10/10/2011

Sur la route de Banlung

Cambodge 1993
Jacques Rochel (argumento)
Vink (desenho)
Dargaud (França, 9 de Setembro de 2011)
240 x 320 mm, 64 p., cor, cartonado
14,95 €

Resumo
Cambodja, 1993. As primeiras eleições democráticas no país estão em marcha, sob a supervisão da ONU. À sua frente, está Jacques Rochel, francês de origem vietnamita que tem que velar pelo bom desenvolvimento das operações e por fazer chegar mensalmente cerca de 120 mil dólares aos diversos colaboradores da organização, o que desperta apetites e cobiças, agudizando as tensões numa zona em tempos dominada pelos Khmers vermelhos, cujas atrocidades ainda não foram esquecidas nem perdoadas mas que alguns gostariam de voltar a ver no poder.

Desenvolvimento
Este é um relato mais documental que ficcional. A primazia nele é dada ao retrato de um país conturbado, em busca de novos equilíbrios, pois se a maioria renega o passado, alguns têm saudades (pelo menos) de uma parte dele. A par disso há que considerar os diversos focos de tensão entre os habitantes locais e os brancos, considerados ocupantes e/ou lacaios dos vizinhos vietnamitas, responsáveis pelo fim da ditadura.
Para tornar a narrativa mais interessante – pelo menos mais apelativa para os leitores em geral - os autores deram-lhe um cunho ficcional, incluindo alguns elementos extra-realidade num relato que era principalmente biográfico pois o argumentista é exactamente Jacques Rochel, o responsável da ONU no local.
Por isso, a acção vai-se desenrolando a vários tempos: no terreno, na concretização da sua missão como funcionário da ONU; intimamente, na sua angústia perante a notícia de que o seu filho mais novo é autista, e, de forma confusa, nos vários sentimentos contraditórios que sente perante o reencontro com uma antiga colega de liceu de há 20 anos, que nunca saiu do Vietname e é casada com um alto responsável do Partido Comunista; na sombra, com o grupo de ex-khmers que aparentemente pretende roubar os 120 mil dólares que Rochel recebe mensalmente, mas cujos contornos acabarão por ditar uma situação, social e politicamente, muito mais grave e abrangente.
Reforçando o aspecto documental, o traço de Vink, demasiado preso às suas referências fotográficas, serve apenas de veículo ao desenvolvimento do relato, que consegue apesar de tudo apresentar algumas surpresas e que aparentemente se vai desenvolvendo de forma tranquila, mas em que se vai sentindo o acumular de uma tensão que pode explodir a cada momento.
Fica por questionar – e é pena – a validade dos modelos ocidentais em sociedades cujos usos e costumes são completamente diferentes, o que muitas vezes justifica os choques que a nossa imprensa raramente compreende ou explica, mas a verdade é que não era esse o objectivo pretendido.

A reter
- O tom documental desta semi-ficção que mostra uma realidade bem diferente daquela que conhecemos (e daquela que tantas vezes nos é apresentada).
- O dossier final, que inclui uma conversa entre Vink e Rochel que aclara alguns aspectos, profusamente ilustrado com fotografias.

Menos conseguido
- A relação demasiado próxima do traço de Vink com a sua base fotográfica.

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