09/06/2015

Cabeça Oca





Habituado à realidade nacional, onde as tiras diárias de imprensa publicadas – e, bons tempos que já lá vão… - foram (quase exclusivamente) sempre importadas (dos EUA), não deixo de me surpreender como esta forma de publicação tem tantos cultores no Brasil.
Cabeça Oca, criação de Christie Queiroz que completou recentemente 25 anos (!) de publicação, é o exemplo que destaco hoje.


[É verdade que talvez não devesse ser tão surpreendente se atendermos a que a própria Turma da Mônica, de Maurício de Sousa, nasceu nesse formato e o exemplo do seu sucesso poderia levar outros criadores a, de alguma forma, tentar emulá-lo…
Mas, é igualmente verdade que, noutra épocas, criações – também de autor – como Níquel Náusea, de Fernando Gonsales, ou Quase Nada, dos gémeos Bá e Moon, conseguiram o seu espaço. E, recentemente, conhecemos em edição portuguesa Armandinho, de Alexandre Beck.]


Mas falemos então do Cabeça Oca, que começou a ser publicado em três jornais regionais (penso que posso escrever assim) quando o seu autor tinha apenas 16 anos e hoje, mais de 25 anos depois, continua a ser presença assídua nalguns títulos da imprensa brasileira bem como online, onde Cabeça Oca e Mariana partilham um blog e uma página do Facebook.
E, numa altura em que esse método prevalece em Portugal, refira-se que as edições do Cabeça Oca foram as primeiras – em 2006 - a serem alvo de uma promoção com jornais brasileiros.
Tira de tom familiar, centra-se no quotidiano – em casa, na escola, no jardim, no parque, com os amigos – do protagonista que lhe dá título, um menino de 6, 7 anos, traquina, curioso e hiperactivo como tantos que nós conhecemos. [E sim, seu sei, são muitos os exemplos aos quadradinhos que podemos aqui citar, mas a verdade é que Cabeça Oca tem um estilo, uma personalidade e uma existência próprias que, sem renegar eventuais influências, o levam a trilhar um caminho próprio e original.]


Ao seu redor, para dar diversidade e consistência, aproximando a BD (ficção) da vida real (dos leitores) estão a mãe e o pai (Cabeção), o cão Empadinha, os amigos Pião, Baixinha e Chocolate e, principalmente a irmã Mariana – criada em 2000, inspirada na filha do autor – cujo sucesso já levou a que protagonize algumas edições a solo.
Tendo saltado entretanto das tiras diárias para outros formatos – histórias (mais ou menos) curtas, histórias longas, encomendas institucionais como Cabeça Oca – Lixo: reeducar é possível – e tendo sido ‘partilhado’ com outros criadores - o que mais surpreende é a diversidade de publicações em que Cabeça Oca vive as suas divertidas aventuras e diabruras, sejam eles os livros com a compilação das tiras de jornal, a revista (gibi) no tradicional formatinho ou o álbum completo, como facilmente se pode verificar na sua loja online.
Após a leitura de quatro edições diversas, confesso a minha preferência pelo formato original em tiras, mais capaz de condensar e expor num espaço curto, todo o potencial humorístico da personagem, em especial quando assume a identidade do Super-Cabeça Oca, onde a par das habituais confusões, se multiplicam bem-humoradas alusões a bem conhecidos heróis de BD (HQ).


Isso não invalida o potencial dos outros formatos – que para além dos fãs do Cabeça Oca podem chegar a leitores diferentes –, todos eles bem explorados e com as narrativas adaptadas às suas características específicas, sendo de realçar que a revista apresenta a singularidade de ter o herói como intérprete de toda a publicidade nela inserida.

A multiplicação de projectos– e a consequente procura de mais leitiores - passa, igualmente, pela ‘partilha’ do Cabeça Oca com outros criadores – sempre sob a supervisão de Christe Queiroz – sem que a sua matriz gráfica e temática se afaste demasiado dos padrões pré-estabelecidos.

  

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