A que se deve o êxito de Garfield? Esta é a pergunta
(invejosa...?) que se repete sempre que uma obra (uma BD, um romance, um filme,
...) alcança um sucesso acima da média.
Uma parte da resposta, está sempre relacionada com as
características intrínsecas do produto. Em Garfield, a par do sentido de humor
e da invulgar capacidade de Jim Davis renovar ciclicamente as mesmas piadas, a
forma como facilmente nos identificamos com o protagonista não deve ser
esquecida.
Ou não é Garfield a imagem de tudo aquilo que nós seríamos
se nos deixassem? Porque é indiscutível que todos detestamos as segundas-feiras
e os despertadores, dietas e balanças “demasiado sinceras”, tanto quanto gostamos
de comer. E trocamos tudo por um bom mimo, ao mesmo tempo que gostaríamos de
espezinhar os indefesos como forma de afirmação pessoal, enquanto buscamos uma
efémera glória numa qualquer passarela, mesmo que esta seja a cerca dos fundos
do nosso quintal (da nossa tv?)...
Garfield, e através dele, nós, realiza tudo isto e foi aqui
que Jim Davis jogou a sua melhor cartada, ao fazer-nos rir de nós próprios,
através de um gato gordo e cor de laranja...
A escolha de Davis, um gato, num mundo das tiras de imprensa
onde abundavam os cães protagonistas (dos quais o mais famoso será Snoopy,
tão-só personagem secundário de tira alheia, os “Peanuts” de Charles Schulz)
contribuiu também para a adesão do público, apesar de a tira não apresentar
grandes inovações a nível gráfico, pese embora o excelente trabalho de Davis ao
nível da expressividade das personagens.
Mas, na resposta à questão inicial, há dois outros aspectos
incontornáveis: por um lado, a forte aposta no merchandising; por outro, a
diversificação de suportes, não limitando Garfield à BD, mas passando-o também
ao cinema de animação, sem perda de qualidades nem características.
Não há melhor maneira de comemorar os 35 anos de Garfield,
do que (re)ler as suas aventuras e, para ajudar, a Booktree lançou no ano
passado “O Mundo de Garfield”, quase um milhar de tiras diárias e pranchas
dominicais inéditas em português.
E como em todos os álbuns de recolhas de tiras de jornal,
criadas para serem lidas diariamente, ressalta deles um aspecto: a repetição
(quase à exaustão) das mesmas situações, com as mesmas personagens.
Em Garfield, se isto acontece (por isso, pela enésima vez o
vemos a fazer jus ao título de gato mais preguiçoso do universo; a assaltar o
frigorífico ou a roubar comida ao seu dono (ou será mais escravo...?), a
humilhá-lo ou a pontapear Oddie, o cão pateta; em busca de um momento de glória
na cerca do fundo do jardim, ou a praticar o seu passatempo favorito: esmagar
aranhas), a forma como Jim Davis consegue sempre surpreender-nos com os (novos)
desfechos que dá a (velhas) situações, convidam a uma leitura continuada, com a
certeza que será entremeada muitas vezes por sorrisos francos ou mesmo
saudáveis gargalhadas.
(Versão revista e actualizada do texto publicado no Jornal
de Notícias de 19 de Junho de 2003, a propósito dos 25 anos de Garfield)
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