Cinzentos
Uma das características evidentes na escrita de Berardi para
Julia, são os retratos credíveis que traça de cada interveniente e, através
deles, a forma como reconstrói perante os olhos dos leitores a sociedade.
Com ele, os protagonistas - como o mundo - estão longe de
ser a preto e branco. Mais, a verdade são os tons intermédios de cinzento que
imperam, pois todos têm defeitos, segredos, medos, qualidades…
Em Mulher de Paz,
que abre esta edição, essa é uma característica premente, num argumento
original que, mais uma vez, quebra regras e a lógica que alguns preferiam ver
estabelecidas, numa constante mudança de paradigmas e de temáticas sem, no
entanto, nunca abdicar da estrutura e dos princípios da série.
No centro da história está Fatima Lehri, líder de um país
asiático, de visita aos EUA para expor as condições críticas em que o seu povo
vive e recolher apoios para a sua luta. No seguimento de um atentado, Julia,
Alan e Irving acabam envolvidos na segurança de Fatima, encarregados de
assegurar a sua protecção e, se possível, de descobrir quem a tenta matar.
Só que rapidamente o leitor vai entender que se nem tudo têm
sido ‘rosas’ no percurso da líder política, iniciado após a morte do marido – e
com muitos pontos de contacto com personalidades reais que todos podemos
(re)conhecer - muitos dos espinhos foram originados por ela, pelas suas acções,
e – como sempre, na política como em todos os quadrantes da vida – não há
ninguém só bom ou só mau, há seres humanos com qualidades e vícios.
Porque, nunca é demais relembrar, ao longo da História, tantas
vezes aqueles que uns consideram terroristas, são endeusados por outros como
combatentes pela liberdade… E embora os fins não justifiquem os meios, as
decisões tomadas podem revelar-se dúbias e até penalizadoras, e embora positivas
no papel e na mente de quem teve de as fazer, apresentarem consequências
negativas quando levadas à prática.
Sobressai, assim, mais uma vez, o olhar desencantado de
Berardi sobre o ser humano e a sociedade em geral, num relato que ostenta inúmeros
tons de cinzento…
Quanto à jovem Julia, no segundo relato deste volume, ao
investigar o desaparecimento de um autocarro escolar, que se transforma no
rapto das crianças que nele seguiam, em O
Caso do Ônibus Fantasma, irá aprender que para descobrir a verdade muitas
vezes basta fazer as perguntas certas às pessoas certas, mesmo quando tudo na
realidade parece apontá-las como perda de tempo, no prosseguimento do processo
de descoberta e crescimento que a transformaram na criminóloga mais conhecida
de Garden City.
J. Kendall #126
Aventuras de uma criminóloga
Histórias originalmente publicadas em Julia #144 e em Almanacco del
Giallo 2013
Mulher de Paz
Giancarlo Berardi e M.Mantero (argumento)
Steve Boraley (desenho)
O Caso do Ônibus Fantasma
Giancarlo Berardi e Maurizio Mantero (argumento)
Giuseppe Candita (desenho)
Mythos Editora
Brasil, Janeiro/Fevereiro de 2017
135 x 180 mm, 224 p., pb, capa mole, bimestral
R$ 23,90 / 8,00 €
(clicar nas imagens para as apreciar em toda a sua extensão)
Boa tarde Pedro. Esta crítica e a informação do preço para Portugal significa que está a venda por cá ou continua tudo igual desde a noticia do cancelamento? Obrigado.
ResponderEliminarEskorpiao77,
EliminarEstá tudo na mesma.
A Mythos teve que mudar o responsável pelos contactos com a distribuidora em Portugal e tudo aponta para que Julia, Tex e zagor regressem após as férias.
Boas leituras!