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20/02/2015
Big Ben Bolt, 65 anos
12/10/2010
John Cullen Murphy’s Big Ben Bolt Dailies Volume One – Feb 20, 1950 to May 24, 1952
Elliot Caplin (argumento)
John Cullen Murphy (desenho)
Classic Comics Press (EUA, Agosto de 2010)
280 x 215 mm, 250 p., pb, brochado
Resumo
Assinalando os 60 anos da criação de Big Ben Bolt, este álbum compila as primeiras 708 tiras diárias do pugilista, correspondentes a pouco mais de dois anos de publicação.
Nele vamos conhecer o jovem Bolt que nasceu “num país cujo nome não é importante – basta dizer que não são os Estados Unidos da América. Num país de onde gostaria de escapar qualquer homem com um forte amor pela democracia e pelas suas instituições livres”, como se lê logo na primeira vinheta!
Depois, aos poucos, conhece-remos também Spider Haines, antigo pugilista e futuro manager de Bolt; Charity, a mulher por quem se vai apaixonar; os seus tios que o acolherão na América com que ele tanto sonha… E os diversos adversários que vai enfrentar – dentro e fora do ringue.
Desenvolvimento
Conheci Big Ben Bolt – na altura ainda era o “campeão português” Luís Euripo e Spider Haines dava pelo nome de Zé Gomes (!) – nas páginas do Mundo de Aventuras, mas confesso que então esta não era uma série que me enchesse as medidas.
(Re)descobri-la agora, na (longa) (re)leitura sistemática das tiras diárias publicadas ao longo de dois anos foi para mim uma agradável surpresa.
Por um lado, porque sendo o boxe o meio no qual Ben Bolt se move, as histórias vão muito para além dos simples combates em si. De uma maneira geral – a excepção é o entreacto (inacabado, pois o seu final é algo inconclusivo?) no qual Bolt conhece Eve e o seu protector - são histórias bem escritas, construídas e desenvolvidas. Os seus intervenientes são bem humanos, com os seus defeitos e qualidades, raramente correspondendo aos habituais estereótipos de “bons” ou “maus”. O próprio herói tem dúvidas, erra por vezes, hesita nas decisões s tomar. A par do boxe, Bolt tem que “enfrentar” os seus amigos, os seus sentimentos, aqueles com quem se cruza e que de uma forma ou de outra se querem aproveitar dele, seja um manager que quer controlar a sua carreira, uma corista em busca de publicidade, um gansgter em busca de vingança ou uma mulher mimada. Tanto é assim, que os diversos episódios apresentados – alguns deles bem à margem dos combates – não têm repetições nem grandes pontos em comum. Cada história é uma nova história que serve para Bolt, Spider e Charity estreitarem os seus laços e crescerem enquanto personagens credíveis e humanas.
Por outro lado, se são vários os combates mostrados neste primeiro tomo, não há dois que decorram da mesma forma, nem dois que terminem da mesma maneira. É verdade que Bolt vence (quase) todos, mas a forma como o consegue, as motivações que o movem e o levam à vitória são diversos, como diversas são as reacções dos derrotados. Por isso, também, este é um belo retrato do mundo do boxe nos EUA na década de cinquenta do século passado, com todas as suas virtudes e os seus podres. E também um belo retrato de uma época e de um tempo que hoje nos parece estranho em muitos aspectos.
Finalmente, se nunca fui adepto do boxe e me custa a compreender como é considerado um desporto, confesso que vibrei com alguns dos combates, tanto pela forma como estão (d)escritos, quer (especialmente) pela forma como Cullen Murphy os encena com uma plasticidade, uma beleza e uma elegância assinaláveis, transformando-os em algo que é ao mesmo tempo duro e violento, mas também suave e delicado, agradável de ver na graciosidade dos dois combatentes, conseguindo fazer com que cada combate durasse semanas (ou aqui páginas) sem que isso canse ou desmotive o leitor.
A reter
- Mais um “integral” para a minha biblioteca, hoje em dia, sem dúvida, a melhor forma de (re)ler os grandes clássicos da BD. Sejam eles franco-belga ou norte-americanos. Ou de outra qualquer nacionalidade, como demonstrarei em breve aqui.
- A qualidade literária das histórias.
- O magnífico traço de John Cullen Murphy, em especial na composição dos combates de boxe.
- O bom preço de $24,95, que garante várias horas de (muito) boa leitura.
