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29/01/2010

Ferd’nand retorna – Tiras de 1938

Mik (argumento e desenho)
Libri Impressi (Portugal, Setembro de 2009)
226 x 207 mm, 120 p., pb, brochado com badanas


Depois de “Surge Ferd’nand”, eis o segundo volume da edição integral das tiras diárias de Ferd’nand, criação do dinamarquês Mik, que o jornal O Comércio do Porto divulgou em Portugal durante muitos anos. Exemplo maior de tira diária muda – Ferd’nand ao longo da sua vida não pronunciou uma única palavra, o que até levou a que muitos jornais acrescentassem legendas por baixo das vinhetas para as explicar (!), o que na prática é absolutamente desnecessário – surge mais uma vez em edição bilingue (português/espanhol) – passe o contra-senso com a mudez das tiras – como forma de a tornar viável face à reduzida dimensão do nosso mercado.
Nele, reencontramos o protagonista em gags em torno de temas recorrentes como o mau tempo, cães, música, caça, pesca, tiro ao alvo ou excesso de peso, concluídos sempre de forma diferente e surpreendente, oscilando o humor entre o ingénuo, o inesperado e mesmo o nonsense.
Ferd’nand um autêntico faz-tudo, que assume as mais diversificadas profissões e cujo carácter varia de acordo com as necessidades cómicas do momento, tanto é passivo (a maior parte das vezes) como activo, engenhoso como desajeitado, citadino como campestre, corajoso como cobarde, o que possibilita uma maior liberdade criativa ao autor e constitui uma excepção à “regra” aplicada à maior parte das outras tiras diárias, de então ou de hoje. Ferd’nand, chega mesmo a falecer… para regressar incólume na tira seguinte, para nosso deleite e divertimento. Uma referência ainda para a sua relação com o belo sexo, em relação ao qual toma mesmo algumas liberdades, admirando mulheres jovens e bonitas, desejando que a sua (matrona) desapareça ou fazendo até alguns (tímidos) avanços… Mas, fruto da época - estas cenas passaram-se há 70 anos, recorde-se! -, Ferd’nand também é capaz de protestar pelo facto de a sua cara-metade usar calças…

Ao lado, com a devida vénia a Manuel Caldas, reproduzo um projecto para a capa, entretanto abandonado.

09/10/2009

Sugestão de leitura: Ferd’nand retorna

Mik (argumento e desenho)
Libri Impressi (Portugal, Setembro de 2008)
230 x 205 mm, 120 p., pb, brochado com badanas

Já está impresso e disponível no editor, o segundo volume de Ferd’nand, com “todas as 313 tiras diárias de 1938, o segundo ano da universal série pantomímica de Mik”, refere Manuel Caldas, que acrescenta que é “a primeira vez em todo o mundo que tal material se recolhe em livro na sua integralidade”.
As Leituras do Pedro aconselham vivamente o livro – quem não conhecer Ferd’nand pode descobrir mais aqui - e, uma vez que “ainda não se sabe a data em que estes livros serão distribuídos pelas livrarias”, recomendam que o encomendem directamente ao editor (mcaldas59@sapo.pt), por duas razões: primeira, vão poder lê-lo mais cedo; segunda, ficando com quem edita a verba normalmente deglutida pela distribuição, menos exemplares será necessário vender para conseguir editar novo volume!

19/06/2009

Surge… Ferd’nand – Tiras de 1937
















Surge… Ferd’nand – Tiras de 1937
Mik (argumento e desenhos)
Libri Impressi (Portugal, Dezembro de 2008)
226 x 203 mm, 108 p., cor e pb, bilingue (português/espanhol), capa brochada com badanas


Resumo
De Ferd’nand, poder-se-ia dizer que foi a primeira tira diária de imprensa muda, a primeira tira não norte-americana de sucesso mundial e uma das tiras publicadas durante mais tempo (67 anos, de 1937 a 2004), para além de ter sido presença constante no jornal “O Comércio do Porto” durante décadas.

Desenvolvimento
Mas, prosseguindo a ideia deixada atrás, nada disso, por si só, lhe faria justiça.
Publicado pela primeira vez a 3 de Maio, assinado por um jovem dinamarquês de apenas 21 anos, Ferd’nand assenta numa simplicidade desarmante. O traço é simples, arredondado e desprovido de mais pormenores do que os necessários para materializar o gag, No entanto, nessa sua aparente simplicidade, demonstra uma expressividade, um sentido de composição e de equilíbrio do conjunto de 3 a 5 vinhetas que habitualmente compõem a tira e um dinamismo assinaláveis, que conferem ao todo uma enorme legibilidade. Simples, quase sempre de uma grande ingenuidade, são também os argumentos, sempre auto-conclusivos, sem qualquer continuidade, assentes nos pequenos nadas do quotidiano, revistos à luz de um humor directo mas sempre inesperado, uma vez por outra com um toque de nonsense. E que mantêm hoje toda a frescura, mesmo quando a ideia base possa ser um pouco datada.
Para sustentar a tira, ao lado de Ferd’nand, existe uma curtíssima galeria de personagens: a sua esposa, filho (cópia em ponto pequeno do progenitor) e cão. O protagonista, sem profissão fixa, escolhida ao sabor das necessidades do gag, mas sempre pertencente à classe média, como forma de garantir identificação com maior número de leitores, permanece inalterável fisicamente e na sua maneira de ser e agir, ao longo dos anos, apresentando-se (quase) sempre com o seu chapéu característico, calças de fazenda, casaco preto e colete com dois grandes botões.

A reter
- A publicação, pela primeira vez em livro, de todas as tiras do ano de nascimento de Ferd’nand, para mais com uma cuidada e detalhada introdução de Manuel Caldas.
- A possibilidade de este ser o tomo inicial da edição integral do Ferd’nand de Mik, assim a edição encontre os compradores suficientes.
- O sentido de oportunidade do editor ao fazer uma edição bilingue (português/espanhol) que aumenta em muito o potencial mercado para a obra o que permitirá mais facilmente recuperar o investimento e avançar com novos volumes.

Menos conseguido
- As (apenas) 70 páginas com tiras sabem a pouco… Mas claro que juntar dois anos num só volume aumentaria demasiado o seu preço final…

Curiosidades
- Para descobrir algumas, há que ler a introdução de Manuel Caldas, como habitualmente minucioso e bem informada e profusamente ilustrada.

(Versão revista e aumentada do texto publicado a 21 de Fevereiro de 2009 no suplemento In’ da revista NS, publicada aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)
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