Heróis do Mar, Contra
os Canhões…
LUTAR… LUTAR
Fazer o levantamento – embora tal se apresente como tarefa
árdua, pela forma como muitas delas “desaparecem” (ou não chegam a aparecer) e
nunca cheguem realmente a circular – de todas as edições de BD feitas e/ou
apoiadas por câmaras, institutos e instituições, privadas e públicas, em
Portugal, ao longo dos últimos anos, daria com certeza origem a algumas
descobertas surpreendentes.
Desde logo pelo elevado número de títulos que, acredito,
seria encontrado (constituindo alguns deles a (única?) fonte de rendimentos dos
seus autores) mas também pelo desconhecimento (natural…) do meio narrativo e da
realidade editorial nacional por parte de quem as editou – mas, se assim não
fosse, dirão alguns, quantas destas edições chegariam a ver a luz do dia…?
Desconhecimentos visíveis, por exemplo, em prefácios e notas
introdutórias descabidas ou em tiragens mirabolantes, que podem chegar aos 5 ou
10 mil exemplares!
E tiragens (mirabolantes) essas que se destinam – tantas vezes!
– a ser distribuídas (com que critério…?) por estabelecimentos de ensino, instituições
e/ou bibliotecas (ou a ficarem esquecidas em armazéns), sem que qualquer parcela seja
direccionada para os seus leitores naturais.
Não obedecendo implicitamente a (tudo) o que atrás fica
escrito, segue-se o registo de duas destas edições, que recebi recentemente.
A. Vassalo
Edições Culturais da Marinha (Portugal, 2011)
210 x 297 mm, 24 p., pb, capa fina
Com uma invulgar tiragem de 10.000 exemplares, esta edição de
algum modo “responde” ao quesito que estabeleci a propósito do álbum Cinzas daRevolta, sobre a falta de abordagens à Guerra Colonial na BD portuguesa.
O seu autor é A. Vassalo (que também já assinou Vassalo de Miranda), já com currículo razoável
no género (incluindo corajosa glorificação dos comandos nacionais em África
logo após o 25 de Abril) que, mais uma vez, opta por exaltar os feitos
guerreiros (apesar de tudo) recentes dos soldados portugueses, em 1961. (O que
só soa estranho pelo seu lado de contemporaneidade, pois o mesmo se faz há
muito tempo em relação a figuras como D. Afonso Henriques, Nuno Álvares Pereira
ou Mouzinho de Albuquerque…)
Agora, para além da época, muda o local da acção – Diu, na
costa ocidental da Índia – e os protagonistas – a guarnição portuguesa local… Desenhada
de forma clássica, em traço fino, perde pela falta de profundidade devida à ausência
de sombreado ou de manchas negras, e também pelo uso de legendagem mecânica
pouco agradável.
Tendo como ponto de partida uma homenagem actual da marinha
indiana a “heróis” portugueses, entra depois num longo flashback que evoca o
confronto entre uma lancha portuguesa e forças aeronavais indianas. Assumindo um
tom documental e didáctico, abusa dos textos de apoio, mesmo quando predominam
os combates, mas tem o mérito de evocar um episódio pouco conhecido de um
período da nossa História que muitos ainda têm dificuldade em revisitar.