte porque (ao contrário de muitos) não sou tão fã assim do argumento de parábola. Mas isto é obviamente uma opinião pessoal! Creio que este volume será certamente um dos melhores livros que qualquer fã português terá para apreciar a personagem, e como introdução à mesma. Obrigado pela tua visão sobre a história... fico à espera duma recensão mais completa do livro?
ResponderEliminarOlá Zé Freitas,
ResponderEliminarObrigado por esta participação.
Não o faço muitas vezes, mas a opção por outra edição, mais antiga, foi para conseguir que o texto entrasse hoje e permitisse uma divulgação mais efectiva da edição, até porque sei que nos próximos dias não lhe poderia pegar e a oportunidade se poderia perder.
Para além disso a releitura que fiz da Parábola melhorou bastante a ideia que eu tinha do relato e deu-me vontade de escrever sobre esta colaboração do Lee e do Moebius.
Voltar ao livro é altamente improvável, porque entendo que os textos que coloco no blog devem ficar terminados no momento em que ficam disponíveis online - a não ser no caso de erros ou omissões.
De qualquer forma, fica a tua opinião avalizada (embora não independente! ;) acerca do restante material incluído na edição e aproveito para confessar a minha curiosidade sobre a graphic novel nela incluída...
Boas leituras... de edições actuais e completas!