Yves H. (argumento)
Hermann (desenho)
Glénat (França, 9 de Maio de 2012)
215 x 293 mm, 48 p., cor, cartonado
11,50 €
1660, província do Yucatan, México.
Um grupo de homens, exaustos, feridos, famintos, avança pela
floresta densa e luxuriante. São os poucos sobreviventes de uma expedição
espanhola, dizimada pelos sucessivos ataques dos índios. Para lá de uma dúzia
de solados, encontramos um padre e um francês, este último um descendente do
senhor de Bois-Maury.
Enquanto os primeiros querem a todo o custo encontrar o
caminho de regresso e o padre só pensa em impor a sua fé aos índios, Bois-Maury
anseia por encontrar uma suposta cidade perdida, feita de ouro e jóias.
Desenvolvimento
Quase a atingir a centena de álbuns – número ainda mais impressionante
se considerarmos a escola clássica de que é oriundo e a superior qualidade do
seu traço – Hermann consegue mesmo assim surpreender-nos e deslumbrar-nos obra
após obra.
Porque o seu traço – aos 74 anos! – se não está cada vez
melhor – fasquia que é difícil de estabelecer – pelo menos continua ao mais
alto nível, sendo notável a destreza com que alterna os ambientes em que se
movem as suas personagens, de cenários urbanos para mundos pós-apocalípticos,
do tempo medieval para a selva virgem em que se desenrola este Oeil de ciel.
Que Hermann retrata como (muito) poucos, num sublime jogo de
luz e sombras, com estas últimas omnipresentes, cobrindo tudo e todos, brilhe o
Sol no céu ou esteja a Lua no seu lugar, num mundo que a folhagem cerrada priva
de luz directa. Mas, mesmo nessa penumbra constante, Hermann, regressado à cor
directa, baseado numa gama limitada de tons verdes e cinzentos, consegue dar
uma imensa legibilidade em qualquer momento do dia.
(Para próximo do final, num momento de pura magia, quando
Bois-Maury chega às portas da cidade sonhada, quase nos cegar com o mesmo
brilho intenso com que o protagonista se depara, em duas pranchas em que
predominam os tons laranja).
Pela extensão do texto, pelos muitos elogios que já fiz,
facilmente se percebe que – mais uma vez – a estrela desta obra é Hermann. O
que não invalida que o seu filho, Yves H., tenha tido, pelo menos, a capacidade
de criar uma história à medida do talento do pai.
Uma história simples e linear, é verdade, sem grandes
surpresas, construída de forma competente, embora com personagens tipificadas e
de comportamento espectável, mas que se lê com agrado. Uma história em que a
avidez dos conquistadores brancos choca com a simplicidade dos indígenas, em
que o absolutismo da fé católica, tantas vezes caindo no absurdo, encontra
dificuldade em se impor e em que a avidez se sobrepõe ao bom senso e aos
princípios.
A reter
- Hermann. Hermann e a sua arte. Bela, magnífica, sublime,
mesmo que, possivelmente, o papel e a impressão – a que nada há a apontar - não
lhe façam justiça completa…
Menos conseguido
- A tipificação e alguma previsibilidade do argumento, que
Hermann resgata com a sua arte.
- O país em que vivemos – com as editoras, leitores,
distribuidores, livrarias, divulgadores que temos… - que foi capaz de
desperdiçar a oportunidade – que gozou durante anos – de publicar em português,
em simultâneo com a edição original, cada nova obra do mestre Hermann.