01/02/2013

Pink Daïquiri

Clémence/Alixia















Laurent Habart e Mélanie Théry (argumento)
Júlia Bax
(desenho em Alixia)
Amanda Grazini
(desenho em Clémence)
Le Lombard
(França, Fevereiro de 2013)
222 x 295 mm, 104 p., cor, cartonado
19,99 €


Resumo
Enquanto a loura Clémence procura o amor da sua vida, a morena Alixia, procura o homem que a faça atingir o primeiro orgasmo.
Amigas inseparáveis, sem segredos entre si e companheiras de apartamento, tudo vai ser colocado em causa, quando, no mesmo dia, encontram o que há tanto tempo procuravam. Com um senão: o cliente por quem Clémence se apaixona e o desconhecido que Alixia, bêbada, encontra num bar e com quem passa a noite, são uma e a mesma pessoa: Andries.

Desenvolvimento
Se o enredo descrito não é propriamente original, o trunfo de Pink Daïquiri é a forma como a história está construída.
Ou melhor, a forma como “as histórias” estão construídas pois estamos em presença de um álbum duplo, com duas capas e duas entradas. Mas só uma história, narrada (e vista pelo leitor) sob dois pontos de vista diferentes: o das suas protagonistas (e também o das suas desenhadoras - ambas brasileiras! - pois as cenas comuns estão planificadas de forma diversa, sendo interessante comparar as opções tomadas por uma e outra).
Faltará apenas, a possibilidade de desdobrar cada narrativa por episódios, para os “remontar” como uma única história mais longa.
Nesta impossibilidade, há que escolher uma das entradas do álbum, e acompanhar os avanços e recuos sentimentais do quotidiano de Clémence e Alixia. Depois, terminada a primeira leitura, voltar o livro e (re)descobrir a versão (e a visão) da sua parceira, que vai complementar, expandir e explicar aquilo que o leitor já sabia, intuíra ou (só) descobre nesta segunda leitura.
O enredo, embora com tom de novela e (inevitável) final (comum) feliz, tem tudo para agradar a um público mais vasto e exigente, pois está escrito de forma consistente e credível, bem desenvolvido nos sucessivos avanços e recuos por que passam as vidas sentimentais de uma e outra e traça um retrato bem estruturado das duas heroínas.
Ao mesmo tempo, permite vislumbrar diversos aspectos dos relacionamentos existentes na sociedade actual, principalmente do ponto de vista feminino, contrabalançando a ascensão profissional e social das mulheres com o (des)controle dos seus sentimentos e relações.
Apesar de poder ser considerado graficamente uma obra uniforme, cada um dos relatos é facilmente distinguível e leva a marca pessoal das duas desenhadoras que deram corpo e volume às protagonistas de “Pink Daïquiri”. Estas estão bem definidas em termos de visual, estilo, gostos, desejos e aspirações, o que contribui para reforçar o impacto da história contada a duas vozes. Que, apesar das proximidades – até afectivas – mostra também como, tantas vezes, a verdade pode ser relativa.

A reter
- A forma diferente como a história está contada, em duas versões complementares, o que enriquece e torna apetecível um enredo já conhecido.
- A visão bem feminina da ascensão social e profissional das mulheres transportada (?) para esta BD pelas três autoras envolvidas no projecto, Mélanie Théry e Amanda Grazini (que abraçam o seu primeiro grande projecto em BD) e Julia Bax ex-desenhadora dos… X-Men!
- O dossier (duplo) existente no final de cada um dos relatos, com explicações e exemplos da forma como o álbum foi trabalhado pelo seu quarteto autoral.

Menos conseguido
- O previsível final que, mesmo podendo ser considerado secundário no contexto e na forma do projecto, é sempre fundamental quando se conta uma história.


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