Loucas promessas
de juventude
Até
onde teríamos de ir se decidíssemos
nos
cumprir todas as promessas loucas feitas na adolescência/juventude?
Une
nuit à Rome
dá(-nos
um)a resposta.
Rafael não sabe se foge da sua vida presente, da relação estável com Sophie que lhe custa o abandono das loucuras adolescentes prolongadas nos anos seguintes ou se na verdade procura alguma coisa nas recordações de tempos conturbados mas felizes - ou assim recordados nas armadilhas em que a memória é fértil.
Na bagagem - como quase todos nós - a par de um enorme sentimento de culpa, traz também todas as dúvidas do mundo, tendo apesar de tudo a esperança de encontrar a felicidade... seja lá isso o que for.
Na juventude, Marie foi uma paixão arrebatadora e descontrolada, daquelas que só aparecem uma vez na vida - em algumas vidas... - construída de zangas e reconciliações ardentes, uma paixão que durou um par de anos e que estava, não esquecida, mas guardada nas memórias de Rafael... Até que dois dias antes de completar 40 anos, recebeu uma cassete VHS (literalmente...) com uma promessa gravada duas décadas atrás: encontrar-se com Marie, na noite dos seus 40 anos, num hotel em Roma.
Rafael fica perdido, sem saber se cumprirá aquela decisão, louca e apaixonada, ou se vai manter a sua vida equilibrada e responsável, ao lado de Sofia.
Inevitavelmente - ou não haveria história - a decisão vai ser voar para Roma à última da hora e reencontrar Marie. Depois de acalmada a fome dos respectivos corpos, o resto, o peso da idade, as decisões tomadas, o que foi deixado para trás, o que (lhes) aconteceu ao longo daqueles 20 anos, os pedaços de vidas que tiveram lugar, o que ambos mudaram, crescendo ou não, os rumos que buscaram ou a vida lhes impôs, vem ao de cima e obriga a repensar tudo.
Com uma ideia base desafiadora, é da gestão das emoções à flor da pele, do sabor dos lábios e da boca de um e de outro, que Jim - presença recorrente aqui no blog e um dos autores que me obrigo a seguir - vai fazendo a gestão da sua história, demonstrando, mais uma vez, ser um excelente contador de histórias e, acima de tudo, um soberbo leitor da alma, do coração e da mente humanos, trabalhando lembranças, recordações, paixões, desejos, culpas e remorsos, de uma forma tocante, terna também, realista e afinal incómoda, porque a certa altura do relato sentimo-nos a torcer pelo que noutras situações poderia ser ética ou moralmente errado.
Tudo isto servido por um belíssimo traço realista, sensual e provocador e por cores quentes, do autor com Delphine, que aumentam o desejo do leitor... prosseguir com uma leitura, cativante e arrebatadora, que dificilmente se abandona antes do final.
Em suma - e como eu gosto pouco de resumir assim o que só pode ser fruído pela leitura integral - esta é uma história humana sobre escolhas e decisões e de como elas afetam a nossa vida, mostrando que se podemos ser senhores do nosso destino, raramente temos consciência disso e conseguimos agir em conformidade.
Nota final
Se realmente este díptico corresponde a uma história fechada e por isso está identificado acima como ciclo I, a verdade é que Jim já regressou a Rafael e Maria, em novo díptico que já está na (imensa) pilha de leituras que tenho por fazer...
Une
nuit à Rome - Livre 1 e 2
Jim
Bamboo/selo
Grand Angle
França,
2012/2013
217
x 300
mm, 104+112 p., cor, capa dura
19,90€
(cada)
(imagens disponibilizadas pela Bamboo; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre o tema destacado)
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