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08/03/2011

Tintin

#11 – O Segredo do Licorne
#12 – O Tesouro de Rackham, o terrível
Hergé (argumento e desenho)
Edições ASA (Portugal, Setembro de 2010)
160 x 220 mm, 64 p., cor, cartonado, 8,90 €


Entre as muitas leituras aos quadradinhos que faço, confesso que Tintin tem (continua a ter) um lugar especial. Não por nostalgia de infância porque, se é verdade que o li – parcialmente - em criança, a minha relação – voluntária e consciente - com Tintin surgiu bem mais tarde e tem, por isso, mais contornos de relação estável e duradoura do que de paixão avassaladora mas passageira. Até porque, cada nova leitura, me leva a (re)descobrir novos motivos para admirar a obra-prima de Hergé.
Entre os diversos álbuns com as suas aventuras, “O Segredo do Licorne”, não sendo o meu preferido – esse destaque vai sem dúvida para “Tintin no Tibete” e “As Jóias da Castafiore” – será o que mais memórias me evoca. Curiosamente, em contradição com o que atrás escrevi. Porque o descobri – incompleto – em páginas de velhos exemplares de O Papagaio existentes em casa da minha avó e nelas, muitas vezes, o reli – incompleto, reforço – sem saber se e como Tintin chegaria a encontrar o famoso tesouro de Rackham, o Terrível.
Se este facto é determinante para o peso ”sentimental” que ele tem para mim, a verdade é que este álbum, melhor, o díptico “O Segredo do Licorne”/”O Tesouro de Rackham, o Terrível”, tem tudo para seduzir e conquistar qualquer leitor que a ele chegue sem preconceitos.
Desde logo, porque é, sem dúvida, um dos argumentos mais sólidos de Hergé, baseado na sempre motivadora busca de um tesouro, feita através de um inquérito, longo e recheado de percalços em que humor e mistério se combinam com perfeição.
Depois, porque é nele que se solidifica a relação do repórter com Haddock e é nele que se estreia Girassol. Também porque nele os Dupond/t têm um papel fundamental, não tanto como heróis, mas ainda como co-protagonistas com o papel – mais importante do que por vezes se pensa - de atenuar o clima de mistério, graças aos sucessivos disparates que dizem e fazem. E não deixa de ser curioso analisar como todos eles vieram, de alguma forma, ocupar um espaço que até agora (praticamente só) Milu preenchia, enquanto companhia, elemento de salvação e/ou de introdução de humor.
Voltando à questão do argumento, na construção da (longa) narrativa, veja-se como, em especial no primeiro álbum, ela funciona em blocos, de alguma forma autónomos, mas perfeitamente interligados e contribuintes imprescindíveis para o todo: a Feira da Ladra, a insistência pela caravela, a (fabulosa) recriação da história do Cavaleiro de Hadoque (com os paralelos entre o passado e o empolgado Haddock no presente), o carteirista, o rapto e prisão de Tintin, o confronto com os irmãos Pardal, a sua libertação.
E como, no segundo tomo, a tensão cresce, a expectativa aumenta, a curiosidade do leitor é incontrolável num relato em que, na verdade… se pode mesmo dizer que nada acontece! Porque se há uma busca a decorrer, sucedem-se os equívocos, os falhanços, as desilusões.
Tudo narrado com mestria, com uma técnica gráfica e narrativa inigualável, apurada, de uma enorme legibilidade, atraente e expressiva, aqui com um recurso pouco comum a vinhetas grandes. E com um perfeito controle do desenrolar das cenas, das atitudes das personagens, dos diálogos estabelecidos, com os momentos de tensão, de dúvida, de suspense a multiplicarem-se no final de cada prancha (a isso obrigava a publicação semanal em revista), sem uma quebra, um erro…
Tudo motivos para o leitor chegar ao final da leitura satisfeito, recompensado pelo tempo empregue. Tenha sido a primeira ou a vigésima vez que a fez.
E com a certeza que, depois deste díptico, nada ficou como dantes. Tintin, encontrou uma casa – o Castelo de Moulinsart – e uma família estável – Milu, Haddock, Girassol, os Dupond/t. As bases para o melhor período do herói – menos espontâneo, mais genial… - sobre o qual, possivelmente, virei a escrever (algumas vezes mais) aqui.

