Há 75 anos, o número inaugural da revista Action Comics, com
data de Junho de 1938, ficava marcado pela estreia de um dos mais icónicos
heróis dos quadradinhos: o Super-Homem.
Criação de Jerry Siegel (1914-1996) e Joe Shuster
(1914-1992), era apresentado como único sobrevivente de um planeta distante,
enviado num foguetão pelos seus pais quando o planeta explodiu. Ao atingir a
idade adulta descobriu que podia saltar sobre prédios de 20 andares, erguer
enormes pesos, correr mais depressa do que um comboio expresso e que nada
conseguia perfurar a sua pele. Tomando a decisão de usar os seus poderes para
“beneficiar a humanidade”, tornou-se “o campeão dos oprimidos” e “jurou dedicar
a sua existência a ajudar os necessitados”, utilizando um uniforme
caracterizado pela cor azul, com as “cuecas” vermelhas – como a capa – por
fora!
Nas treze curtas páginas da primeira aventura libertava uma
inocente condenada à cadeira eléctrica, salvava uma mulher vítima de violência
doméstica, enfrentava um bando de facínoras e ameaçava um senador corrupto, não
hesitando em ameáça-los ou passar mesmo a vias de facto.
A sua identidade de super-herói era oculta sob a pele de
Clark Kent, um jornalista do “Daily Star” (mais tarde transformado em “Daily
Planet”) que representava o papel de fraco e cobarde perante a sua colega Lois
Lane. Na sua dupla identidade de Clark e de Super-Homem, formaria com Lois um
original triângulo amoroso, que só viria a (de)compor-se em 1996, quando os
dois repórteres finalmente casaram.
Se este arranque trouxe sucesso imediato, esteve longe de
obedecer a uma inspiração do momento. Na verdade, Siegel escrevera um conto
similar, já ilustrada por Shuster, em 1931, mas protagonizado por um vilão
vítima de experiências científicas. Três anos depois, os dois amigos ofereciam,
sem sucesso, a sua criação, sob a forma de tiras diárias, aos diários
norte-americanos. Finalmente, em 1938, com o advento dos comic-books (revistas
de BD) a proposta era finalmente aceite pela National Comics (mais tarde DC
Comics) e as tiras originais eram remontadas para o novo formato.
Despedidos pela editora em 1940, na sequência de um processo
em que tentaram, infrutiferamente, obter a posse da sua criação, Siegel e
Shuster viram o herói ser assinado por diversos autores que contribuíram para
estabelecer a sua mitologia e, apesar de ser um extraterrestre, transformá-lo
na personificação dos valores do ideal norte-americano.
Passou a ter pais adoptivos – Jonathan e Martha Kent -, os
seus poderes – que passaram a incluir capacidade de voo, visão raio-X e de
calor e super-audição - ficaram a dever-se à exposição à luz amarela do nosso
Sol, cresceu em Smalville, no Kansas, onde viveu aventuras como o adolescente
Superboy, mudou-se na idade adulta para Metrópolis, a cidade que o elegerá como
seu defensor, viu o círculo jornalístico alargado com o aparecimento do editor
Perry White e do repórter fotográfico Jimmy Olsen, protagonizou relatos a meias
com Batman (nascido um ano mais tarde), encontrou a prima Supergirl e o cão Krypto
(ambos sobreviventes de Krypton) e conquistou também inimigos à sua altura,
destacando-se entre todos Lex Luthor, um génio do mal, que muitas vezes o
tentou vencer expondo-o à kriptonite, o metal oriundo do seu planeta natal que
o torna vulnerável.
A par da “Action Comics”, estrearia um título próprio e tiras
diárias de jornal logo em 1939, chegaria aos desenhos animados dois anos depois
e ao cinema em 1948. A participação no esforço de guerra americano enfrentando
os nazis ajudou a cimentá-lo como o herói americano por excelência.
