Joaquim Diaz
Le Lombard
França, 13 de Setembro de 2013
237 x 310 mm, 48 p., cor,
cartonado
14,45 €
O que primeiro chama a atenção em Harden, projecto de
Joaquim Diaz há muito em gestação, é a planificação – em que se reconhecem
influências (assumidas) dos comics norte-americanos - com as páginas bem
preenchidas com múltiplas vinhetas, de dimensão variada, assentes numa profusão
de pontos de vista, como que fornecidos por uma câmara móvel que ‘dança’ pelos
cenários, o que torna a leitura a um tempo mais pormenorizada – pelos muitos
detalhes ‘puxados’ para primeiro plano – e mais dinâmica – pela forma como
obriga o leitor a ‘correr’ pelas vinhetas com mudanças sucessivas de orientação
ao longo da prancha.
A par disto, Diaz, competentemente, realça a profundidade de
campo ‘desfocando’ aspectos de primeiro plano ou os fundos para melhor salientar
o que é mais relevante e destaca momentos fulcrais da narrativa em vinhetas de
maior dimensão, frequentemente associados a actos de (extrema) violência e, por
isso, de grande impacto visual.
Sin Piedad,
primeiro tomo de um díptico, centra-se em Izmaël, antigo membro de um gang de
Los Angeles, que trocou a violência urbana das ruas por uma comissão no Iraque.
Agora regressado a casa, profundamente marcado (pelo que lhe
fizeram e pelo que ele fez), após um acontecimento traumático, ainda não explicado
e de cujos contornos violentos nos vamos apercebendo aos poucos, compreendemos –
em simultâneo com o protagonista – que há passados aos quais não é possível
fugir e que a (sempre) renovada guerra entre os que tentam controlar as ruas e
os seus negócios marginais, não deixa lugar a posições neutras ou de mero
espectador, forçando a tomar uma posição activa, mesmo que contrária à sua
vontade. Como acontece a Izmaël, quando a irmã e o sobrinho são mortos por ele
ter recusado regressar ao seu antigo gang, partindo para uma cruzada de
vingança, em que a combinação entre o ódio a explodir, as angústias que o
assolam e os fragmentos recalcados do passado que aos poucos vai libertando, o
transformam numa implacável máquina de matar humana, numa espiral de confrontos
e violência, em que feridos e mortos se multiplica, num relato construído num
crescendo, que com facilidade prende o leitor.