Menos conseguido
- Eu sei que nem todos são como Manuel Caldas e se dedicam de alma e coração à restauração dos originais e que por vezes é difícil encontrar originais/prints/cópias de qualidade para reproduzir, mas a qualidade da impressão das tiras até 30 de Dezembro de 1950 (ou seja até à página 101 da corrente edição) é bastante fraca. Depois – milagre! – volta-se a página e o traço fino e detalhado de Murphy surge em todo o seu esplendor em praticamente todas as restantes páginas da edição.
- A falta de uma capa cartonada que valorizaria muito a edição. Mas que faria o seu preço subir dos actuais $24,95 para valores menos interessantes…
- A existência de 7 (sete) páginas em branco no final do volume que, no mínimo poderiam ter servido para publicitar melhor o próximo tomo ou as outras edições similares da Classic Comics Press: Mary Perkins on Stag e The Heart of Juliet Jones.
Curiosidades
- Eliot Caplin, o argumentista, seria também co-criador de The Heart of Juliet Jones e do Dr. Kildare, duas séries que fizeram sucesso nos jornais portugueses, respectivamente em O Primeiro de Janeiro e no Jornal de Notícias.
- John Cullen Murphy desenhou Big Ben Bolt até 1977, deixando-o para substituir Harold Foster em Prince Valiant.
- As próximas edições previstas pela Classic Comics Press são as compilação das tiras diárias de Rusty Riley, de Frank Godwin, e de outro herói que fez as delícias dos leitores portugueses, o cowboy romântico Cisco Kid, do argentino José Luís Salinas. Os respectivos volumes iniciais, correspondentes aproximadamente aos dois primeiros anos de cada série, estão previstos para o final de 2010 e a Primavera de 2011.
John Cullen Murphy (desenho)
Classic Comics Press (EUA, Agosto de 2010)
280 x 215 mm, 250 p., pb, brochado
Resumo
Assinalando os 60 anos da criação de Big Ben Bolt, este álbum compila as primeiras 708 tiras diárias do pugilista, correspondentes a pouco mais de dois anos de publicação.
Nele vamos conhecer o jovem Bolt que nasceu “num país cujo nome não é importante – basta dizer que não são os Estados Unidos da América. Num país de onde gostaria de escapar qualquer homem com um forte amor pela democracia e pelas suas instituições livres”, como se lê logo na primeira vinheta!
Depois, aos poucos, conhece-remos também Spider Haines, antigo pugilista e futuro manager de Bolt; Charity, a mulher por quem se vai apaixonar; os seus tios que o acolherão na América com que ele tanto sonha… E os diversos adversários que vai enfrentar – dentro e fora do ringue.
Desenvolvimento
Conheci Big Ben Bolt – na altura ainda era o “campeão português” Luís Euripo e Spider Haines dava pelo nome de Zé Gomes (!) – nas páginas do Mundo de Aventuras, mas confesso que então esta não era uma série que me enchesse as medidas.
(Re)descobri-la agora, na (longa) (re)leitura sistemática das tiras diárias publicadas ao longo de dois anos foi para mim uma agradável surpresa.
Por um lado, porque sendo o boxe o meio no qual Ben Bolt se move, as histórias vão muito para além dos simples combates em si. De uma maneira geral – a excepção é o entreacto (inacabado, pois o seu final é algo inconclusivo?) no qual Bolt conhece Eve e o seu protector - são histórias bem escritas, construídas e desenvolvidas. Os seus intervenientes são bem humanos, com os seus defeitos e qualidades, raramente correspondendo aos habituais estereótipos de “bons” ou “maus”. O próprio herói tem dúvidas, erra por vezes, hesita nas decisões s tomar. A par do boxe, Bolt tem que “enfrentar” os seus amigos, os seus sentimentos, aqueles com quem se cruza e que de uma forma ou de outra se querem aproveitar dele, seja um manager que quer controlar a sua carreira, uma corista em busca de publicidade, um gansgter em busca de vingança ou uma mulher mimada. Tanto é assim, que os diversos episódios apresentados – alguns deles bem à margem dos combates – não têm repetições nem grandes pontos em comum. Cada história é uma nova história que serve para Bolt, Spider e Charity estreitarem os seus laços e crescerem enquanto personagens credíveis e humanas.
