Não acontece muitas vezes, mas desta vez foi o desenho que
me cativou. Não pela excepcional beleza, realismo ou cor; antes pela sua
(enganadora) simplicidade extrema.
Espreitem algumas pranchas já a seguir.
Autora que desconhecia, francesa, nascida em 1979, Gabrielle
Piquet tocou-me pela delicadeza e sensibilidade do traço – que se estendem
depois à narrativa.
Delineadas em linhas pretas e finas, as pranchas não
apresentam divisão por vinhetas, antes
são construídas como um todo, cuja legibilidade extrema não deixa de ser
surpreendente. Na verdade, Gabrielle Piquet guia os nossos olhos duma forma que
raramente me foi dado ver, conduzindo-nos pelas páginas e pela história, ao
ritmo que previamente estabeleceu.
Casas, ruas, mar, personagens vão desfilando, com leveza e
espontaneidade, partilhando connosco as suas memórias e as memórias da autora
expressas em citações e referências que tornam a história mais complexa do que
o próprio desenho.
Na sua base está a relação próxima e profunda de dois irmãos
que a vida escolheu marcar.
Achille é um antigo apaixonado pelo mar. Feridas da
participação na guerra na Argélia e o desaparecimento de uma família a quem
emprestou o barco levaram-no a não mais lá voltar há mais de 20 anos.
Quanto a Adrien, é o pateta da vila, simplório e aluado,
deambulando pelas ruas e o porto, vendo e falando com quem mais ninguém vê ou ouve.
Através deles, a autora discorrer sobre os temas da sua
predilecção: fraternidade, relações humanas, juventude… E entre o irreal e o
surreal, velhos fantasmas e o emocionante envolvimento dos dois, encaminha o
relato para um final surpreendente, que deixa o leitor perplexo e o obriga a
voltar atrás.
Les idées fixes
Gabrielle Piquet
Futuropolis
França, 6 de Março de 2014
195 x 265 mm, 96 p., pb, cartonada
17,00 €
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