As Edições Asa distribuem hoje nas livrarias FNAC, em simultâneo com a edição original francesa, o álbum “Blacksad: O inferno, o silêncio”, quarto tomo desta série escrita por Juan Díaz Canales e desenhada por Juanjo Guarnido. O álbum chegará às restantes livarias do país em Outubro.
Premiada um pouco por todo o mundo e tendo conquistado os favores do público e da crítica, “Blacksad”, que retoma a tradição dos grandes autores do género, é um policial negro ambientado em meados do século XX que nos primeiros três álbuns revisitou temas como a intriga em meios cinematográficos (em "Algures entre as sombras"), o racismo e o Ku-Klux-Klan ("Artic nation") ou a caça aos comunistas nos EUA ("Alma vermelha").
No novo álbum, que sai após um intervalo de 5 anos, encontramos o detective na meca do jazz, Nova Orleães, à procura de um pianista toxicodependente.
A principal marca distintiva desta série é, no entanto, o seu grafismo pois, em “Blacksad”, todos são animais antropomorfizados, cujas características correspondem às das personagens que interpretam. Assim, o detective que o protagoniza é um ágil felino, os duros que tem de enfrentar gorilas, ursos, rinoce-rontes ou lobos, as personagens femininas, belas e sensuais, são gatas ou leopardos, etc. A par disso, o desenho, hiper-realista e servido por belas cores, é magnífico, notando-se ao nível da composição das pranchas e do ritmo imposto à narrativa, as influências do trabalho de Guarnido como animador nos Estúdios Disney
A série, integralmente editada em português pela Asa, conta ainda com um álbum especial intitulado “Blacksad - Os bastidores do inquérito”, ilustrado com múltiplos esboços, estudos e desenhos inéditos e em que os dois autores revelam a génese do herói e a sua forma de trabalhar.
Entretanto, Blacksad pode estar em vias de ser transposto para o grande écrã, pois o realizador Alexandre Aja (“Piranha 3d”) revelou estar interessado no projecto, em parceria com Thomas Langmann. Este último já esteve envolvido em adaptações cinematográficas doutros heróis dos quadradinhos, nomeadamente Astérix e Blueberry.
(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 17 de Setembro de 2010)
E a propósito deste lan-çamento, deixo o texto publicado na coluna “Aos Quadra-dinhos”, no Jornal de Notícias de 17 de Setembro de 2002 , aquando da edição do primeiro tomo da série em Portugal:
Tal como o western, sobre o qual escrevi nesta coluna, há poucas semanas, também o policial tem sido ciclicamente reinventado, situando a acção em passados históricos ou futuros imaginários, ou através de novos protagonistas, sejam eles homens ou mulheres, detectives particulares ou polícias oficiais, musculosos ou de grande capacidade dedutiva.
E esta reinvenção pode acontecer, mesmo quando a história contada já o foi centenas ou milhares de vezes como é o caso de “Blacksad, tomo 1 – Algures entre as sombras”- Nele, a história, escrita pelo espanhol Juan Diaz Canales, gira à volta do assassínio de uma bela actriz, que passou a andar em companhias pouco recomendáveis após ter sido deixada pelo herói da história, um detective privado que, como é normal, não goza das melhores relações com a polícia, embora, por vezes, possam cooperar no interesse mútuo.
“Então, pensa o leitor, “se a história - que realmente parece seguir os clichés do género - não é o grande trunfo do álbum, este deve destacar-se pelo seu desenho”. E esta dedução, é sem dúvida verdadeira. O também espanhol Juanjo Guarnido, assina em “Blacksad” uma obra de encher o olho, com um excelente desenho onde, em especial ao nível do ritmo que imprime à narrativa, se notam as influências do seu trabalho como animador dos Estúdios Disney, onde participou nas longas-metragens “O Corcunda de Notre-Dame”, “Hércules” e “Atlântida”.
“Mas pode um desenho, por muito vistoso, espectacular e/ou ritmado que seja, ser responsável pela reinvenção de um género literário com tantas tradições como o policial?”, volta a interrogar-se o leitor.
Sim, escrevo eu. E sim porque, há um pormenor que ainda não referi. Em “Blacksad”, as personagens são animais antropo-morfizados, e este é o toque de génio, que torna a obra diferente e de leitura obrigatória. Porque em “Blacksad”, o “detective ágil como um felino” é um... gato, os duros que o enfrentam são, logicamente... gorilas (ou ursos pardos, ou rinocerontes), a bela e sensual actriz é uma... gata, e por aí adiante, com alguns verdadeiros achados que eu deixo ao leitor descobrir, para que a leitura de “Blacksad” o possa surpreender e agradar tanto como a mim.
Segundo informação que acabo de receber das Edições Asa, por motivos alheios à editora o álbum afinal não ficou disponível hoje nas lojas FNAC.
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