16/02/2011

Tintin – O Caranguejo das Tenazes de Ouro

Hergé (argumento e desenho)
Edições ASA (Portugal, Setembro de 2010)
160 x 220 mm, 62 p., cor, cartonado, 8,90 €


5 + 1 razões (entre muitas outras!) para ler este álbum:

1. Porque é nele que aparece pela primeira vez – tendo já um papel fundamental - o Capitão Haddock, futuro pilar do universo de Tintin…
2. … e, consequentemente, é nele que ouvimos pela primeira vez um chorrilho dos seus deliciosos insultos: “Canalhas!... Trastes!... Pés-descalços!... Trogloditas!... “Tchuk-tchuk-nougat”!”
3. Pela magnífica sequência da travessia do deserto feita por Tintin e Haddock ao longo de 6 (longas) páginas, com especial destaque para a cena final do pesadelo do repórter.
4. Aliás, aquela é uma das características desta história, a forma como Hergé prolonga e explora bem cada situação.
5. Porque é uma história bem construída e desenvolvida, com as diversas pistas soltas a encaixarem-se todas no final, com o ritmo, a acção, o suspense e o humor bem doseados.

+ 1. Porque… bem, vocês já sabem, é sempre um prazer (re)ler Tintin!

19/01/2011

Jo, Zette e Jocko

Os 75 anos dos “irmãos mais novos” de Tintin
Corria o ano de 1936. O sucesso de Tintin – então a viver a sua sexta aventura, “O Ídolo Roubado” – era crescente, mas não fazia a unanimidade. A prová-lo, chegava a Hergé uma carta de França, da revista católica “Coeurs Vaillants” que também publicava as aventuras de Tintin, pondo em causa o repórter de poupa, onde se lia que o herói “não ganha a sua vida, não vai à escola, não tem pais, não come, não dorme… Isso não é lógico”. E, em jeito de encomenda, desafiava Hergé a criar alguém “cujo pai trabalhe, que tenha uma mãe, uma irmã mais nova, um animal de estimação”, contou o desenhador numa entrevista a Numa Sadoul. Em suma, um bom exemplo para os jovens leitores da revista Aproveitando personagens criados para um trabalho publicitário, Hergé daria assim origem a Jo, Zette e Jocko (conhecidos em Portugal como Joana, João e o Macaco Simão), estreados há 75 anos, a 19 de Janeiro de 1936, na “Coeurs Vaillants”.
Juntos, até 1939 viveriam o tempo de três aventuras, entre o preto e branco, a bicromia e a cor, ou melhor, duas aventuras e meia porque “Jo et Zette au Pays du maharadjah”, só seria concluída 15 anos mais tarde, sob o título “O Vale das Cobras”, nos anos 1950, quando as restantes histórias foram remontadas, divididas e coloridas, totalizando assim a série cinco álbuns.
Os seus protagonistas eram dois irmãos, Joana e João, o pai, o engenheiro Legrand, a mãe, doméstica, e Simão, um macaco, o tal animal de estimação da “encomenda”.
Se o traço estava próximo do utilizado em Tintin, embora seja evidente uma menor entrega do desenhador, em termos narrativos a estrutura era também semelhante à dos álbuns de Tintin, com uma boa dose de ficção-científica, fruto da ocupação do pai. Apesar das bases da “encomenda”, em cada aventura a célula familiar era desfeita rapidamente, pois os miúdos metiam-se em enrascadas, geralmente relacionadas com a profissão do pai, deixando os progenitores em casa, aflitos e expectantes, aguardando o seu regresso de algum destino distante e exótico ou não tenham os heróis visitado a Ásia, a África e o Pólo Norte, em aventuras ingénuas e rocambolescas mas bem estruturadas. Apesar de alguns dos feitos destes “irmãos mais novos” de Tintin (especialmente a pilotagem de aeronaves e engenhos estranhos) soarem pouco credíveis dada a sua tenra idade.
O humor, muitas vezes fruto das intervenções bem-intencionadas mas trapalhonas do macaco Simão, está também presente em todos os relatos, em especial no derradeiro álbum, “O Vale das Cobras, no qual ocupa quase a metade inicial do relato, num longo intróito que poderia apontar para uma eventual inflexão narrativa da série que, no entanto, não teve continuidade.
A título de curiosidade, uma leitura atenta revelará uma série de sequências que parecem decalcadas de álbuns anteriores de Tintins (como o exemplo ao lado, retirados de “O Testamento do sr. Pump” e “Tintin na América”), como poderá facilmente comprovar quem quiser perder algum tempo. Ou melhor, ganhar, porque estas histórias resistiram ao passar do tempo e continuam-se a ler-se com bastante agrado.
Em Portugal, Jo, Zette e Jocko estrearam-se na revista Zorro, no número #89, a 20 de Julho de 1964, com “O Manitoba não responde”, que seria publicada até ao #140, iniciando-se no número seguinte “A erupção do Karamako”, que prosseguiria até ao Zorro #192, de 11 de Junho de 1966. As mesmas histórias seriam depois publicadas no suplemento “Quadradinhos” do jornal “A Capital”, a partir do número 14, de 5 de Junho de 1972. Cerca de 10 anos mas tarde, a Editorial Verbo publicaria integralmente a série em cinco álbuns, republicados mais tarde, entre 1997 e 2000.
A ASA, que actualmente está a reeditar As Aventuras de Tintin, ainda não tem prevista uma data para a reedição desta série, que a Casterman recuperou num único volume em 2008.








