Independentemente da qualidade e originalidade da história
contada – que em Sem Remorso não
estão de forma alguma em causa - é inegável que cada edição de J. Kendall é
sempre uma lição de Berardi de como contar uma história aos quadradinhos.
Este número – actualmente distribuído em algumas bancas
portuguesas - é mais um exemplo:
Explano porquê já a seguir.
Sem Remorso abre
com uma conversa entre um homem e um jovem, cujo tema central não se consegue
perceber, durante uma viagem de carro, com utilização de múltiplos planos que
tornam dinâmica uma cena em que as personagens estão imóveis. Chegados perto de
um rio, o homem mata o jovem a tiro e lança o seu corpo à água.
Mudança de cena (introduzida por uma passagem do cenário, do
natural para a TV): Julia, relaxada, em casa, recebe um telefonema de Leo
Baxter para a ajudar a resolver um problema familiar relacionada com um banco.
A continuação promete uma grande novidade no universo da série, a juntar à
curiosidade que a cena inicial já despertou.
Cena 3: reencontro com o ‘assassino’ inicial, no seu local
de trabalho onde, perante o assédio da sua bela (e oferecida) secretária revela
uma (surpreendente) resistência moral e um (assinalável) sentido familiar (que
a continuação da história confirmará acima de toda a dúvida…)
Cena 4: uma jovem apresenta-se na esquadra da polícia, para
dar conta do desaparecimento de um jovem que o leitor facilmente identifica
como a vítima da cena de abertura.
Não vou continuar com esta descrição – que abrangeu já mais
de um quarto da edição… - que destruiria o prazer da leitura. Serviu apenas
para exemplificar como Berardi, progressivamente vai desenvolvendo a sua trama,
alicerçando o universo que criou e enredando o leitor habilmente através do
despertar da sua curiosidade para os vários desfechos potenciais das situações
descritas.
Vai também, aos poucos, soltando mais alguns elementos que
permitem ao leitor ir construindo a história, ao mesmo tempo que ela ganha em
coerência e consistência, conforme vão sendo ajustadas mesmo as cenas que
parecem não combinar.
E, apesar de tudo isto, consegue manter o suspense sobre as
várias histórias que se desenvolvem em paralelo, de tal forma que só nas
últimas quatro páginas o leitor encontra (finalmente) todas as respostas.
G. Berardi e M. Mantero (argumento)
Mario Janni (desenho)
Mythos Editora
Brasil, Julho de 2013
135 x 180 mm, 132 p., pb, capa mole, mensal
R$ 9,90 / 4,50 €
Boas Pedro
ResponderEliminarEste numero já se encontra à venda em Portugal? Pergunto porque, por causa desta critica, fui à procura e só encontrei o 103.
Obrigado desde já
Boas Eskorpiao77,
EliminarSim, já vi este número da J. Kendall à venda em Portugal (mais exactamente no quiosque do El Corte Inglés de Gaia) desde a semana passada.
Boas leituras!
Obrigado Pedro
ResponderEliminarAcabei por encontrar mas só na 4ª papelaria em que procurei. O engraçado é que todas as 4 tinham vários exemplares do 103 e só uma tinha o 104 e logo com 5 exemplares disponiveis. Estranha esta distribuição... :)
caro Eskorpiao77,
EliminarSim, a distribuição é mesmo estranha.
Por acaso fui hoje ao El Corte Inglès e só tinha o #103...
Mas o que interessa é que conseguiste um exemplar!
Boa leitura!
Tenha pena de não ter lido este número mais cedo (mas a coluna de livros "a ler" cá em casa andou a arranhar o tecto...) e na verdade Julia é, cada vez mais, a série mensal que mais me preenche as medidas. Sem dúvida de que se fizesse apenas uma, seria esta.
ResponderEliminarAcima de tudo aplaude-se a leveza da personagem da Júlia mas de número a número, é sempre a própria trama que assume o protagonismo, embora a evolução emocional da personagem principal de número para número esteja a ser feita de forma muito ponderada e paciente, o que é admirável.
É verdade V,
EliminarEsta é uma daquelas séries que é obrigatório fazer. E é bom ver que o destaque que tem tido aqui no blog vai dando alguns frutos, ou seja, leitores!
Boas leituras!