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06/06/2009

Un après-midi un peu couvert

Un après-midi un peu couvert
Philippe Squarzoni (argumento, desenho e cor)
Delcourt (França, Setembro de 2008)
167 x 257 mm, 80 páginas, bicromia, capa cartonada


Resumo

Quando Pierre vai ter com Catherine a uma pequena ilha da Bretanha, à estação ornitológica onde ela trabalha, conta passar a tarde e a noite com ela. Mas um contratempo obriga-a a ausentar-se, deixando-o sozinho. Decide então percorrer a ilha a pé, aproveitando para pôr algumas ideias em ordem.

Desenvolvimento
Desde logo e, principalmente se, agora que é trintão, continua a viver como Peter Pan, uma eterna juventude, ou deve passar a agir como um adulto responsável, se prefere a(s) sua(s) liberdade(s) ou se se dedica à paixão pela sua “Wendy”, transformando-a numa relação estável e com perspectivas (bem sérias) de futuro.
O traço não seduz, algo estático, com tiques dos álbuns de sátira política a preto e branco que anteriormente fizeram o percurso do autor, parecendo por vezes as personagens sobrepostas nos fundos e não integrantes de um todo, e a planificação também não ajuda, por ser algo monótona e pouco dinâmica, quase sempre presa ao modelo de três tiras de duas vinhetas por página. Mas se isso contribui para algum arrastar da narrativa, serve também para lhe dar tempo “real”, ajudando-a a corresponder à tarde, encoberta, de céu pesado, que os tons de sépia adoptados reforçam, que Pierre tem para ocupar naquela pequena ilha que acaba por se revelar como a verdadeira protagonista da narrativa. Tempo que vai ser de encontros e desencontros com os habitantes locais, de descoberta de um micro-cosmos fechado sobre si próprio, repleto de tensões latentes, onde todos desconfiam dos estrangeiros/estranhos, onde não há segredos para dentro, mas onde tudo se cala para fora, mesmo o que parece impossível não “gritar” aos quatro ventos (como a história de pedofilia), como Pierre acabará por descobrir, descobrindo também, em consequência disso, o que realmente quer fazer da sua vida e da sua relação com Catherine, num relato que acaba por se revelar de uma sensibilidade notável.

A reter
- O tom poético do relato e a forma como as emoções, os sentimentos, respiram nele.
- A forma como uma história em que “nada” acontece prende o leitor.

Menos conseguido
- O traço estático e a planificação pouco dinâmica.
- A forma pouco credível como os habitantes da ilha compartilham os seus segredos com Pierre.

(Versão revista e aumentada do texto publicado originalmente no BDJornal #24, de Outubro de 2008)
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