(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 19 de Janeiro de 2011)

10/01/2011

Selos & Quadradinhos (18)

Stamps & Comics / Timbres & BD (18)

Tema/subject/sujet:
Tintin à l’écran
País/country/pays: Bélgica/Belgium/Belgique
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: Agosto de 2011/August 2011/Août 2011

Nota: a primeira prancha de Tintin foi publicada há 82 anos, a 10 de Janeiro de 1929, nas páginas do Le Petit Vingtième.

Note: The first page of Tintin was published 82 years ago, the January 10, 1929, in the pages of Le Petit Vingtième.

Note: La première planche de Tintin a été publié il ya 82 ans, le 10 Janvier 1929, dans les pages du Petit Vingtième.

11/11/2010

Tintin #4 – Os Charutos do Faraó

Hergé (argumento e desenho)
Edições ASA (Portugal, Setembro de 2010)
160 x 220 mm, 142 p., cor, cartonado


4 (ou talvez mais...) +1 Razões para ler este álbum

1. A longa sequência inicial (até à página 32!), plena de movimento, acção, perseguições, mistério, suspense e humor! A mestria de Hergé no seu melhor no que à legibilidade e sequência narrativa diz respeito.

2. Duas sequências notáveis que fazem parte do melhor que Hergé fez em Tintin:
2a. O percurso no túmulo do faraó Kih-Oskh (pp.7-9), no qual Tintin descobre o seu próprio sarcófago e tem uma horrível alucinação provocada pela droga que o fazem inalar. Uma (curta e inesperada) mas autêntica sequência de terror!
2b. A bem construída cena da reunião da sociedade secreta (pp. 53-56) pelo elevado suspense criado e pela forma simples mas brilhante como é resolvida.

3. Pelas três cenas invulgares e de todo inesperadas no Tintin (sóbrio e mais adulto) que (mais tarde) nos habituámos a (re)conhecer (e a admirar):
3a. Tintin a “falar” com os elefantes (pp. 34-37);
3b. O artificio utilizado pelo herói para saltar o muro do hospício (p. 46);
3c. A forma como o repórter domina o tigre que ataca o marajá de Rawhajpoutalah (p. 51).

4. Porque, apesar de algumas derivações, esta é a primeira aventura de Tintin que segue uma linha condutora sólida e bem desenvolvida, desde o início até ao final.

+1. Já o escrevi aqui: qualquer razão é válida e boa para ler um álbum de Tintin.

20/09/2010

As Aventuras de Tintin repórter do “Petit Vingtième” no País dos Sovietes

Hergé (argumento e desenho)
Edições ASA (Portugal, Setembro de 2010)
160 x 220 mm, 142 p., cor, cartonado


5+1 Razões para ler este álbum

1. Para descobrir a “pré-história” de uma das mais importantes obras gráficas e literárias do século XX.

2. Como documento da forma de pensar de uma determinada época.

3. Para descobrir as influências do cinema (mudo) em Tintin.

4. Para descobrir como surgiu a poupa de Tintin.

5. Para admirar a única vez que Tintin foi visto a escrever uma reportagem.

+1. Qualquer razão é válida e boa para ler um álbum de Tintin.


10/09/2010

Tintin no Congo



Hergé (argumento e desenho)
Edições ASA (Portugal, Setembro de 2010)
160 x 220 mm, 64 p., cor, cartonado


Resumo
Segundo tomo das aventuras de Tintin, leva o reporter até ao antigo Congo belga, sob o pretexto de escrever uma série de reportagens.