Por outro lado, se são vários os combates mostrados neste primeiro tomo, não há dois que decorram da mesma forma, nem dois que terminem da mesma maneira. É verdade que Bolt vence (quase) todos, mas a forma como o consegue, as motivações que o movem e o levam à vitória são diversos, como diversas são as reacções dos derrotados. Por isso, também, este é um belo retrato do mundo do boxe nos EUA na década de cinquenta do século passado, com todas as suas virtudes e os seus podres. E também um belo retrato de uma época e de um tempo que hoje nos parece estranho em muitos aspectos.
Finalmente, se nunca fui adepto do boxe e me custa a compreender como é considerado um desporto, confesso que vibrei com alguns dos combates, tanto pela forma como estão (d)escritos, quer (especialmente) pela forma como Cullen Murphy os encena com uma plasticidade, uma beleza e uma elegância assinaláveis, transformando-os em algo que é ao mesmo tempo duro e violento, mas também suave e delicado, agradável de ver na graciosidade dos dois combatentes, conseguindo fazer com que cada combate durasse semanas (ou aqui páginas) sem que isso canse ou desmotive o leitor.
A reter
- Mais um “integral” para a minha biblioteca, hoje em dia, sem dúvida, a melhor forma de (re)ler os grandes clássicos da BD. Sejam eles franco-belga ou norte-americanos. Ou de outra qualquer nacionalidade, como demonstrarei em breve aqui.
- A qualidade literária das histórias.
- O magnífico traço de John Cullen Murphy, em especial na composição dos combates de boxe.
- O bom preço de $24,95, que garante várias horas de (muito) boa leitura.
Menos conseguido
- Eu sei que nem todos são como Manuel Caldas e se dedicam de alma e coração à restauração dos originais e que por vezes é difícil encontrar originais/prints/cópias de qualidade para reproduzir, mas a qualidade da impressão das tiras até 30 de Dezembro de 1950 (ou seja até à página 101 da corrente edição) é bastante fraca. Depois – milagre! – volta-se a página e o traço fino e detalhado de Murphy surge em todo o seu esplendor em praticamente todas as restantes páginas da edição.
- A falta de uma capa cartonada que valorizaria muito a edição. Mas que faria o seu preço subir dos actuais $24,95 para valores menos interessantes…
- A existência de 7 (sete) páginas em branco no final do volume que, no mínimo poderiam ter servido para publicitar melhor o próximo tomo ou as outras edições similares da Classic Comics Press: Mary Perkins on Stag e The Heart of Juliet Jones.
Curiosidades
- Eliot Caplin, o argumentista, seria também co-criador de The Heart of Juliet Jones e do Dr. Kildare, duas séries que fizeram sucesso nos jornais portugueses, respectivamente em O Primeiro de Janeiro e no Jornal de Notícias.
- John Cullen Murphy desenhou Big Ben Bolt até 1977, deixando-o para substituir Harold Foster em Prince Valiant.
- As próximas edições previstas pela Classic Comics Press são as compilação das tiras diárias de Rusty Riley, de Frank Godwin, e de outro herói que fez as delícias dos leitores portugueses, o cowboy romântico Cisco Kid, do argentino José Luís Salinas. Os respectivos volumes iniciais, correspondentes aproximadamente aos dois primeiros anos de cada série, estão previstos para o final de 2010 e a Primavera de 2011.
Leituras relacionadas
Big Ben Bolt,
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integral,
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22/02/2010
Big Ben Bolt nasceu há 60 anos
O nome Big Ben Bolt poderá não dizer muito a alguns dos leitores desta linhas, pois certamente estarão mais familiarizados com o de Luís Euripo, como foi denominado quase sempre em Portugal, em especial nas páginas do Mundo de Aventuras. Por isso, para esses, possivelmente será uma surpresa saberem que o seu verdadeiro nome, ao contrário do que a censura então quis fazer querer, era realmente Ben(jamin) Bolt e que era americano e não português. No entanto, na década de 50 do século passado, foi rebaptizado Luís Euripo para servir como “bom exemplo” e “exaltação dos valores pátrios” para quem lia as suas aventuras aos quadradinhos. Por isso, também, o seu treinador Spider Haines passou a Zé Gomes e as suas aventuras transitaram de Boston para Lisboa!
Estreado a 20 de Fevereiro de 1950 – e apenas cinco meses passados em Portugal, no Mundo de Aventuras - como tira diária, completaria hoje 60 anos, não tivesse Ben Bolt falecido com um tiro no peito, em 1978, quando se preparava para receber o Prémio Nobel da Paz, como agente da Interpax, uma ONG de contornos no mínimo duvidosos. Para trás, tinha já deixado há muito o boxe - em que se sagrara campeão mundial de pesados em 1953 - devido a uma lesão, em 1955, bem como o jornalismo e a investigação privada.
