14/11/2012

Jours de destruction, jours de révolte








Chris Hedges (texto)
Joe Sacco (ilustração e banda desenhada)
Futuropolis (França, 2 de Novembro de 2012)
195 x 265 mm, 320 p., pb, cartonado
27,00 €



Na ressaca das eleições norte-americanas e em dia de greve geral em Portugal, esta é uma obra cuja leitura seria útil a Barack Obama (e a Mitt Romney também, possivelmente antes dessas mesmas eleições) mas igualmente aos líderes europeus - os subservientes, os lambe-botas e os outros.
Na verdade, a situação nele descrita, embora retrate a situação concreta norte-americana, tem (demasiados) pontos de contacto com aquilo que se vive agora - em Portugal, na Grécia, em Espanha, em toda a Europa comunal não tarda muito? – pelo que uma leitura atenta – acompanhada por reflexão consciente – é altamente aconselhável para se ponderar o futuro que estamos a proporcionar aos nossos filhos, às próximas gerações.
Subintitulado pela Futuropolis “A realidade da sociedade norte-americana por dois grandes autores comprometidos”, este é um retrato duro da sociedade norte-americana.
Retrato duro e subjectivo, ideológico e empenhado, correspondente à visão comum dos dois autores e resultante de um longo périplo pelo país, o livro - editado nos EUA em Junho último - assume a forma de uma longa reportagem escrita, ilustrada e em BD – esta última pouco presente para o que desejariam os fãs de Sacco, usada apenas para "transcrever" algumas entrevistas.
É um retrato que se inicia com os últimos indígenas, na reserva índia de Pine Ridge, no Dakota, passa pelos guetos negros de Camden, em Nova Jérsia, revela as condições miseráveis dos últimos mineiros de carvão na Virgínia Ocidental, acompanha os apanhadores de tomate ilegais latinos em Immokalle, na Florida, e termina junto do movimento Occupy Wall Street, em Nova Iorque, num percurso não inocente.
É um retrato violento e incómodo que – na óptica desta dupla de criadores – mostra não só como os EUA caminha(ra)m para a auto-destruição, espoliando, oprimindo, explorando, despojando da dignidade, escravizando a base da sua sociedade, a sua força produtiva, mas também a revolta que a diferentes níveis isso está a gerar e como essa é a única réstia de esperança para um mundo governado por uma ínfima minoria assente no poder financeiro, cego, amoral e impiedoso.
Por isso, este retrato que mostra, destaca, dá voz, acompanha seres reais, de carne o osso como nós, mais do que espelhar o idealizado sonho americano revela um pesadelo atroz cada vez mais omnipresente – tornado banal? - em todo o mundo (ocidental), onde há cada vez mais gente “sem esperança, que trabalha duro por quase nada”.


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