Desenvolvimento
1. A obra
Esta é uma das mais ingénuas narrativas de Tintin, sem grande fio condutor, que quase se limita a ser uma sucessão de gags – alguns bem conseguidos - que têm por tema o confronto com os inimigos de Tintin, caçadas a animais exóticos ou encontros com a população local. Apesar disso, é uma obra de uma grande legibilidade, que em termos narrativos visuais revela já todas as (muitas) qualidades de Hergé.
Revisitada hoje, quase oitenta anos depois da sua génese, revela-se bastante datada e tem que ser encarada como tal, como um documento da forma de pensar de uma época. E é assim que deve ser lida. E é assim que deve ser analisado e compreendido o olhar complacente e de alguma superioridade de Tintin em relação aos negros e a atitude subserviente destes em relação ao herói que reconhecem e admiram.
Por isso, as variadas acusações de racismo e os múltiplos processos de que está a ser alvo em tribunal, apenas podem significar uma de duas coisas: ignorância por parte dos seus autores, ou uma vontade desmesurada de se colocarem em bicos de pés à custa da obra de Hergé…
E o mesmo se poderá dizer das acusações de desrespeito pelos direitos dos animais (seja lá isso o que for), feitas por umas tantas pessoas e organizações com demasiado tempo livre, face às matanças – nalguns casos bem divertidas – que Tintin vai cometendo.

2. O formato
Se o traço de Hergé é suficientemente legível e expressivo para aguentar bem a redução de tamanho adoptado pela ASA para esta sua primeira edição de Tintin, próximo do comic americano ou do próprio livro, a verdade é que qualquer redução de tamanho é penalizadora para a completa fruição de uma obra gráfica. Reconhecendo diversas vantagens ao actual formato (a começar pelo preço), pessoalmente, prefiro o tamanho tradicional.

3. A tradução
Esta edição da ASA apresenta também uma nova tradução. Sendo um dos álbuns de Hergé com menos texto, se num ou noutro balão poderia haver opções mais felizes (nalguns casos utilizadas na anterior edição da Verbo) globalmente fiz a sua leitura sem que nada me chocasse ou soasse especialmente mal.

26/04/2010

Tim-Tim repórter d’O Papagaio

Se a publicação de Tintin, a criação máxima de Hergé, ficou como o grande feito de O Papagaio, os seus leitores tiveram que esperar quase um ano, até ao nº 49, de 19 de Março de 1936, para o herói ser anunciado na revista, como seu repórter na “América do Norte, país civilizadíssimo, donde nos chegam as maiores invenções e belas afirmações de espírito artístico” mas que é também “infelizmente, um território onde o banditismo impera, no qual indivíduos da pior espécie e de todas as nacionalidades estabeleceram de há muito arraiais”. A Milu, seu companheiro de sempre, a revista trocava o nome e o sexo, anunciando-o(a) como “a cadelinha Pom-Pom” porque, explica José Azevedo e Menezes em “O Papagaio – Um estudo do que foi uma grande revista infantil portuguesa” (2ª edição, do autor, 2007), citando Dias de Deus: “nO Papagaio já havia uma Milu, Maria de Lurdes Norberto, que recitava e cantava aos microfones das emissões infantis; Simões Müller entendeu que não ficaria bem dar o nome de uma menina conhecida a uma cadela”… Dois números depois, em novo anúncio, já na capa, o seu nome passava a Rom-Rom mas o sexo trocado manter-se-ia até ao fim da revista. Também o Capitão Haddock e o professor Tournesol foram rebaptizados, passando, respectivamente, a Capitão Rosa e Professor Pintadinho…
Finalmente, no nº 53, logo na capa, com cores vivas (e hoje exageradas) começavam as “Aventuras de Tim-Tim na América do Norte”, pela primeira vez em policromia em todo o mundo. Sinal de outros tempos, o respeito pelos originais de Hergé era pouco ou mesmo nenhum, sendo normal as pranchas serem retalhadas e remontadas, em função do espaço disponível ou a ocupar. Artur Correia, autor português de BD, ainda em actividade, numa entrevista publicada no Mundo de Aventuras 248 (5ª série, de 1978) lembra que nO Papagaio “alargava juntamente com um talentoso moço chamado Soares, os desenhos das histórias do Tim-Tim para virem publicados na página central. Nós é que fazíamos os acrescentos para transformar uma página única numa dupla”...
Modificações que também se faziam sentir ao nível dos textos, a começar logo com “Tim-Tim na América”: na fase final da história, os operários ausentes da fábrica onde o herói sofre um atentado, em greve (proibida no nosso país) no original, tinham saído para almoço… Seguir-se-ia “Tim-Tim no Oriente” (Os Charutos do Faraó, publicado do #115 ao #161), no qual o vendedor de banha da cobra Oliveira de Figueira, o único figurante luso de relevo criado por Hergé, era apresentado como… espanhol! Depois, viriam as “Novas Aventuras de Tim-Tim” (“O Lótus Azul”, #166-#205) e a aventura africana do “repórter que nunca escreveu uma linha”, que o levou a pisar solo (colonial) português em “Tim-Tim em Angola” (“Tintin no Congo”, #209-#244). Já em “O Mistério da Orelha Quebrada” (#247-#298), o general Alcazar é rebaptizado de Manduca, para não ser associado ao episódio, então recente, do cerco do Alcazar de Toledo durante a Guerra Civil espanhola. No episódio seguinte, “A Ilha Negra” (#301-#359), o adversário do herói deixou de ser o Dr. Müller (para não ser entendido como piada ao então já ex-director da revista), transformando-se num banal Dr. Silva, e em “Tim-Tim no deserto” (“O caranguejo das tenazes de ouro”, #366-#426), Haddock, que no original se sentia mal depois de beber um copo de água (por não ser de uísque) nas páginas de O Papagaio, sente-se mal mas melhora depois de beber a água! A aventura seguinte (“A Estrela Misteriosa”, #435-#540) é publicada sem título e a presença de Tintin na revista portuguesa terminaria com “O Segredo da Licorne” (#617-#679).
Para além disso, Tintin surgiu em muitas capas de O Papagaio (cujas revistas correspondentes são hoje avidamente disputadas pelos coleccionadores), em desenhos originais ou feitos por autores portugueses, como boneco articulado de montar e mesmo noutras histórias, como é o caso da primeira aventura do “Boneco Rebelde”, de Sérgio Luiz e Guy Manuel, em que contracena com o protagonista nas páginas iniciais, e como despoletador da acção em “Na pista de Tim-Tim”, de Diniz de Oliveira e Rodrigues Neves.
Pelo meio, ficaram também as tentativas goradas de Simões Müller de o levar consigo para o “Diabrete” (o que só conseguiu após o fim de O Papagaio), onde teve de se contentar com “Trovão e Relâmpago” (aliás “Quick et Flupke”), inicialmente publicados sem conhecimento de Hergé, e o facto de parte dos direitos de Tintin terem sido pagos em géneros, mais exactamente em latas de sardinhas, enviados para a Alemanha onde estava preso o irmão do desenhador belga.

