Com passos lentos mas seguros, a colecção Tsuru continua a
trazer-nos obras-primas do manga, entre obras clássicas ou (mais ou
menos) recentes.
No regresso de Shigeru Mizuki, depois do belíssimo Nonnonba,
temos agora um líbelo acusatório contra a guerra e, mais do que
isso, contra o absurdo - dizemos nós, ocidentais, e hoje - sentido
de honra japonês.
Situado no final da II Guerra Mundial, este é um relato
auto-biográfico, embora o papel original do autor - que perdeu um
braço naqueles combates - tenha sido ‘entregue’ ao soldado
Maruyama, que narra o papel - defensivo e (falsamente) ofensivo - do
batalhão Naruse, na Ilha de Nova Bretanha (Bien, no presente
relato).

Se noutros contextos, seria natural um sentimento de revolta e de
vingança, guiados pelo absurdo - reitero - sentimento de honra
japonês, os soldados limitam-se a dar a cara - tantas vezes
literalmente - e a pôr-se a jeito para que as constantes humilhações
prossigam. Nem mesmo o recorrer desesperado a ataques suicidas - os
únicos que garantem uma morte honrosa… - os leva - com raras e
ligeiras excepções - a pôr em causa o estado das coisas, as ordens
recebidas, as diferenças gritantes de tratamento.

Por isso, também não surpreende que, graficamente, haja alguma
simplicidade, com as personagens traçadas com linhas leves e
caricaturais, a destoar com o realismo quase fotográfico dos poucos
cenários mostrados e das raras representações do inimigo. Quase
como se este toque de realismo servisse apenas para contrastar com a
ligeireza - não queria escrever ‘piada’ - do comportamento dos
‘bravos’ oficiais e soldados nipónicos.
Marcha para a Morte!
Colecção tsuru
Shigeru Mizuki
Devir
Portugal, Outubro de 2018
120 x 240 mm, 368 p., pb, capa mole com badanas
24,99 €
(imagens
disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as apreciar em toda
a sua extensão)
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