(Des)encanto
A reunião de três nomes grandes da BD mundial - Neil Gaiman,
Fábio Moon, Gabriel Bá - numa mesma obra, só podia despertar grandes
expectativas.
A leitura, ressentiu-se disso.
Como atractivo extra, havia a informação que esta foi uma
obra disputada por um trio de editoras portuguesas - mais uma evidência do bom
momento que a BD vive entre nós.
Da escrita de Neil Gaiman, havia a esperar um ambiente entre
o maravilhoso e o fantástico, com informação subentendida e uma grande abertura
à capacidade interpretativa dos leitores.
Dos gémeos brasileiros Bá e Moon - de quem sou admirador
confesso e seguidor desde as primeiras edições em livro dos 10 Pãezinhos (há já quase uma década!) -
esperava o habitual grafismo anguloso mas ágil e delicado, especialmente
expressivo e servido por cores belas e suaves. Uma temática socialmente
comprometida, em parte baseada na sua experiência pessoal ou reflexo dela, eram
também pontos a comprovar.
Estimulado ainda mais pelo resumo da obra - “Enn tem 16 anos e não compreende as
raparigas, ao passo que o seu amigo Vic parece já ter tudo na ponta da língua.
Mas ambos apanham o choque da sua vida ao depararem com uma festa em que as
raparigas são muito mais do que aquilo que aparentam ser…” - que prometia
tudo o que atrás descrevi - embora à partida não o tenha entendido totalmente…
- mergulhei na leitura.
Encontrei o belo traço dos irmãos, a combinação de realismo
e fantástico resultante do encontro das temáticas que os desenhadores e o
argumentista costumam abordar, diálogos muito bem escritos, concisos,
credíveis, que nos guiam calmamente pelo relato, mostrando o que há para ver,
deixando no ar o que só o leitor pode intuir.
No final, no entanto - no entanto? - ficou uma sensação de
algum desencanto. Talvez porque elevei demasiado as minhas expectativas, talvez
porque esperava mais de uma obra que se revela curta em páginas, talvez porque
queria mais respostas concretas e menos amplitude à minha interpretação…?
O que, em curiosa oposição, não é sinónimo de uma leitura
menor ou desinteressante. Porque, curta de páginas, com sabor a menos do que eu
queria, Como falar com raparigas em
festas encantou-me e revelou que, às vezes, a capacidade de surpreender
pode servir de contraponto - feliz - àquilo de que sentimos falta.
Como falar com raparigas em festas
Neil Gaiman (argumento)
Fábio Moon e Gabriel Bá (adaptação e desenho)
Bertrand Editora
Portugal, Abril de 2017
173 x 263 mm, 64 p., cor, capa dura
ISBN: 9789722533133
14,40€
(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua
extensão)
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