(Texto publicado no dia 17 de Abril de 2010 na revista NS, distribuída ao sábado com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)

25/01/2010

Efeméride – Quick e Flupke, dois diabretes octogenários


Se é normal associarmos o nome de Hergé a Tintin, a sua obra maior e uma das bandas desenhadas mais celebradas de sempre, o autor criou outros heróis, entre os quais Quick e Flupke, que há 80 anos eram vistos pela primeira vez em papel impresso. Tratava-se de dois pequenotes de Bruxelas – revisão ficcionada da própria infância de Hergé – juntos pela amizade, pela vontade de experimentar coisas novas e pela especial queda para provocar (pequenos) desastres.
A estreia ocorreu no “Le petit Vingtiéme” de 23 de Janeiro de 1930, pouco mais de um ano depois de Tintin, e as diferenças entre as duas criações eram significativas. Enquanto o repórter era (viria a ser…) longas aventuras, viagens, exotismo, justiça e ordem, Quick e Flupke não saíam da sua Bruxelas natal e viviam um quotidiano igual ao dos outros miúdos mas suas partidas provocavam o caos e desesperavam o Guarda 15, vítima recorrente das diabruras em duas pranchas.

O humor em Quick e Flupke, mais tarde decalcado em Tintin para os gags com Haddock ou Tournesol, raia muitas vezes o nonsense, pode ter conteúdos sociais ou politizados (como quando satirizam Hitler e Mussolini), representa-os como diabos (literalmente) e levava-os mesmo a chocar com os limites físicos das vinhetas ou a interagir com o desenhador.
E se o traço é o mesmo de Tintin, sente-se uma maior liberdade criativa e o privilegiar da eficácia estética e narrativa.
Com cerca de 250 pranchas publicadas (de forma irregular) durante uma década, Quick e Flupke tiveram uma nova vida nos anos 80, em versão animada e em álbuns redesenhados e coloridos pelos Estúdios Hergé, a partir das histórias originais. Esta última edição foi lançada em Portugal pela Verbo, com os heróis rebaptizados como Quim e Filipe.
(Artigo publicado originalmente no Jornal de Notícias de 23 de Janeiro de 2010)
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