Às vezes – quase sempre? – não interessa tanto o que se
conta, mas sim como se conta.
Gipi, é um dos exemplos possíveis, como tão bem revela Ils ont retrouvé la voiture, o segundo
relato deste livro, como demonstro já a seguir.
Bons Baisers de la
province, compila dois contos de Gipi – Les
Innocents e Ils ont retrouvé la voiture
- editados originalmente em 2005 e 2006, respectivamente.
O primeiro – que já faz jus ao que escrevi a abrir – é uma
memória autobiográfico sobre cumplicidades e iniciação. Enganadoramente simples,
conta com uma ida ao parque de diversões, foi substituída por uma visita a um
antigo amigo do tio, recém-saído da cadeia.
Mais do que o que Gipi expõe, a narrativa faz-se de
subentendidos, daquilo que fica por dizer e apenas se adivinha, numa construção
de cumplicidades entre o autor, adolescente, e o seu tio.
Mas, a justificação plena do pretexto deste texto - ! –
encontra-se em Ils ont retrouvé la voiture.

Gipi, com grande mestria, monta uma narrativa sem nunca nomear
os protagonistas, que são apenas “o homem calmo”, “o homem que fez a pergunta”,
“o homem que telefonou”, “o homem que abriu a porta” ou “o homem que não
disparou”. Protagonistas que, por isso, sucessivamente, vão mudando a sua
descrição, conforme a acção vai avançando.
Dessa forma, Gipi reforça o que eles fizeram – mostrando o
que são – à ‘revelia’ do nome, da forma como são conhecidos. Isso dá uma força
e um impacto suplementares à narrativa - que também aborda temáticas como a traição e a religião - que tem por base um texto sóbrio mas extremamente
incisivo, que faz toda a diferença e me leva, mais uma vez, a deixar o convite
para que descubram a obra de Gipi.
Gipi
Futuropolis
França, 21 de Agosto de 2014
214 x 290 mm, 72 p., cor, cartonado
16,00 €
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