Sendo já uma das surpresas aos quadradinhos deste verão –
com a chancela da Planeta Tangerina, que tem como imagem de marca o cuidado
gráfico posto nas suas edições - Finalmente
o Verão, ganha relevância – a que cada um quiser, claro… - pelo facto de
ter sido há dias distinguido com o Eisner para Melhor Álbum Gráfico (Inédito)[,
integrando um palmarés onde também se encontra Saga
(Melhor Série) e Blacksad: Amarillo (Melhor Edição
Americana de Material Estrangeiro), também editados em português, respectivamente
pela G. Floy e a Arcádia], para além de estar igualmente nomeada para os Harvey
Awards
É mais uma obra de leitura obrigatória, num mês de Julho que
se tem revelado rico em surpresas, como raramente esta época o foi alguma vez,
no que à edição de BD em Portugal diz respeito.
[E não dispenso novo parêntesis, para relembrar as obras
editadas que justificam o parágrafo anterior: O Árabe do Futuro (Teorema), Parker: O Caçador (Devir) e Star Wars: Saga Completa (Planeta).
E o mês não vai ficar por aqui…]
Evocação de férias infanto-juvenis, aquelas que todos nós
temos como (d)as mais memoráveis de sempre, Finalmente
o Verão – pelo tempo da acção, uma história bem apropriada para a época
estival – narra o regresso de Rose a Awago Beach para mais umas férias de estio
passadas com a sua prima Windy, ano e meio mais nova. Só que, desta vez, essa
diferença de idades vai fazer diferença e se até então ambas tinham interesse
comuns, agora Rose começa a ter outros interesses e motivações que Windy nem
sempre acompanha. Se as pequenas transgressões ainda são feitas a duas – os
filmes de terror visionados apesar de proibidos, os palavrões, algumas
mentiras… - outras questões há em que o fosso já começa a cavar-se. A juntar a
tudo isto, a relação tensa entre os pais de Rose – e da mãe em relação a todos
os outros – vai provocar alterações significativas e deixar marcas indeléveis em
dias que deviam ser de lazer e despreocupação.
O despertar das hormonas, relações adolescentes, falta de
comunicação entre casais, gravidezes (in)desejadas (ou não) e a necessidade de
afirmação, são os temas que vão balizar aqueles dias de férias, vistos – e
mostrados – (quase sempre) pelo olhar adolescente das protagonistas.
A força do livro reside principalmente em dois factores. Em
primeiro lugar na credibilidade e na consistência do retrato dos – das! –
protagonistas, as amigas Rose e Windy. Depois, pela mestria evidenciada na
gestão dos tempos narrativos pelas autoras, (as primas) Jillian e Mariko
Tamaki que, jogando apenas com os (ajustados) diálogos – ou com a ausência
deles… - e com as dimensões das vinhetas – que podem chegar à dezena por página
ou brilhar em página dupla – conseguem acelerar, reduzir pu mesmo parar a
passagem do tempo. Dessa forma, acentuam momentos, acções, reacções ou emoções,
realçando pormenores significativos mais à frente ou o momento presente que
surge exposto aos nossos olhos e fazendo, dessa forma, avançar a história ao
ritmo que pretendem.
História que, acredito, alguns considerarão desinteressante
ou banal – acusando mesmo de nada se passar – mas que se revela plena de
contradições, dúvidas, incertezas, fugas e fragilidades, como só a vida real –
mesmo que transposta para quadradinhos – pode ser.
Finalmente o Verão
Colecção Dois Passos e Um Salto
Mariko Tamaki (argumento)
Jillian Tamaki (desenho)
Planeta Tangerina
ISBN: 9789898145666
150 x 215 mm, 332 páginas, pb, brochada com badanas, 18,90 €
Bom texto Pedro. Uma precisão: as protagonistas não são primas, antes amigas, companheiras de férias de verão, ao menos na minha edição (1ª edição da 1st Second). Uma informação: o livro também ganhou o Ignatz de 2014. O Ignatz é somente um prémios da BD independente, et pour cause...Tanto quanto sei, foi a 1ª vez que um romance gráfico ganha simultaneamente o Eisner e o Ignatz. Já agora, as autoras são canadianas, mas seria engraçado saber qual a sua ascendência, já que, IMHO, o livro tem alguma influência estática do manga. E parabéns à 1st Second por mais esta bela edição!
ResponderEliminarCaro RC,
EliminarObrigado pelo elogio e também pela atenção. tens toda a razão e já fiz a correcção devida no texto.
Os prémios valem o que nós quisermos, mas mediaticamente são sempre importantes. o Ignaz estava referido no lançamento que fiz do livro, o Eisner surge agora mais importante pela sua actualidade.
Quanto ás autoras, parece que têm ascendência japonesa, mas a inegável influência manga virá possivelmente mais das leituras que fizeram - nas fotos que a Planeta Tangeriona disponibiliza na ficha técnica do livro parecem relativamente jovens - do que da sua origem.
Não conheço a edição a First Second - que costuma apresentar livros muito interessantes - mas acho que a Planeta Tangerina também fez jus à sua tradição de bons objectos gráficos.
E que venha o próximo!
Boas leituras!