Chega este mês às bancas portuguesas o primeiro número de
uma nova colecção Bonelli da editora Mythos.
Colecção dupla, pois em cada volume há histórias de Cassidy
e de Demian, que deveria ter 18 volumes – correspondentes ao integral das duas
colecções em Itália - mas que a Mythos cancelou ao fim de cinco meses por
vendas insuficientes.
A apresentação já a seguir.
Introdução
Cassidy e Demian têm alguns aspectos em comum, a começar
desde logo pelo argumentista, Pasquale Ruju.
Ambos são também aquilo a que poderíamos chamar ‘bandidos
simpáticos’ pois os respectivos códigos de conduta levam a que o leitor
simpatize com eles e torça a seu favor contra os seus inimigos, mesmo que eles
sejam as forças da lei.
Raymond Cassidy é um assaltante famoso que, durante um
golpe, é ferido pelos seus próprios companheiros de assalto e, após uma fuga
atribulada, acaba à beira da morte, no meio de um bosque. Surge então um
estranho músico, velho, negro e cego, que lhe concede mais 18 meses – o tempo
da colecção… - de vida para “resolver” o que até aí deixou para trás.
Quanto a Demian, é uma espécie de justiceiro que se move na
sombra, na zona do Mediterrãneo, entre a Europa e África, e enfrenta a máfia marselhesa, aplicando os seus conceitos de Bem e de
Mal.
Desenvolvimento
Com dois números já lidos, confesso a minha preferência por
Cassidy, uma leitura mais directa e dinâmica que tem como atractivo extra o
toque de sobrenatural que está na base da narrativa.
A forma como Cassidy aplica o conceito de “resolver as
coisas”, preferindo ajustar contas do que compor o que de menos bom até aí fizera, díspar daquele que levou o velho cego a prolongar a sua vida, torna
mais interessante o conteúdo de cada história, sempre num registo duro e
violento, que decorrem em ritmo acelerado e condimentadas com sucessivos
flashbacks que ajudam a entender opções e relações que o protagonista vai
assumindo ao longo delas.
Os flashbacks são outro ponto comum às duas mini-séries,
pois Ruju também os utiliza de forma equilibrada em Demian para colocar o
leitor a par do seu passado. Aqui, as histórias decorrem a um ritmo mais pausado
– a informação disponibilizada ao leitor é maior e exige mais atenção - revelam-se
por isso mais consistentes e estruturadas, num tom mais próximo do policial com um toque de suspense, com as cenas de acção a receberem
menos protagonismo.
Se ambas as séries se lêem bem, ambas são bons exemplos das
propostas Bonelli vocacionadas para proporcionar um bom momento de distracção e
um intervalo ligeiro no ritmo quotidiano.
- A opção pelo formato original italiano, que a Mythos devia
utilizar mais vezes.
- A utilização das capas de ambas as séries (na capa e
contracapa) de cada volume – embora pudesse ter sido interessante que cada série
se começasse a ler a partir da respectiva capa.
- O tom ligeiro mas bem conseguido dos dois registos.
Menos conseguido
- A falta de adesão dos leitores (brasileiros) a Cassidy
& Demian, o que levou a Mythos a cancelá-la ao fim de apenas cinco números.
Como pequena compensação fica o facto de as histórias serem auto conclusivas,
podendo ser lidas independentemente.
- O preço elevado da edição em Portugal e no Brasil –
consequência do formato? - que certamente (ajuda a) explica(r) o afastamento dos
leitores.
Cassidy & Demian #1
Cassidy: Ajeitando as coisas
Pasquale Ruju (argumento)
Maurizio di Vincenzo (desenho)
Demian: Vingança!
Pasquale Ruju (argumento)
Luigi Piccatto e Giorgio Sommacal (desenho)
Mythos Editora
Brasil, Janeiro/Fevereiro de 2014
160 x 210 mm, 226 p., pb, capa mole, bimestral
R$ 24,90 / 12,00 €
A capa chamou-me a atenção, a sinopse também e o que o Pedro escreveu ainda mais, mas saber que dos 18 número apenas publicaram 5 e cancelaram não é o melhor para que por cá a malta compre e o preço também não ajuda nada. Até estava para arriscar, caso encontra-se a revista, mas assim nem pensar.
ResponderEliminarUm abraço
É verdade marco,
ResponderEliminarO preço e o cancelamento fazem pensar... mas como digo acima, em especial Cassidy é interessante e as histórias são auto conclusivas.
Boas leituras e... um óptimo 2015!