Escrevi
o título acima, já com o esboço deste texto na cabeça, mas quando
o reli no final, achei-o dúbio. Não sendo mau, como introdução
prefiro pontuá-lo: ‘Vale sempre a pena?’ E, já de
seguida, contextualizá-lo: ‘Vale sempre a pena editar um
segundo volume, mais de três anos após o lançamento do primeiro?’
Antes
de algumas considerações, dou já uma resposta: no que diz respeito
a O Comboio dos Órfãos - para mim - valeu a pena.
Mas
avancemos por partes. A resposta a uma questão destas tem sempre -
pelo menos - duas posições distintas: a do editor e a do leitor.
Para
o editor, a resposta obviamente é sim, vale a pena - caso contrário,
simplesmente não o editavam. A edição pode ter demorado porque as
vendas do volume inicial ficaram abaixo do esperado, porque só agora
atingiram o ponto de equilíbrio necessário para avançar com novo
tomo, devido à inércia numa editora em que a BD não é aposta
prioritária, porque a continuação ainda não tinha sido lançada
no país de origem (o que não é o caso de O Comboio dos
Órfãos, pois o volume #4 já estava disponível antes do início
da edição pela arcádia - e neste momento a série já conta 8
álbuns).
Para
o leitor, contrariamente ao que se possa pensar, nem sempre vale a
pena. Porque desistiu da série face à demora do editor em
continuá-la e já não arriscará uma segunda compra, porque gostou
tanto que já a comprou na língua original ou noutra qualquer
tradução, porque tendo esperado pela continuação para iniciar a
colecção já não encontra à venda o volume inicial… O que no
caso presente, mais uma vez, não se verifica, porque o álbum
inicial com o Ciclo I: Jim e Harvey felizmente ainda se
encontra facilmente à venda.
No
intróito, acima, escrevi que, para mim, valeu a pena esperar pelo
segundo volume da arcádia e justifico agora.
Relembro
que O Comboio dos Órfãos - um título originário do
catálogo da Grand Angle que tem outras propostas bem interessantes
que valeria a pena explorar - se baseia num facto real, um comboio
que, nos anos 20, ao serviço de uma (suposta) sociedade beneficente
intitulada Orphans Train Society, percorria os Estados Unidos levando
crianças órfãos ou abandonadas (ou vendidas pelos pais…) para as
‘colocar’ - soa a mercadoria e pouco mais era do que isso - em
famílias que não podiam ou não queriam ter filhos ou estavam à
procura de mão de obra barata para trabalhar nos campos ou em
fábricas.
Ao
longo de alguns anos foram milhares de crianças que viram o seu
destino mudado, umas para sua felicidade, outras acentuando a
desgraça que as perseguia desde o berço.
Com
este ponto de partida, conhecemos Jim, Harvey, Anna, Lisa, Joey… e
alguns personagens mais cujo destino e percurso de vida se cruzaram e
nos são agora, aos poucos, apresentadas.
O
tom do primeiro volume acentua-se neste, com um um olhar crítico
subjacente a um retrato realista de uma época complicada, mas também
com grande ternura, algum humor e o conhecimento da forma de ser e
agir das crianças e da sua grande capacidade de adaptação e de
superação.
Não
funcionando como volumes estanques - longe disso, pois todas as
personagens centrais, crianças ou não, são recorrentes nos quatro
tomos (originais) já disponíveis nos dois dípticos portugueses - a
verdade é que o facto de cada álbum se centrar cada um (mais ou
menos) especificamente numa das crianças, permite que estes dois
volumes sejam lidos isolados, sem mais - embora isso só permita ver
algumas árvores, não toda a floresta…
O
reencontro com a narrativa leve, descontraída e atraente de Charlot
e Fourquemin proporcionou-me uma boa leitura e, por isso, saúdo a
edição de O Comboio dos Órfãos - Ciclo II: Lisa e Joey
pela arcádia, mesmo que três
anos e meio depois, com o
desejo sincero que o tomo 3 demore bem menos a chegar aos seus
leitores portugueses. Até porque, geralmente, um segundo volume
potencia as vendas do primeiro e
uma continuação periódica ainda mais...
O
comboio dos Órfãos - Ciclo II: Lisa e Joey
Philippe
Charlot (argumento)
Xavier
Fourquemin (desenho)
Arcádia
Portugal,
Setembro de 2018
215
x 285 mm, 96 p., cor, cartonado
22,00
€
(imagens
disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as apreciar em toda
a sua extensão)
Eu sou dos que não adquiriu o volume 1. Detesto ficar a "aguar" pelas continuações de histórias e detesto ficar com séries penduradas devido às editoras não continuarem as séries(*). Estes três anos de espacejamento "confirmaram" essa minha opinião de "não edição do resto da série". Aliás, já nem me lembrava d'O Comboio dos Orfãos, até esta edição.
ResponderEliminarAinda não decidi se compro os dois. E por consequencia, fico à espera dos próximos.
(*) já sei da história de "não vende, não edita", mas eu tenho ainda menos dinheiro que as editoras para o estar a "arriscar" em séries que ficam penduradas.
Sou dos que comprou agora os dois volumes.
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