Na sua aventura inicial, publicada pela primeira vez em Portugal no Mundo de Aventuras Especial #18, de Julho de 1977, Ben Bolt era apresentado como filho de americanos, criado na Europa, de regresso ao seu país natal para viver com uns tios aristocráticos mas falidos. Isso precipitou a sua entrada no mundo do boxe, instigado por Spider Haines, antigo lutador e seu futuro mannager, e pela bela e insinuante Charity O’Hara, sem que no entanto abandonasse os seus estudos na Universidade de Harvard, o que lhe conferiu um estatuto distinto.
Os seus criadores foram Elliott Caplin, na escrita (a quem muitos apontam como inspiração Joe Palooka, uma outra BD passada no mundo do boxe, de Ham Fisher), e John Cullen Murphy, no desenho, quer da tira diária, quer da prancha dominical estreada a 25 de Maio de 1952. Murphy deu-lhe um visual forte e facilmente reconhecível e conferiu à tira bastante dinamismo o que lhe permitiu gozar uma assinalável popularidade durante anos, apesar da temática desportiva ter sido rapidamente substituída por intrigas sentimentais que alternavam com narrativas de acção e mistério. Quando abandonou Ben Bolt, em 1970, para retomar o Príncipe Valente de Hal Foster, Murphy foi substituído sucessivamente (mas sem grande empenho…) por Carlos Garzon, Joe Kubert, Gray Morrow e Neal Adams, que mais não conseguiram do que prolongar o estertor da série até ao trágico desfecho, ocorrido a 10 de Abril de 1978, o que levaria ao cancelamento da tira cinco dias volvidos.
Para Abril próximo, a Classic Press Comics anunciou o primeiro volume de “John Cullen Murphy’s Big Ben Bolt Dailies”, com as tiras diárias publicadas entre 29 de Fevereiro de 1950 e 24 de Maio de 1952.
(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 20 de Fevereiro de 2010)
Estreado a 20 de Fevereiro de 1950 – e apenas cinco meses passados em Portugal, no Mundo de Aventuras - como tira diária, completaria hoje 60 anos, não tivesse Ben Bolt falecido com um tiro no peito, em 1978, quando se preparava para receber o Prémio Nobel da Paz, como agente da Interpax, uma ONG de contornos no mínimo duvidosos. Para trás, tinha já deixado há muito o boxe - em que se sagrara campeão mundial de pesados em 1953 - devido a uma lesão, em 1955, bem como o jornalismo e a investigação privada.
Na sua aventura inicial, publicada pela primeira vez em Portugal no Mundo de Aventuras Especial #18, de Julho de 1977, Ben Bolt era apresentado como filho de americanos, criado na Europa, de regresso ao seu país natal para viver com uns tios aristocráticos mas falidos. Isso precipitou a sua entrada no mundo do boxe, instigado por Spider Haines, antigo lutador e seu futuro mannager, e pela bela e insinuante Charity O’Hara, sem que no entanto abandonasse os seus estudos na Universidade de Harvard, o que lhe conferiu um estatuto distinto.
Os seus criadores foram Elliott Caplin, na escrita (a quem muitos apontam como inspiração Joe Palooka, uma outra BD passada no mundo do boxe, de Ham Fisher), e John Cullen Murphy, no desenho, quer da tira diária, quer da prancha dominical estreada a 25 de Maio de 1952. Murphy deu-lhe um visual forte e facilmente reconhecível e conferiu à tira bastante dinamismo o que lhe permitiu gozar uma assinalável popularidade durante anos, apesar da temática desportiva ter sido rapidamente substituída por intrigas sentimentais que alternavam com narrativas de acção e mistério. Quando abandonou Ben Bolt, em 1970, para retomar o Príncipe Valente de Hal Foster, Murphy foi substituído sucessivamente (mas sem grande empenho…) por Carlos Garzon, Joe Kubert, Gray Morrow e Neal Adams, que mais não conseguiram do que prolongar o estertor da série até ao trágico desfecho, ocorrido a 10 de Abril de 1978, o que levaria ao cancelamento da tira cinco dias volvidos.
Para Abril próximo, a Classic Press Comics anunciou o primeiro volume de “John Cullen Murphy’s Big Ben Bolt Dailies”, com as tiras diárias publicadas entre 29 de Fevereiro de 1950 e 24 de Maio de 1952.
(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 20 de Fevereiro de 2010)
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