FUNtástico
Viva a Dieta!
Jim Davis
Booktree (Portugal, Fevereiro de 2012)
200 x 200 mm, 96 p., pb, brochado
12,00 €
“A que se deve o êxito
de Garfield? Esta é a pergunta (invejosa...?) que se repete sempre que uma obra
(uma BD, um romance, um filme, ...) alcança um sucesso acima da média.
Uma parte da resposta,
está sempre relacionada com as características intrínsecas do produto.
Em Garfield, a par do
sentido de humor e da invulgar capacidade de Jim Davis renovar ciclicamente as
mesmas piadas, a forma como facilmente nos identificamos com o protagonista não
deve ser esquecida.
Ou não é Garfield a
imagem de tudo aquilo que nós seríamos se nos deixassem?
Porque é indiscutível
que todos detestamos as segundas-feiras e os despertadores, dietas e balanças
“demasiado sinceras”, tanto quanto gostamos de comer.
E trocamos tudo por um
bom mimo, ao mesmo tempo que gostaríamos de espezinhar os indefesos como forma
de afirmação pessoal, enquanto buscamos uma efémera glória numa qualquer
passarela, mesmo que esta seja a cerca dos fundos do nosso quintal (da nossa
tv?)...
Garfield, e através
dele, nós, realiza tudo isto e foi aqui que Jim Davis jogou a sua melhor
cartada, ao fazer-nos rir de nós próprios, através de um gato gordo e cor de
laranja...
A escolha de Davis, um
gato, num mundo das tiras de imprensa onde abundavam os cães protagonistas (dos
quais o mais famoso será Snoopy, tão-só personagem secundário de tira alheia,
os “Peanuts” de Charles Schulz) contribuiu também para a adesão do público,
apesar da tira não apresentar grandes inovações a nível gráfico, pese embora o
excelente trabalho de Davis ao nível da expressividade das personagens.
Mas, na resposta à
questão inicial, há dois outros aspectos incontornáveis: por um lado, a forte
aposta no merchandising; por outro, a diversificação de suportes, não limitando
Garfield à BD, mas passando-o também ao cinema de animação, sem perda de
qualidades nem características.”
O texto acima, publicado
no Jornal de Notícias, a 19 de Junho de 2003, então a propósito do lançamento
no mercado nacional das primeiras compilações de Garfield pela Booktree, mantém
toda a actualidade no momento em que mais dois títulos daquela editora – Viva a
dieta! e FUNtástico – chegam às livrarias nacionais.
E neles, como escrevi então,
“como em todos os álbuns de recolhas de tiras de jornal, criadas para serem
lidas diariamente, ressalta um aspecto: a repetição (quase à exaustão) das
mesmas situações, com as mesmas personagens.
Em Garfield, se isto
acontece (por isso, pela enésima vez o vemos a fazer jus ao título de gato mais
preguiçoso do universo; a assaltar o frigorífico ou a roubar comida ao seu dono
(ou será mais escravo...?), a humilhá-lo ou a pontapear Oddie, o cão pateta; em
busca de um momento de glória na cerca do fundo do jardim, ou a praticar o seu
passatempo favorito: esmagar aranhas), a forma como Jim Davis consegue sempre
surpreender-nos com os (novos) desfechos que dá a (velhas) situações, convidam
a uma leitura continuada, com a certeza que será entremeada muitas vezes por
sorrisos francos ou mesmo saudáveis gargalhadas”.
E, concluindo hoje: porque
Garfield é, de alguma forma, uma instituição – com tudo o que isso tem de bom e
pouco do que é negativo - dentro do seu género. Porque com ele, sabemos o que
contamos e como contamos.
Poderão uns apontar o
traço simples e repetitivo; outros as limitações em termos de cenário – o interior
da casa (cama, mesa, sofá, pouco mais…) ou a cerca do jardim; alguns apontarão a
limitada galeria – Garfield, Jon, uma (rara) namorada de um deles, Oddie, o
sobrinho do gato, as aranhas (pouco mais do que figurantes e carne para canhão…
ou jornal!)…
O que só dá mais força a
uma verdade incontornável: a cada nova leitura e a cada leitura nova, Garfield
diverte, desconcerta, surpreende e faz (pelo menos) sorrir.
O que, neste tempo – em qualquer
tempo – não é de todo displicente.
Nota 1: Hoje como em 2003 – e como em (quase) todas as colectâneas de
tiras de imprensa – nestes livros de Garfield falta a indicação (clara – na ficha
técnica?) da data original de publicação das bandas desenhadas nos jornais
(embora seja possível descobri-las nas “letras pequeninas” de cada tira diária
ou prancha dominical).
O que podendo ser pouco
significativo para a maioria dos leitores, a alguns (poucos?) ajudará a contextualizar os gags no seu tempo e a sua posição
na cronologia da série.
E isso revela-se tanto mais
importante quando – porquê? - o álbum Viva a Dieta! inclui as tiras diárias e
pranchas dominicais de 1 de Março a 14 de Setembro de 1999 juntamente com as de
11 de Abril a 27 de Maio de 1993…!
Quanto a Funtástico,
publica as tiras diárias e pranchas dominicais de 29 de Junho de 1998 a 28 de
Fevereiro de 1999.
Nota 2: Embora algumas tenham sido publicadas aqui a cores, as
pranchas dominicais e tiras diárias reproduzidas nestes dois álbuns são-no
todas a preto e branco.