Atravessando as décadas, ao sabor da inspiração dos seus
autores, a sua popularidade foi decaindo e, apesar do sucesso da interpretação
no cinema de Christopher Reeves, em 1978, a sua aura foi-se apagando, decidindo
a editora consumar a sua morte em 1992. A história, escrita por Dan Jurgens,
arrastou-se ao longo de meses num pouco credível combate pugilístico com o vilão
Apocalipse, que culminaria com a morte de ambos na revista “Superman” #75, que
vendeu mais de quatro milhões de exemplares e foi alvo de uma atenção mediática
sem paralelo até à data. Seguiu-se o funeral, a que assistiram amigos e
inimigos, e surgiram quatro seres que se reclamavam herdeiros do Super-Homem.
Este acabaria por ressuscitar após um período conturbado, que rendeu milhões à editora
e repôs a sua fama e popularidade.
Depois, sucederam-se as actualizações, mudanças de origem e
de uniforme - actualmente usa calças de ganga e tem uma relação quente com a
Mulher Maravilha - vivências díspares em universos paralelos, o planeta Kripton
ressurgiu e instalou-se nas proximidades da Terra, Lex Luthor chegou a
presidente dos EUA, em sucessivas reconversões do universo da DC Comics que
tornam difícil estabelecer uma cronologia sustentável do percurso daquele que
continua a ser o maior super-herói de todos os tempos.
Action Comics #1
Um exemplar em óptimo estado de conservação, da revista em
que o Super-Homem estreou, foi vendido por 2,1 milhões de dólares em 2011,
tornando-se a mais cara revista de BD de sempre.
Siegel e Shuster
A perda dos direitos de Superman durante um processo na
década de 1940 levou ao seu despedimento pela DC Comics que só nos anos 80,
pressionada por um movimento encabeçado por Neal Adams e outros autores,
decidiu atribuir-lhe uma pensão vitalícia. Os seus herdeiros continuam a
defrontar a editora nos tribunais.
Mundo de Aventuras
O Super-Homem, divulgado entre nós em edições brasileiras,
surgiu pela primeira vez em português no “Mundo de Aventuras #125”, em Janeiro
de 1952, que publicou tiras diárias desenhadas por Wayne Boring. Na mesma
época, o “Condor”, o “Condor Popular” e o “Ciclone” também publicaram bandas
desenhadas com a mesma origem.
Só 30 anos depois seriam publicadas pela primeira vez no
nosso país histórias oriundas dos comic-book, em “A Revista dos Super-Heróis”,
da Agência Portuguesa de Revistas, e foi preciso esperar até 1995 para a Abril
Morumbi editar uma revista com o seu nome. Esta editora lançou igualmente
algumas edições especiais, incluindo aquela que narra a sua morte.
Em tempos mais recentes, as colecções “Clássicos da BD” e “Série
Ouro”, editadas pela Devir com o jornal “Correio da Manhã”, dedicaram um tomo
ao Super-Homem, que surgiu também em diversas edições da Devir, tendo a
Vitamina BD editado os quatro tomos de “Kingdom Come”, de Alex Ross.
Novo filme
“O Homem de Aço” estreia em Portugal a 27 de Junho, duas
semanas após a estreia mundial. Protagonizado por Henry Cavill, é dirigido por
Zach Snyder que prepara também uma curta-metragem de animação com Bruce Timm,
que homenageará os momentos mais marcantes dos 75 anos de vida do Super-Homem.
Parabéns. Excelente artigo
ResponderEliminarObrigado, Paulo.
EliminarBoas leituras!
Viva Pedro
ResponderEliminarHá um errozito na data da morte de Joe Shuster. Creio que foi em 1992. Mais umas curiosidades: Joe Shuster trabalhou como paper boy no Daily Star, hoje Toronto Star, um bom jornal e com um suplemento, (aos Sábados) de comics com 4 páginas de tiras e 2 de puzzles! Por cá ainda se admiram porque é que estão os diários a definhar. Não criando novos leitores...
Olá Mário,
EliminarObrigado pela atenção! Foi erro de escrita, evidentemente...!
Os jornais com suplementos de quadradinhos foram - e continuam a ser em muitos casos - uma instituição típica norte-americana (e canadiana) enquanto que cá, as poucas tiras que eram publicadas por alguns jornais quase desapareceram por completo...
Boas leituras!